Por Isabella Almeida
postado em 16/12/2023
Brincar também faz parte da
educação e do desenvolvimento infantil. No entanto, especialistas advertem que
as crianças nos Estados Unidos passaram a brincar sem orientação ou com
ausência de alguém para guiar. Para eles, é fundamental estimular os jogos para
estímulo da cognição. Pesquisa detalhada, na revista Frontiers, com
1.172 pais norte-americanos revela que, embora reconheçam a relevância do
lúdico para o bem-estar infantil, há necessidade de conscientização sobre a
aprendizagem orientada pelo jogo em áreas como leitura e matemática.
Os pais ouvidos pela pesquisa
têm entre 18 e 75 anos, e os filhos, de 2 a 12 anos, demonstram preferência por
brincadeiras livres, considerando-as mais benéficas para a aprendizagem,
seguidas por brincadeiras guiadas, jogos e instrução direta. A escolaridade e
renda familiar influenciam essas percepções, com responsáveis mais instruídos e
com maior renda inclinados a valorizar a brincadeira livre como método mais
eficaz. Os pais de filhas meninas se mostraram mais propensos a classificar as
brincadeiras livres como mais educativas do que quem tinha meninos.
Apesar do consenso atual
destacar a eficácia da diversão guiada para habilidades STEM (ciência,
tecnologia, engenharia e matemática), a pesquisa mostra que muitos pais não
alinham suas percepções com as evidências científicas. A necessidade de educar
os responsáveis sobre a importância da brincadeira orientada é enfatizada,
especialmente quando se observa que o conhecimento sobre o desenvolvimento
cognitivo infantil está diretamente relacionado à valorização do lúdico.
Conforme a primeira autora do
trabalho, Charlotte Wright, do Laboratório de Linguagem Infantil da
Universidade Temple, nos EUA, houve um avanço em relação à postura parental ao
longo dos anos. "Até recentemente, as pessoas consideravam geralmente a diversão
o oposto do trabalho e da aprendizagem. O que vemos no nosso estudo é que esta
separação já não existe aos olhos dos pais: um desenvolvimento positivo",
reforçou, em comunicado.
Alerta
Embora deixar os pequenos livre
para se divertirem seja essencial, os especialistas enfatizam a brincadeira
guiada como uma abordagem mais eficaz para apoiar a aprendizagem em áreas
específicas, como leitura e STEM. A autora sênior, Kathy Hirsh-Pasek, professora
do Laboratório de Linguagem Infantil da Universidade Temple, na Pensilvânia,
nos Estados Unidos, sublinha que é preciso ajudar os cuidadores de crianças a
compreenderem a necessidade da diversão orientada.
"Para que eles possam criar
oportunidades de brincadeira guiada em experiências cotidianas, como lavar
roupa, passear no parque ou brincando com um quebra-cabeça. À medida que os
pais passam a encarar estes momentos como momentos de aprendizagem nas
brincadeiras diárias, os seus filhos prosperarão, ao mesmo tempo que se
divertirão mais sendo pais", frisou, em nota.
Segundo Lucas Benevides,
psiquiatra e professor de medicina do Centro Universitário Ceub, em Brasília,
esse tipo de atividade permite que as crianças explorem, experimentem e
entendam o mundo ao seu redor de maneira natural e intuitiva. "Durante a brincadeira
guiada, elas desenvolvem habilidades sociais, como a cooperação e a resolução
de conflitos, além de habilidades cognitivas, como a solução de problemas e o
pensamento criativo."
Difícil
A brincadeira guiada pode ser
feita em casa e na sala de aula e é iniciada pelo adulto, ao mesmo tempo que
permite que a criança conduza a sua aprendizagem para um objetivo específico —
conduzir a exploração e fazer as escolhas. Os autores deram um exemplo de
cenário: "O pai de uma criança diz: Gostaria de saber se podemos construir
uma torre alta com esses blocos. Ele segue então o exemplo do filho fazendo
perguntas para apoiá-lo, quando necessário, como: Nossa torre continua caindo
quando colocamos o bloco azul no fundo! Qual é outro bloco que poderíamos
tentar?"
Andressa Maceno, psicóloga
infantil do Hospital Santa Lúcia Sul, reforça que existem diversos jogos
educativos facilitadores do processo de aprendizagem e que é interessante
estimular a imaginação e a criatividade, com brincadeiras como
contação de histórias, que utilizam desenho livre, tintas ou colagem.
"Propor atividades que possam ser criadas juntas estimula a
criança ao entendimento da importância do estabelecimento de regras e limites,
como pedir ajuda para criar um circuito de competição em grupo. Brincadeiras
que contêm com a interação de grupo, tal qual pique-esconde ou batata quente.
Há também ações que estimulam a orientação espacial e do sensorial de
quente e frio."
Elias Balthazar, psicólogo,
fundador e CEO da plataforma Terapia de Bolso, ressalta que a prática pode ser
utilizada até mesmo na hora de chamar a atenção dos pequenos. "Pesquisar
uma história clássica ou animação que mostre uma lição de moral é muito mais
assertivo que dar cintadas. É importante, desenvolver amizade verdadeira com a
criança, as primeiras brincadeiras podem ser mais espontâneas para ver quais
são as atividades que ela mais se interessa. A diversão pode ser até na hora de
fazer um bolo, dar banho no pet, fazer a jardinagem ou lavar o carro. É sempre
possível se conectar com elas e ensinar uma nova visão."
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/
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