Deixar o trabalho no trabalho
Elisabetta
e Andrea são casados há quase dez anos e têm dois filhos pequenos. Até que
ponto é difícil para os pais descansarem um pouco quando terminam o trabalho?
21/11/2023
“Quando nos
casamos – diz Andrea – estávamos preparados para estar abertos à vida, mas os
filhos não vinham. Isto foi uma prova para nós, mas sabíamos que já éramos uma
família”. “Para nos tornarmos mais família – acrescenta Elisabetta – ajudou-nos
muito começar a rezar juntos”.
Depois de
cinco anos de casamento, chegou Pietro, após um período muito duro: “O meu pai
adoeceu e morreu em pouco tempo. O nascimento de Pietro foi um belo presente do
Senhor para nos aliviar daquela dor”.
“Graças às
políticas internas da empresa onde trabalho – diz Andrea, engenheiro de gestão
– pude ter uma longa licença parental com 100% de reembolso, uma verdadeira
raridade para os pais. Isto e a proximidade da família de Elisabetta
ajudaram-nos muito durante os primeiros meses de vida de Pietro”.
Os desafios
da rotina
Elisabetta,
dentista, trabalha em três consultórios diferentes, “mas há algum tempo deixei
de trabalhar aos sábados para ter um dia extra por semana, em que estou
totalmente ausente do trabalho. De fato, trabalhando com crianças, o meu
horário geralmente é incompatível com a minha presença em casa para estar com
os meus filhos depois da escola. Como muitos pais, tenho de lutar para não
trazer trabalho para casa, mesmo que só mentalmente”.
“Tendo
trabalhado em smartworking desde antes da pandemia – explica
Andrea – eu conhecia os desafios deste tipo de situação. Com a chegada de
Pietro e agora Costanza, a luta de cada dia de trabalho é para não andar
em multitasking entre os assuntos de trabalho e os da
família”.
Mas quais
são os momentos do dia em que se pode pensar, também com o Senhor? Para Andrea
é a Missa diária, “um momento de recarga no qual sou capaz de contextualizar o
que me espera”, enquanto que para Elisabetta são esses minutos distribuídos ao
longo do dia, “desde as pequenas orações ditas com Pietro à noite, até o
Ângelus”.
Um
instrumento que tem sido e é muito útil para Elisabetta e Andrea viverem a sua
vida familiar com mais empenho é o Family Enrichment, uma
oportunidade de estar com outros casais e partilhar os desafios da vida
familiar. “O método de estudo do caso utilizado no Family Enrichment permite
explorar realidades concretas. Por exemplo – explica Elisabetta – desde a
chegada de Costanza, Pietro começou a gritar. É reconfortante saber que isto
aconteceu a outros e compreender como viver esta situação”.
Meditar com
o Papa Francisco
No
horizonte do amor, essencial na experiência cristã do matrimónio e da família,
destaca-se ainda outra virtude, um pouco ignorada nestes tempos de relações
frenéticas e superficiais: a ternura. Detenhamo-nos no terno e denso Salmo 131,
onde – como se observa, aliás, noutros textos (cf. Ex 4, 22; Is 49, 15; Sl
27/26, 10) – a união entre o fiel e o seu Senhor é expressa com traços de amor
paterno e materno. Lá aparece a intimidade delicada e carinhosa entre a mãe e o
seu bebé, um recém-nascido que dorme nos braços de sua mãe depois de ter sido
amamentado. Como indica a palavra hebraica gamùl, trata-se dum
menino que acaba de mamar e se agarra conscientemente à mãe que o leva ao colo.
É, pois, uma intimidade consciente, e não meramente biológica. Por isso canta o
Salmista: “Estou sossegado e tranquilo, como criança saciada ao colo da mãe” (Sl
131/130, 2). Paralelamente, podemos ver outra cena na qual o profeta Oseias
coloca na boca de Deus, visto como pai, estas palavras comoventes: “Quando
Israel era ainda menino, Eu amei-o (...), Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o
nos meus braços (...). Segurava-o com laços de ternura, com laços de amor, fui
para ele como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me
para ele para lhe dar de comer” (Os 11, 1.3-4).
(Amoris
Laetitia, 28)
O amor de
amizade unifica todos os aspetos da vida matrimonial e ajuda os membros da
família a avançarem em todas as suas fases. Por isso, os gestos que exprimem
este amor devem ser constantemente cultivados, sem mesquinhez, cheios de
palavras generosas. Na família, “é necessário usar três palavras: com licença,
obrigado, desculpa. Três palavras-chave”. “Quando numa família não somos
invasores e pedimos “com licença”, quando na família não somos egoístas e
aprendemos a dizer “obrigado”, e quando na família nos damos conta de que
fizemos algo incorreto e pedimos “desculpa”, nessa família existe paz e
alegria”. Não sejamos mesquinhos no uso destas palavras, sejamos generosos
repetindo-as dia a dia, porque “pesam certos silêncios, às vezes mesmo em
família, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos”. Pelo
contrário, as palavras adequadas, ditas no momento certo, protegem e alimentam
o amor dia após dia.
(Amoris Laetitia, 133)
Fonte: https://opusdei.org/pt-br
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