A Grande Mártir Anastácia, a Herborista,
«Alívio dos Cativos»
Comemoração: 22 de dezembro
Tradução: Ricardo Williams G. Santos
A grande mártir Anastácia nasceu em Roma e foi martirizada durante o
período de perseguições contra os cristãos perpetrado por Diocleciano entre os
séculos III e IV d.C. Seu pai era pagão e sua mãe convertera-se secretamente ao
cristianismo.
O mentor de
Santa Anastácia durante sua juventude era um cristão piedoso e erudito chamado
Crisógono (também celebrado em 22 de dezembro). Após a morte de sua mãe, seu
pai lhe oferecera em casamento, contra sua vontade, a um pagão de nome Públio.
Por recusar-se a consumar seu casamento com um pagão, e visando preservar sua
virgindade, Anastácia sofreu muito nas mãos do marido.
Sendo criada como cristã desde pequena, ela encontrava consolo ao
visitar as prisões romanas, para alimentar e cuidar daqueles que sofriam por
sua fé em Cristo. Nessas visitas, Santa Anastácia se disfarçava de mendiga, e
ia acompanhada apenas por um criado. Através de subornos, os guardas lhe
permitiam acesso livre aos prisioneiros.
Quando seu criado contou a Públio o que ela fazia, ele espancou a esposa
e a trancou em casa. Santa Anastácia então só mantinha contato com seu mentor,
Crisógono, através de cartas. Escrevendo sobre seu sofrimento, ele lhe
aconselhou a ser fosse paciente e aceitar a vontade de Deus, além de avisá-la
que Públio morreria no mar, o que não tardou a acontecer – algum tempo depois,
seu marido morreu afogado em um acidente com um navio que estava a caminho da
Pérsia. Após a morte do marido, ela passou a distribuir seus bens para os
pobres e necessitados.
Nesse tempo, a perseguição de Diocleciano tornou-se mais acirrada e
sangrenta. Crisógono, que não aceitou renunciar sua fé mesmo diante das ameaças
do imperador, que o interrogou pessoalmente, foi decapitado e teve o corpo
jogado ao mar. O corpo e a cabeça do santo mártir foram trazidos à praia pela
maré, e pela Divina Providência, seu corpo fora encontrado por um presbítero e
secretamente enterrado.
Após a morte de seu mentor, a santa ia de cidade em cidade para cuidar
de prisioneiros cristãos. Conhecedora das ervas medicinais da época, ela
cuidava dos ferimentos e aliviava o sofrimento dos cativos. Por causa de seu
talento médico, Santa Anastácia recebe em grego o título de Pharmakolytria
(“aquela que cura os venenos”), e por sua intercessão muitas pessoas foram
curadas dos efeitos nocivos de poções, venenos e outras substâncias malignas.
Em suas visitas ela conheceu uma jovem viúva romana chamada Teodota, que
se tornou sua auxiliar. Quando as autoridades descobriram que Teodota era
cristã, a levaram para a prisão.
Nessa época, Santa Anastácia estava na Ilíria (que corresponde
atualmente à Albânia e partes da Bósnia). Ao chegar na prisão e encontrar as
celas vazias, Santa Anastácia descobriu que eles haviam sido executados naquela
mesma noite. Tomada pela tristeza, ela começou a chorar. Os guardas perceberam
então que ela era cristã, e levaram-na para o governador[1] que, após
interrogá-la, tentou, por meio de ameaças de tortura, persuadir Santa Anastácia
a abrir mão de sua fé e oferecer sacrifício aos ídolos. Sem obter sucesso, ele
a enviou de volta a Roma, onde seria questionada por um sacerdote pagão chamado
Ulpiano.
O astuto pagão ofereceu duas opções a Santa Anastácia: uma vida de luxo
e riquezas ou temíveis sofrimentos. Ele lhe apresentou ouro, pedras preciosas e
roupas finas, e também seus instrumentos de tortura. Sem pensar duas vezes,
Santa Anastácia recusou-se a abrir mão de Jesus Cristo e escolheu o martírio.
Abismado pela escolha da prisioneira, ele lhe ofereceu três dias para
reconsiderar, não por pena, mas porque, arrebatado pela beleza da santa,
planejava violentá-la após esse período, caso ela não cedesse. Passados os três
dias, Ulpiano tentou saciar sua luxúria à força, mas assim que a tocou, ficou
imediatamente cego, e sua cabeça doía tanto que ele gritava como se estivesse
enlouquecido. Dizendo que fora amaldiçoado, ele exigiu ser levado a um templo
pagão para fazer um sacrifício a seus ídolos, mas morreu no caminho.
Após o episódio, Santa Anastácia foi libertada, e novamente junto com
sua assistente, voltou a cuidar de cristãos cativos. Porém, pouco tempo depois,
Teodota e seus três filhos foram presos novamente. Seu filho mais velho,
Evódio, desafiou corajosamente o magistrado, e foi espancado até a morte. Sua
mãe e seus irmãos, após longa tortura, foram queimados vivos – também no dia
22, celebramos os santos mártires Teodota e filhos.
Santa Anastácia foi capturada novamente e condenada à morte por
inanição. Ela ficou na prisão por sessenta dias sem alimento. Santa Teodota e
os filhos apareciam para ela todas as noites para lhe encorajar e dar forças.
Vendo que Santa Anastácia não sofrera no cárcere, o magistrado ordenou
que ela fosse afogada com outros prisioneiros, entre eles um presbítero [2]
chamado Eutiquiano.
Os prisioneiros foram postos em um barco que foi lançado em mar aberto.
Os soldados perfuraram o casco e partiram em outra embarcação. Então um anjo
apareceu para os prisioneiros na proa do barco e os guiou até uma praia. Ao
atingir terra firme devido ao milagre, os criminosos aceitaram Jesus Cristo e
foram batizados por Santa Anastácia e Santo Eutiquiano. Posteriormente, todos
foram recapturados e receberam a coroa do martírio.
Santa Anastácia foi presa a um poste e queimada viva. Seu corpo, que não
havia se carbonizado, foi recolhido por uma cristã chamada Apolinária, que a
enterrou no jardim de sua casa.
No século V as relíquias de Santa Anastácia foram transladadas para
Constantinopla, em uma igreja construída e dedicada à santa. Posteriormente
alguns de seus ossos foram transladados para o mosteiro de Santa Anastácia,
próximo ao Monte Atos, na Grécia, onde estão até hoje.
NOTAS:
[1] Muito provavelmente Santa Anastácia era uma patrícia, e não plebéia.
Do contrário, ela teria sido presa, e não levada para falar com o governador
distrital – esse era um privilégio apenas dos patrícios.
[2] Padre.
Fonte: www.oca.org
https://www.ecclesia.com.br/
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