"Na encarnação de Cristo na
história de maneira humana revela sua natureza também divina. No humano se
revela o divino. No divino, a humanidade de Cristo também se revela como modelo
também para toda a humanidade, revelando nossa natureza e dignidade, vocação
para a plenitude e a divindade."
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
Na catequese da
Audiência Geral de 26 de setembro de 2012, Bento XVI afirmava que
quando vivemos a liturgia com o olhar do coração dirigido ao Senhor, “o nosso
coração é como que subtraído à força de gravidade, que o atrai para baixo, e
eleva-se interiormente para o alto, para a verdade, para o amor, para Deus.
Como recorda o Catecismo da
Igreja Católica: «A missão de Cristo e do Espírito Santo
que, na liturgia sacramental da Igreja anuncia, atualiza e comunica o mistério
da salvação, prossegue no coração de quem ora. Os Padres espirituais comparam,
por vezes, o coração a um altar» (n. 2.655): altare Dei est cor
nostrum!”.
No programa
de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe uma
reflexão sobre a “Dimensão Antropológica do Rito Litúrgico”:
"Recentemente
aconteceu na capital gaúcha, no Brasil, o CONGRESSO INTERNACIONAL
TEOLÓGICO-LITÚRGICO. O evento que foi organizado pela Pontifícia Católica do
rio Grande do Sul e a Arquidiocese de Porto Alegre, refletiu também sobre as
dimensões antropológicas do culto, dos ritos, dos sacramentos, em especial da
liturgia. O professor gaúcho da PUCRS Dr. Frei Luiz Carlos Susin, OFM,
ministrou a palestra sobre “O RITO EM QUE HABITAMOS: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICAS
DO RITO”.
Frei Susin
disse que, “se a Liturgia é cume e fonte - utilizando-se a alegoria da montanha
– para se chegar ao cume não podemos esquecer a base, a própria montanha, os
fundamentos, os pilares antropológicos. Temos essa recuperação do caminho que
se fez em todo o século XX, começando com a necessidade de superar aquela
espiritualidade escolástica, barroca, que estava encerrada demais, que tinha
provocado uma esquizofrenia, separações entre diversos níveis de experiência
cristã, teologia, espiritualidade, liturgia, devoções. Temos que insistir nessa
recuperação dessa unidade. Isso se fez com o caminho do neotomismo, bem
produtivo, que desembocou em uma nova teologia que tinha essas três instâncias:
volta às fontes, diálogo com a cultura (sobretudo com a filosofia) e a dimensão
pastoral”, discursou o frade franciscano no Congresso. O conferencista apontou
Karl Rahner como um expoente de uma virada antropológica e que ele é um “saco
de pancada” quando não é bem lido. Por meio dele e outros, houve um esforço da
experiência humana com a experiência da graça e salvação.
Os últimos
séculos recuperam a experiência humana como lugar da experiência de Deus.
No século XX, a fenomenologia, o existencialismo tem buscado mais essa
experiência humana. Frei Susin afirmou assim: “Mas tudo isso ficou muito
reduzido ao sujeito, ao indivíduo e nós temos como recuperar isso mais no
sentido comunitário, no sentido social, que é muito o caminho que vínhamos
fazendo nos termos latino-americanos”. O palestrante falou da Trindade
econômica. Aqui precisamos explicar esse termo. O que é Trindade econômica? É a
presença de Deus Trino na economia da salvação, ou seja, no decorrer da
história salvífica. A palavra economia na Teologia não tem a ver com aspectos
financeiros, mas a pedagogia da revelação de Deus por etapas e gradativamente.
Susin, apontando o autor Rahner, que é tido como ter feito uma virada
antropológica, palestrou dizendo: “Em termos trinitários Karl Rahner expõe a
unidade entre a transcendência de Deus e a sua presença na história; a trindade
econômica e a trindade imanente e vice-versa, ou seja, pela trindade econômica
nós conhecemos realmente a Trindade de Deus, mas é pela história que conhecemos
a Deus. Assim como em termos cristológicos, também é bem conhecida a relação
que Karl Rahner elabora entre a Antropologia e a Cristologia, uma reclamando
para si a outra, proclamando assim o dogma cristológico central: Cristo
verdadeiramente humano e divino”. Na encarnação de Cristo na história de
maneira humana revela sua natureza também divina. No humano se revela o divino.
No divino, a humanidade de Cristo também se revela como modelo também para toda
a humanidade, revelando nossa natureza e dignidade, vocação para a plenitude e
a divindade.
O assessor
franciscano, frei Susin referenda também a Constituição conciliar Gaudium et Spes,
cuja memória de 60 anos também celebramos, afirmando assim: “No documento Gaudium
et Spes, o Concílio coroa essa Cristologia, dizendo: o mistério do ser
humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado. Cristo
manifesta plenamente o humano ao próprio ser humano e lhe descobre sua
altíssima vocação. É o humano descobrindo-se na humanidade do Filho de Deus”.
Para
concluir nosso aprofundamento, descrevo aqui uma estrofe de um canto litúrgico
composto por Pe. José Cândido da Silva, muito entoado nas liturgias no Brasil.
Uma bela cantiga que referenda o acabamos de dizer. Diz assim o cântico
intitulado “Caminhos percorremos” desse grande compositor brasileiro mineiro,
que também é autor de um dos hinos da Jornada Mundial da Juventude: “No
mistério de Deus Uno e Trino, o mistério do homem se encontra. Nosso
Deus no absoluto do amor, nos convida à fraterna união. Caminhos Percorremos, a
Igreja construindo, tentando restaurar, no homem nosso irmão, a imagem do
Senhor”. Sem dúvida um belíssimo canto litúrgico que revela a teologia da
Gaudium et Spes: “o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no
mistério do Verbo Encarnado”."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/
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