NERO OU DOMICIANO?
Dom Fernando Arêas Rifan
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (RJ)
Os cristãos dos primeiros séculos discutiam
sobre escolhas dos chefes políticos? Certamente não. Era o tempo das
perseguições. Nero havia iluminado o seu anfiteatro com os corpos dos cristãos
embebidos em piche e incendiados. Domiciano, o segundo grande perseguidor, não
foi menos cruel. As perseguições duraram até o início do século IV.
Os Atos dos Apóstolos, primeiro livro de
História da Igreja, narra como era a vida dos primeiros cristãos: “Eles eram
perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do
pão (Eucaristia) e nas orações… Perseverantes e bem unidos, frequentavam
diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com
alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e eram estimados por todo o
povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram
salvas (At 2, 42-47).
Uma das joias da literatura cristã primitiva é a Carta a Diogneto, que assim descreve o perfil dos primeiros cristãos: “Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio. Assim como a alma está no corpo, assim os cristãos estão no mundo. A alma está espalhada por todas as partes do corpo; os cristãos, por todas as partes do mundo. A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo, mas não pertencem ao mundo. A alma invisível está contida num corpo visível; os cristãos são visíveis no mundo, mas a sua religião é invisível…”.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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