O perigo da caridade sem a
verdade
Há hoje uma forte tentação de se colocar a
caridade sem viver a verdade; e isso a desvirtua. Deus é amor, mas também é
justiça.
A verdade e a caridade são duas
virtudes fundamentais para a nossa salvação. Uma não pode ser vivida sem a
outra, desprezando a outra, pois uma perde o seu valor se não observar a outra.
Sem verdade não há verdadeira caridade e não pode haver salvação.
São Paulo disse que “a caridade
é o vínculo da perfeição” (Cl 3, 14); “A ciência incha, mas a caridade edifica”
(1Cor 8,1); “A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a
caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rom 13, 10); “Tudo o que fazeis,
fazei-o na caridade” (1 Cor 16, 14); “Mas, pela prática sincera da caridade,
cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4, 15).
Jesus disse: “Eu sou a Verdade”
(Jo 14,6). O Antigo Testamento atesta: Deus é fonte de toda verdade (Pr 8,7;
2Rs 7,28). Sua Palavra é a verdade. Deus é “veraz” (Rm 3,4). Em Jesus Cristo, a
verdade de Deus se manifestou plenamente. “Cheio de graça e verdade” (Jo 1,14).
São Paulo disse a S. Timóteo que
“Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade” (1Tm 2,4). Deus quer a salvação de todos pelo conhecimento da verdade.
O nosso Catecismo afirma com todas as letras:
“A salvação está na verdade”
(Catecismo n. 851).
“A Igreja é a coluna e o
fundamento da verdade” (1Tm 3,15). Sem a Igreja o edifício da verdade não fica
de pé.
São Paulo recomenda a São Tito:
“…firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar
segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem” (Tito 1,9). “O teu
ensinamento, porém, seja conforme à sã doutrina” (Tito 2,1). “…e mostra-te em
tudo modelo de bom comportamento: pela integridade na doutrina, gravidade”
(Tito 2,7).
Os discípulos viviam segundo
esta verdade de Deus. “Perseveravam eles na doutrina dos Apóstolos, na reunião
em comum, na fração do pão e nas orações” (At 2, 42).
Jesus mostrou toda a força da
verdade. “Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim
claro que as suas obras são feitas em Deus” (Jo 3, 21).
“Conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará” (Jo 8,23).
Jesus mostrou aos discípulos na
última Ceia, que o Espírito Santo é a fonte da Verdade; e é Ele que conduzirá a
Igreja `a “plenitude da verdade” em relação à doutrina. “Quando vier o
Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13).
A verdade de Jesus santifica:
“Santifica-os pela verdade. A tua palavra é a verdade” (Jo 17,17).
“Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade”
(Jo 17,19). Por tudo isso, Jesus veio ao mundo para dar testemunho da verdade:
“Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou
rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da
verdade ouve a minha voz” (Jo 18,37).
Muitos querem apenas o “Deus que
é Amor”, mas se esquecem do Deus que é também a Verdade. Esta é uma “porta
estreita” que muitos não querem entrar, mas é a “porta da vida” (Mt 7,13). A
Igreja é muitas vezes criticada exatamente porque não abre mão da verdade. Não
aceita fazer a caridade sem observar a verdade. Paulo VI disse que o mal do
mundo é “propor soluções fáceis para problemas difíceis”. São soluções que não
resistem a uma análise ética e moral porque não respeitam a verdade revelada.
Santo Agostinho recomendava com
sua sabedoria e santidade: “Não se imponha a verdade sem caridade, mas não se
sacrifique a verdade em nome da caridade”. Muitos querem ser bonzinhos e
sacrificam a verdade em nome da caridade; é o relativismo moral, que passa por
cima do que a Igreja ensina no Catecismo.
A caridade sem observar a
verdade é ser maquiavélico; isto é, aceitar que “os fins justificam os meios”.
São Tomás disse que a base da moral é esta: “Não é lícito fazer o bem por meios
maus”. Bento XVI disse na sua encíclica “Caritas in veritate” que: “a caridade
sem a verdade é sentimentalismo”.
Não posso, por exemplo, querer
fazer caridade com dinheiro roubado, ou tirado do narcotráfico. Não posso
ajudar os pobres usando da corrupção. Não posso, “por caridade” dizer a um
casal de segunda união que podem comungar, ou dizer a uma dupla de homossexuais
que o amor deles justifica a sua vida sexual. Não se pode dizer aos jovens que
namoram que o amor deles justifica o sexo antes do casamento. Não se pode
recomendar o uso da “camisinha” para evitar a AIDS, porque é um meio é mau,
imoral, que estimula o sexo fora do casamento. Não se pode promover a justiça
através da luta de classes, e do desrespeito às leis. Não se pode invadir
terras e casas dos outros para promover a justiça. Os fins não justificam os
meios. E isto acontece quando a caridade é vivida sem observar a verdade. E
assim por diante, vemos hoje muitos sacrifícios da verdade de Deus em nome de
uma “falsa caridade”.
A verdade norteia o bom uso da
caridade, para que ela não se desvirtue. Não se pode “fazer o bem através de um
fim mal”. Sem a verdade a caridade é falsa, e não pode haver salvação.
Prof. Felipe Aquino
Fonte: https://cleofas.com.br/
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