Por Julia A. Borges - publicado em 22/10/23
Ao longo da vida, vamos criando dependências que não são nem sequer percebidas e vamos deixando de lado o único poder capaz de nos libertar.
A liberdade é o grau máximo de uma sociedade, e cada cidadão, ao longo da sua vida, vai buscando a sua autonomia, seja profissional, financeira ou pessoal. A importância que se dá pela soberania é construída desde os primeiros anos do indivíduo e seu entendimento também passa pela construção do entendimento de nacionalidade. Na escola, aprende-se sobre a independência do Brasil e há de ser comemorada tal data, assim como as sucessivas emancipações que a criança vai tendo ao longo de seu crescimento, até se tornar um adulto autossuficiente. Decerto é o apreço que existe para com a independência em seu sentido mais amplo.
A conquista da autonomia perpassa caminhos de aprendizado e muito trabalho para que, inseridos em uma sociedade capitalista, o valor monetário possa ser compatível às horas ofertadas de dedicação. Na virada para a vida adulta, o alvo se constrói na troca de serviço por dinheiro a fim de saborear a tão sonhada liberdade. Esse é o caminho percorrido pela maioria que acredita piamente na independência puramente social como fase mais elevada na escala da total soberania.
O grande problema é que toda essa dita liberdade é uma grande ilusão porque mesmo a conquista da independência requer a servidão para algo ou alguém. Se não há mais a dependência pelo dinheiro de seus pais, haverá a dependência pelo salário em seu emprego; se não há a dependência à nação soberana, haverá acordos específicos para a sobrevivência de um estado; se não há mais necessidade pela locomoção de transporte público, haverá a necessidade do carro particular.
Efetivamente não há como viver em uma redoma e acreditar que sua alforria seja completa. A diferença não está na existência ou ausência do fator de dependência, mas em quem ou o que você escolhe como o seu senhorio. Entender-se como escravo é o primeiro passo para a luta pela liberdade, afinal, se o indivíduo não se compreende como prisioneiro, como lutará pela sua libertação?
Ao longo da vida, vamos criando dependências que não são nem sequer percebidas e vamos deixando de lado o único poder capaz de nos libertar mesmo estando em uma prisão concretamente. Frequentemente, Paulo se refere a si mesmo como “prisioneiro de Cristo Jesus” (Ef 3, 1) e afirma que ser prisioneiro do Senhor é na verdade a sua vocação, e o seu chamado. Em outra passagem, agora em Jo 8, 32, o próprio Cristo afirma: “conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
A construção da plena independência é matéria cara atualmente, seja no âmbito político e social, seja concernente às questões privadas. Mas a grande disfunção que existe não é a simples e genuína vontade de ser livre, mas o entendimento do que realmente venha a ser a liberdade. É possível que se passe uma vida buscando por algo que já existia em você.
Jesus, ao colocar dois conceitos em uma mesma proposição – verdade e liberdade, queria evidenciar que uma concepção não existe sem a outra; há, portanto, entre essas duas ideias, uma forte correspondência: só há liberdade pelo caminho da verdade. E um pouco mais adiante, mas neste mesmo Evangelho de João, é possível entender claramente quem é a verdade: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
Cai por terra o entendimento de muitos ateus de que “a religião seja o ópio do povo”, como claramente evidenciou Karl Max ao avultar ainda mais as ideias anticristãs de Hegel, na Introdução à Crítica da Filosofia do Direito. A verdade é e sempre deverá ser o caminho escolhido pelo cristão, mas que fique bem claro que o entendimento do que venha a ser verdade não pode nunca se limitar às ideologias de grupos que tentam subverter ao verdadeiro caminho. É preciso entender que não se trata de variações de veracidades; nem tampouco de opiniões, porque como cristãos, somos chamados a viver e experimentar a única verdade que liberta e torna a paz possível mesmo em meio a um mundo com tantas guerras.
Fonte: https://pt.aleteia.org/
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