A formação do clero e a Música
Sacra
A celebração da Liturgia das Horas
Segundo a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, «à formação
para o culto eucarístico deve estar intimamente unida a formação para o Ofício
divino, mediante o qual os sacerdotes ‘rezam a Deus em nome da Igreja e em
benefício de todo o povo que lhe está confiado, mais, em favor de todo o
mundo’». Considero oportuno mencionar isto, porque na celebração da Liturgia
das Horas é usado com frequência o canto e a música.
O Instrumentum laboris do VIII Sínodo dos Bispos sobre a formação dos
sacerdotes, de 1990, afirmava: «A Liturgia das Horas é uma das maiores
expressões da oração litúrgica. Através de uma iniciação gradual a esta oração
das horas, o candidato aprenderá a dar um ritmo aos dias marcados por uma
celebração na qual se exprime e se renova a sua fé. Saboreando os elementos de
cada ‘hora’, ele poderá integrar progressivamente vida e oração a título
pessoal e em nome da Igreja, para o povo que lhe está confiado e para todo o
mundo».
Na formação seminarística, deve-se portanto evitar que na celebração da
Liturgia das Horas, quer comunitária quer individual, se reduza esta oração à
obrigação formal realizada mecanicamente como uma leitura rotineira e acelerada
sem dedicar a atenção necessária ao significado do texto. Os seminaristas
deveriam ser adequadamente introduzidos nela de maneira que se habituem a
apreciar, a compreender e a amar cada vez mais as riquezas do Ofício e, ao
mesmo tempo, aprendam a tirar dele um alimento para a oração pessoal e para a
contemplação. O canto pode servir de ajuda (ou se for mal feito, de obstáculo)
para a sua consecução.
Nos seminários devem ser habitualmente celebradas em comum, à hora
correspondente, as Laudes, como oração da manhã, e as Vésperas, como oração da
tarde. Também se pode celebrar a Hora média e as Completas. Na vigília das
solenidades, por vezes pode-se celebrar o Ofício das leituras segundo o rito da
«vigília prolongada». A celebração comum muitas vezes é louvavelmente cantada.
A formação litúrgica adequada
Em ligação com quanto expus, é preciso observar que o futuro sacerdote,
através da participação na vida litúrgica no seminário durante os anos da sua
formação inicial, recebe uma autêntica «educação litúrgica, no sentido pleno de
uma inserção vital no mistério pascal de Jesus Cristo morto e ressuscitado,
presente e atuante nos sacramentos da Igreja». Ele aprende progressivamente,
por experiência, o que é a liturgia da Igreja, e deve ser ajudado para
descobrir a riqueza dos ritos da Igreja, das orações dos livros litúrgicos, dos
textos dos diversos leccionários. Deve ser apoiado no processo de aprender a
apreciar a beleza das orações, do lugar de culto, dos paramentos, da qualidade
da música e dos cantos.
Sob a direcção dos superiores e, particularmente, do responsável da
liturgia, o aluno realiza alguns serviços, alguns ministérios – de leitor, de
acólito, de diácono –, à medida que se aproxima da Ordenação sacerdotal.
Existem também outros serviços litúrgicos, por exemplo o de cantor, de
salmista, de mestre de coro, de organista.
Os seminaristas, em pequenas equipas – por exemplo. por uma semana –,
são encarregados de preparar a liturgia da Missa e do Ofício divino, escolhendo
alguns cantos, as melodias e algumas tonalidades para a salmodia, tendo em
consideração a sua qualidade, os diversos tempos litúrgicos e o grau de
solenidade da liturgia do dia.
Os programas de estudo incluem, de facto, um específico ensinamento
litúrgico, em relação ao qual a Congregação para a Educação Católica deu
algumas normas e indicações. Este ensino da liturgia é necessário, mas só será
verdadeiramente frutuoso se for interiorizado pelo próprio seminarista. Por
isso, insiste-se muito para que o futuro sacerdote adquira não só o
conhecimento técnico dos sagrados ritos, mas sobretudo o seu profundo
significado teológico e espiritual.
A formação musical
Além dos elementos acima expostos, que constituem um pressuposto
substancial para a compreensão da música sacra como parte integrante da
liturgia e não só como um elemento decorativo ou como um ornamento que se
acrescentaria à ação litúrgica, o Magistério e a normativa da Igreja fornecem
aos seminaristas e aos formadores dos Seminários indicações oportunas.
Formação específica nos seminários
Todos os documentos mencionados têm obviamente uma importância
fundamental para uma boa formação musical dos seminaristas.
A Congregação para a Educação Católica emanou em 1979 uma Instrução
sobre a formação litúrgica nos Seminários. Nela, entre outras coisas, lemos:
«Considerando a importância da música sacra nas celebrações litúrgicas, os
alunos devem receber de peritos aquela preparação musical, também prática, que
será necessária no futuro ofício de presidentes e de moderadores das
celebrações litúrgicas. Nesta preparação deve ter-se em consideração as
qualidades naturais de cada um dos alunos, e servir-se dos novos meios hoje
geralmente em uso nas escolas de música, para tornar mais fácil o
aproveitamento dos alunos. Deve-se, sobretudo, procurar que aos alunos seja
dada não só uma preparação na arte vocal e instrumental, mas também uma
verdadeira e autêntica formação da mente e do coração, para que conheçam e
apreciem as melhores obras musicais do passado e saibam escolher, na produção
moderna, o que é sadio e reto» .
No campo prático, requer-se a aprendizagem dos diversos cantos usados na
liturgia. Por conseguinte, os seminaristas deveriam participar regularmente nas
lições de canto previstas pelo programa dos estudos.
Os seminaristas que são dotados de boas capacidades musicais podem ser
convidados a desenvolver os seus talentos, por exemplo como organistas, ou para
aprenderem a dirigir um coro ou uma assembleia. Para isso, pode-se também
aproveitar de sessões de formação durante as férias.
Algumas festas do seminário podem ser assinaladas, além da celebração da
liturgia, também pela execução de certas obras musicais: cantos polifónicos,
concertos de órgão ou de música instrumental, haurindo do rico património
musical da Igreja. Trata-se do património no qual é desejável que os
seminaristas sejam introduzidos.
Participando no seminário numa liturgia de qualidade, na qual o canto e
a música têm todo o seu lugar, e beneficiando de uma formação musical dada por
pessoas competentes, o futuro sacerdote prepara-se progressivamente para a sua
responsabilidade litúrgica como celebrante da Eucaristia e dos outros
sacramentos, como pastor e guia da oração das comunidades das quais será
encarregado. Ele aprende progressivamente a discernir o que é belo, o que
convém ao culto divino, o que é conforme com o espírito da ação litúrgica, o
que permite traduzir a verdade do mistério celebrado, o que contribui
autenticamente para a glorificação de Deus e para a santificação dos fiéis, o
que favorece a oração dos cristãos e a sua «participação plena, consciente e
ativa» na liturgia. Graças a esta formação musical, o futuro sacerdote aprende
a dar todo o seu lugar à música nas celebrações, «tendo em conta tanto o
carácter próprio da liturgia como a sensibilidade do nosso tempo e as tradições
musicais das diversas regiões do mundo».
Por Cardeal Zenon Grocholewski
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