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terça-feira, 17 de outubro de 2023

Passar de uma Igreja autorreferencial para uma Igreja servidora do Reino de Deus

Uma Igreja servidora (ACN)

PASSAR DE UMA IGREJA AUTORREFERENCIAL PARA UMA IGREJA SERVIDORA DO REINO DE DEUS

Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

**Artigo publicado por ocasião da participação de dom Pedro na Congregação Geral da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que teve início no dia 4 de outubro, em Roma.

Em uma época na qual declinou o projeto de “cristandade” é preciso voltar ao essencial e rever o exercício da missão. Ás vezes há muita Igreja e pouco Reino! O objetivo é o Reino, o demais são meios para se implantar o Reino. O Reino de Deus é a meta. Por muito tempo se identificou a Igreja com o Reino de Deus e assim ela se tornou absoluta, cedendo ao triunfalismo confundindo-se com o Reino.  São Paulo VI escreveu: “Só o Reino, por conseguinte é absoluto, e faz com que se torne relativo tudo o mais que não se identifica com ele” (S. Paulo VI in Evangelii Nuntiandi  8).  

A referência deve ser o Reino e não a Igreja em primeiro lugar. Ela é testemunha, anunciadora e portanto: sua servidora. Nela o Reino já está presente em germem. E povo de Deus aqui não é noção sociológica, mas teológica: Não só o povo pertence a Deus, mas Deus quis ter um povo: “Eles serão o seu povo e Ele será o Deus que está com eles” (Ap 21,3).  

O Novo Testamento inteiro está explícita, ou implicitamente construído sobre o tema do povo de Deus. É esta noção de Igreja Servidora do Reino como Povo de Deus Peregrino, povo Messiânico, que sustenta a sinodalidade.  

Vivenciar a eclesiologia do povo de Deus exige a humildade de passar de uma cristologia do Pantocrator para uma cristologia do Servo Sofredor de Javé. “Muito tempo antes de Paulo, foi no capítulo do Servo Sofredor (Is 53) que a comunidade das origens foi buscar a chave para penetrar o mistério profundo do Filho de Deus padecendo a morte ignominiosa de cruz” (J. Jeremias, O Povo de Deus, Paulus, S. Paulo, 2002, 29).  

De fato, entre as estruturas do mal, irrompe o Reino de Deus, sua metodologia não pode ser a do reino deste mundo. Jesus propõe a metodologia da bondade e do amor, da kénose, vencer o mal fazendo o bem. Assim, quem constrói o Reino e a comunidade é o Servo Sofredor, Jesus: “Pus nele meu espírito, ele levará o direito aos povos” (Is 42,1-2).    

Contra o Deus do messianismo popular dos zelotas Jesus opõe o Servo Sofredor. Contra o Deus dos Escribas e fariseus do templo, o Deus da misericórdia. É este caminho que a Igreja deve percorrer como o percorreu seu Senhor e Mestre (cf. LG 8). 

O descentramento da Igreja, fará com que a Igreja seja capaz de pensar na humanidade toda, mais que em si mesma e no seu poder. Fará também que ela não ceda à tentação de tomar o lugar de Cristo, seu Senhor, mas assim como ele fez seja servidora da humanidade. Uma Igreja misericordiosa e em saída. 

Só o Espírito Santo faz com que a Igreja compreenda o que humanamente é incompreensível: a sabedoria da cruz. Cruz que é a bandeira da Igreja.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF