Só o coração que ama corrige bem
Corrigir os erros dos outros – com amor e
ânimo de ajudar – é uma das melhores maneiras de compreendê-los!
Um dos aspectos mais nobres da
compreensão é saber corrigir.
Pode ser que alguém retruque:
“Espere um pouco. Fora o caso da educação das crianças, “corrigir” não é uma
espécie de ato de orgulho, de superioridade? Não seria mais próprio da
compreensão esforçar-se só em desculpar, relevar, não julgar; e focalizar apenas
o lado bom da pessoa?”
Não parece que Cristo pense
assim, tendo em conta que Ele nos diz: Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e
corrige-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão (Mt 18,15).
São Paulo dá o mesmo conselho:
Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós, que sois animados pelo
Espírito, admoestai-o em espírito de mansidão (Gl 6,1).
Jesus, depois de censurar a
pessoa que só enxerga o cisco no olho do irmão, fala do dever de corrigir: Tira
primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar o cisco do olho de teu
irmão (Mt 7,5).
Como vê, esse mesmo Jesus que
nos ama e nos desculpa com infinita misericórdia, nos manda corrigir,
precisamente porque quer, acima de tudo, o nosso bem. Por isso, porque nos ama,
não hesita em alertar, em corrigir, em repreender, ainda que isso doa, como fez
com os Apóstolos (cf. Mt 16,23 e 20,25-26).
– Quem é que não consegue
corrigir e ajudar com amor? O egoísta indiferente, aquele que diz: “Isso é lá
com ele, eu não me meto, que faça o que quiser… Se quer se afundar, que se
afunde”. E, quando o outro se afunda mesmo, tranquiliza-se pensando: “Foi ele
que quis, eu não tenho a culpa”.
– Também não ama o bastante (e,
por isso, não corrige) o mole de sentimentos, que acha que é bom com os outros
só porque passa por cima de tudo e tudo tolera. Nunca adverte nem corrige por
medo de magoar e perder a estima. A esse sentimental covarde, o Espírito Santo
diz no livro dos Provérbios: Melhor é a correção manifesta do que uma amizade
fingida (Pr 27,5).
– Pior ainda que o tolerante
mole é o psicólogo de araque que acha que corrigir é “traumatizar” ou tirar a
“liberdade” (Meu Deus! Quando deixaremos de ouvir essas patacoadas?).
– Como é evidente, também não
está em condições de corrigir cristãmente aquele que se irrita com os defeitos
da pessoa, dá bronca na hora e diz que está “cansado de aguentá-la”. O que esse
tal deve fazer é acalmar-se, ser humilde, calar e rezar pedindo a Deus o amor
que não tem. E, se a irritação virou raiva ou ódio, ir logo confessar-se da sua
séria falta de caridade.
Para corrigir fazendo o bem é
preciso ter afeto pela pessoa, saber desculpá-la no íntimo de nós, e sentir
pena quando vemos nela alguma coisa errada, porque pode lhe causar um mal.
Justamente quem quer o bem do próximo deseja dar-lhe a mão que ajuda.
Pense que não é obstáculo para
corrigir com eficácia o fato de sentir dificuldade em fazê-lo. Quase sempre
custa falar de um defeito diretamente com o interessado; é natural que soframos
com o receio de que – ainda que falemos com carinho – o outro não entenda e
possa se melindrar. Mas mesmo assim é preciso rezar, antes, e depois, falar. É
uma questão de coragem e de lealdade.
Seria deslealdade calar-se,
fingir, sorrir na cara e criticar pelas costas. Vem a propósito um episódio da
vida do célebre escritor Chateaubriand. Conta ele em suas Memórias que certa
vez o rei Luís XVIII da França lhe pediu sua opinião sobre uma medida que
acabava de adotar e sobre a qual Chateaubriand discordava. O escritor tentou
esquivar a resposta mas, perante a insistência do monarca, falou lealmente que
era totalmente contra: «Sire, pardonnez ma fidelité» (“Senhor, perdoai a minha
fidelidade”).
Pense que é especialmente falho
o pai, a mãe, o superior, o educador que, para evitar passar um mau bocado,
omite as correções devidas e deixa correr à deriva a vida dos que deveria
orientar. Falando desses comodistas, São Josemaria comentava: «Talvez poupem
desgostos nesta vida… mas põem em risco a felicidade eterna – a própria e a dos
outros – pelas suas omissões, que são verdadeiros pecados» (Forja, n. 577).
Retirado do livro: “Tornar a Vida Amável”. Francisco Faus. Ed. Cléofas e Cultor de Livros.
Fonte: https://cleofas.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário