Dos Sermões de São Bernardo, abade
(Sermo 1 in
Epiphania Domini, 1-2: PL 133,
141-143)
(Séc. XII)
Na plenitude dos tempos, veio a nós a plenitude da divindade
Apareceu a bondade e a
humanidade de Deus, nosso Salvador (cf. Tt 3,4). Demos graças a Deus que nos dá
tão abundante consolação neste exílio, nesta peregrinação, nesta vida tão
miserável.
Antes de aparecer a sua humanidade, a sua bondade também se encontrava oculta; e, no entanto, esta já existia, porque a misericórdia do Senhor é eterna. Mas como poderíamos conhecer tão grande misericórdia? Estava prometida, mas não era experimentada e por isso muitos não acreditavam nela. Muitas vezes e de muitos modos, Deus falou por meio dos profetas (cf. Hb 1,1). E dizia: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). E o que respondia o homem, que experimentava a aflição e desconhecia a paz? Até quando direis paz, paz e não há paz? Por esse motivo, os mensageiros da paz choravam amargamente (cf. Is 33,7), dizendo: Senhor, quem acreditou no que ouvimos? (cf. Is 53,1).
Agora, porém, os homens podem acreditar ao menos no que vêem com seus olhos, pois os testemunhos de Deus são verdadeiros (cf. Sl 92,5); e para se tornar visível, mesmo àqueles que têm a vista enfraquecida, armou uma tenda para o sol (Sl 18,6).
Agora,
portanto, não se trata de uma paz prometida, mas enviada; não adiada, mas
concedida; não profetizada, mas presente. Deus Pai a enviou à terra, por assim
dizer, como um saco pleno de sua misericórdia. Um saco que devia romper-se na
paixão para derramar o preço de nosso resgate nele escondido; um saco, sim, que
embora pequeno estava repleto. Pois,
um menino nos foi dado (cf. Is 9,5), mas nele
habita toda a plenitude da divindade (Cl 2,9). Quando chegou a plenitude dos tempos, veio
também a plenitude da divindade.
Veio
na carne para se revelar aos que eram de carne, de modo que, ao aparecer sua
humanidade, sua bondade fosse reconhecida. Com efeito, depois que Deus
manifestou sua humanidade, sua bondade já não podia ficar oculta. Como poderia
expressar melhor sua bondade senão assumindo minha carne? Foi precisamente a
minha carne que ele assumiu, e não a de Adão, tal como era antes do pecado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário