Educar o coração
Os
sentimentos formam-se especialmente durante a infância. Aprende-se a amar desde
pequeno e os principais mestres são os pais, como se salienta neste artigo
sobre a família.
21/08/2012
FACILITAR A
PURIFICAÇÃO DO CORAÇÃO
Na
constituição do homem, as paixões têm como finalidade facilitar a ação
voluntária, mais do que desvanecê-la ou dificultá-la. «A perfeição moral
consiste em que o homem não seja movido ao bem apenas pela sua vontade, mas
também pelo seu apetite sensível de acordo com estas palavras do salmo: “O meu
coração e a minha carne gritam de alegria para o Deus vivo” (Sl 84,3)»[5].
Por isso, não é conveniente querer suprimir ou “controlar” as paixões, como se
fossem algo mau ou recusável. Embora o pecado original as tenha desordenado,
não as desnaturalizou, nem as corrompeu de um modo absoluto e irreparável. É
preciso orientar a emotividade de modo positivo, dirigindo-a para os bens
verdadeiros: o amor a Deus e aos outros. Daí que os educadores, os pais em
primeiro lugar, devam procurar que o educando, na medida do possível, desfrute
fazendo o bem.
Formar a
afetividade requer, em primeiro lugar, facilitar que os filhos se conheçam, e
que sintam, de um modo proporcional à realidade que despertou a sua
sensibilidade. Trata-se de ajudar a superar, a transcender, aquele afeto até
ver na sua justa medida a causa que o provocou. Talvez o resultado dessa
reflexão seja a tentativa de influenciar positivamente para modificar tal
causa; noutras ocasiões – a morte de um ser querido, uma doença grave – a
realidade não se poderá mudar e será o momento de ensinar a aceitar os
acontecimentos como vindos da mão de Deus, que nos ama como um Pai ao seu
filho. Outras vezes, a propósito de uma irritação, de uma reação de medo, ou de
uma antipatia, o pai ou a mãe podem falar com os filhos, ajudando-os a entender
– na medida do possível – o motivo dessa sensação, de modo a poderem superá-la;
assim, conhecer-se-ão melhor a si próprios e serão mais capazes de pôr o mundo
dos afetos no seu lugar.
Além disso,
os educadores podem preparar a criança ou o jovem para que reconheça – neles
próprios e nos outros – um determinado sentimento. É preciso criar situações,
como as histórias da literatura ou do cinema, através das quais seja possível
aprender a dar respostas afetivas proporcionadas, que colaborem para modelar o
mundo emocional do homem. Um relato interpela quem o vê, lê ou escuta e move os
seus sentimentos numa determinada direção e acostuma-o a um determinado modo de
olhar a realidade. Dependendo da idade – neste sentido, a influência pode ser
maior quanto menor for a criança – uma história de aventuras, ou de “suspense”,
ou então um relato romântico, podem contribuir para reforçar os sentimentos
adequados perante situações que objetivamente os merecem: indignação frente à
injustiça, compaixão pelos desvalidos, admiração com respeito ao sacrifício,
amor diante da beleza. Contribuirá, além disso, para estimular o desejo de
possuir esses sentimentos, porque são belos, fontes de perfeição e de nobreza.
Bem
orientado, o interesse pelas boas histórias também educa progressivamente o
gosto estético e a capacidade de discriminar as que possuem qualidade. Isto
fortalece o sentido crítico e é uma ajuda eficaz para prevenir a falta de tom
humano, que por vezes degenera em vulgaridade e em descuido do pudor. Sobretudo
nas sociedades do chamado primeiro mundo, generalizou-se um conceito de
“espontaneidade” e “naturalidade” que com frequência é alheio ao decoro. Quem
se habitua a esse tipo de ambientes – independente da idade – acaba por
rebaixar a sua própria sensibilidade e animalizar (frivolamente) suas reações
afetivas; os pais devem comunicar aos filhos uma atitude de recusa da
vulgaridade, também quando não se fale de questões diretamente sensuais.
De resto, convém recordar que a educação da
afetividade não se identifica com a educação da sexualidade: esta é apenas uma
parte do campo emocional. Mas, certamente, quando se conseguiu criar um
ambiente de confiança na família será mais fácil que os pais falem com os
filhos sobre a grandeza e o sentido do amor humano e lhes dêem, pouco a pouco,
desde pequenos, os recursos – através da educação dos sentimentos e das
virtudes – para orientar adequadamente essa faceta da vida.
J.M. Martín, J. Verdiá
[5] Catecismo
da Igreja Católica, n. 1770.
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