Arquivo 30Dias - 12/2010
O essencial é a oração
“Se a missão da Igreja não tiver raízes na oração, e por ela não for alimentada, jamais dará frutos e, como uma árvore que não recebe água, secará”. Palavras de Ramzi Garmou, arcebispo de Teerã dos Caldeus e presidente da Conferência Episcopal do Irã.
de Ramzi Garmou, arcebispo de Teerã dos Caldeus
Quais são as questões relevantes para o futuro das
nossas Igrejas no Oriente Médio? Durante o recente Sínodo dos Bispos sublinhei
em particular duas questões que agora gostaria de repetir.
Inicialmente eu tinha chamado a atenção sobre o risco para as nossas Igrejas de
serem étnicas e nacionalistas, de fecharem-se em si mesmas para conservar
cultura, língua e costumes próprios e de perder, deste modo, o sentido
missionário.
O segundo ponto referia-se à vida contemplativa e monástica. Sabe-se que tal forma de vida cristã nasceu no Oriente, no Egito, na Mesopotâmia, na Pérsia, e mais tarde passou para o Ocidente. No Irã tivemos períodos em que havia centenas e centenas de mosteiros. E se entre o século IV e o século XIII a Igreja do Oriente, que hoje chamamos Assírio-Caldeia, pôde chegar até a China, a Mongólia, a Índia e a outros países, foi graças à presença de mosteiros onde a vida de oração era muito fervorosa e profunda. Se a missão da Igreja não tiver raízes na oração, e por ela não for alimentada, jamais dará frutos e, como uma árvore que não recebe água, secará. Hoje nos nossos países no Oriente, infelizmente, assistimos ao desaparecimento dessa forma de oração e de vida cristã.
Na minha opinião, a principal razão dessa dolorosa condição é o enfraquecimento da nossa fé e a preferência dada a outras atividades, no lugar da oração. O perigo do ativismo ameaça os que fazem o trabalho pastoral e faz com que esqueçamos o essencial da nossa missão e consagremos muito tempo às coisas secundárias. Recordemo-nos do episódio evangélico de Marta e Maria. Foi o próprio Jesus que disse que Maria, sentada aos seus pés enquanto escuta as suas palavras, escolheu a parte melhor, escolheu o essencial.
O Evangelho evidencia com força o tempo que Jesus dedica à oração. Ele despedia-se das multidões que vinham vê-lo para se afastar e rezar sozinho, transcorria as noites em oração... Jesus não nos pede para fazer muitas coisas, mas para fazer o essencial. O trabalho pastoral e a oração são complementares entre eles. Ambos são necessários para que a missão dê seus frutos, frutos que permaneçam. Espero que com a ajuda do Espírito Santo, possamos restabelecer esta forma de vida cristã e eclesial nas nossas Igrejas e responder a essa necessidade tão concreta e urgente.
Os quatro bispos que formam a Conferência Episcopal do Irã participaram do Sínodo. Na nossa próxima reunião deveremos tentar colocar em prática as decisões e as orientações sinodais, de modo que o grão semeado no Vaticano possa crescer e dar frutos para a Igreja de Cristo no Irã.
A Constituição da República Islâmica do Irã reconhece oficialmente três minorias religiosas: cristãos, zoroastrianos e judeus. Nós temos a liberdade de realizar as nossas atividades religiosas dentro dos nossos lugares de culto sem poder testemunhar a nossa fé cristã publicamente. Considerando que gozamos de uma liberdade religiosa limitada, é preciso fazer de tudo para que esta liberdade sirva a animar e a aprofundar a fé dos fiéis e torná-los conscientes da sua missão no país.
A emigração dos cristãos não começou hoje, não começou com a chegada do regime islâmico, conta já com um século de história e aumentou de intensidade nos últimos anos. Na minha opinião, as razões são numerosas. Há uma de ordem econômica, como acontece em muitos países: o índice de desemprego no Irã é muito elevado, muitos não têm trabalho, sem salário e sem possibilidade de enfrentar as despesas diárias. A segunda é de ordem política, ligada à condição de conflito e de insegurança que reina nos países desta região, e que se agravou depois da injusta ocupação do Iraque por parte dos Estados Unidos e as ameaças destes últimos contra o Irã.
A terceira refere-se a uma agência judaica com sede nos Estados Unidos, chamada Hias, que há cerca de dez anos encarrega-se de facilitar a saída dos cristãos iranianos para levá-los aos Estados Unidos, passando pela Áustria. Usando essa via, um grande número de fiéis abandonou o Irã e outros preparam-se para fazê-lo. Não sei por que essa agência faz este tipo de trabalho, sei que é uma das causas da aceleração da emigração.
Sobre o diálogo inter-religioso, há o oficial entre a Santa Sé e o Irã. E várias vezes tive a oportunidade, tanto em Teerã como no Vaticano, de participar aos encontros do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. A importância deste confronto foi colocada em evidência pelas proposições do Sínodo. Parece-me que manter este diálogo seja um gesto de sabedoria, pois permite um melhor conhecimento recíproco e o consolidamento de amizades fundamentadas em um espírito de confiança. Como cristãos, acreditamos na ação do Espírito Santo, que age no coração de cada homem e leva-o à verdade revelada em Jesus Cristo. Um diálogo vivido na fé e na sinceridade pode acender a luz da fé nos corações dos que dele participam. Porém, gostaria de insistir na necessidade e na eficácia do diálogo na vida cotidiana. Em um país como o Irã – onde somos um pequeno rebanho cristão ao lado de uma maioria absoluta islâmica – é através das trocas assim simples e naturais que podemos testemunhar a nossa fé em Jesus Cristo. Todos os dias, no nosso trabalho, na escola, no ônibus ou na vizinhança, estamos ao lado dos nossos irmãos muçulmanos, e cabe a nós transformarmos tais ocasiões gratuitas em momentos nos quais anunciar o Evangelho, e isso é possível quando a nossa vida é animada todos os dias pelo amor ao nosso próximo.
Infelizmente o Sínodo, em duas semanas de trabalhos, não atribuiu suficiente relevância à difícil, crítica condição dos catecúmenos e dos neófitos no Oriente Médio. Frequentemente são afastados das próprias famílias, perseguidos pelos regimes e, o que é pior, sentem-se excluídos da Igreja, que não quer assumir nenhum risco. O Evangelho nos recorda que a perseguição e o martírio fazem parte da vida cristã e da missão da Igreja. Rezemos ao Espírito Santo, Espírito de coragem e de força, para que nos torne capazes de acolher os nossos irmãos e as nossas irmãs, que graças ao seu testemunho de vida consolidam a Igreja, corpo místico de Cristo.
Fonte: https://www.30giorni.it/
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