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quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Educar o coração (1/3)

Foto: Twistiti

Educar o coração

Os sentimentos formam-se especialmente durante a infância. Aprende-se a amar desde pequeno e os principais mestres são os pais, como se salienta neste artigo sobre a família.

21/08/2012

A educação é um direito e um dever dos pais que prolonga, de algum modo, a geração; pode-se dizer que o filho, enquanto pessoa, é o fim primário para o qual tende o amor dos esposos em Deus. A educação aparece, assim, como a continuação do amor que trouxe a vida ao filho, onde os pais procuram dar-lhe os recursos para que possa ser feliz, capaz de assumir o seu lugar no mundo com elegância humana e sobrenatural.

Os pais cristãos vêem em cada filho uma mostra da confiança de Deus e educá-los bem é – como dizia S. Josemaria – o melhor negócio; um negócio que começa na concepção e dá os seus primeiros passos na educação dos sentimentos, da afetividade. Se os pais se amam e vêem no filho o cume da sua entrega, educá-lo-ão no amor e para amar; dito de outro modo: cabe aos pais, em primeiro lugar, educar a afetividade dos filhos, normalizar os seus afetos, conseguir que sejam crianças serenas.

Os sentimentos formam-se de um modo especial durante a infância. Depois, na adolescência, podem produzir-se as crises afetivas e os pais devem colaborar para que os filhos as solucionem. Se quando eram pequenos foram criados calmos, estáveis, superarão com mais facilidade esses momentos difíceis. Além disso, o equilíbrio emocional favorece o crescimento dos hábitos da inteligência e da vontade; sem harmonia afetiva, é mais difícil o desenvolvimento do espírito.

Logicamente, uma condição imprescindível para edificar uma boa base afetivo-sentimental é que os pais procurem aperfeiçoar a sua própria estabilidade emocional. Como? Melhorando o convívio familiar, cuidando da sua união, demonstrando – com prudência – o seu amor mútuo diante dos filhos. No entanto, por vezes tendemos a pensar que os afetos ou os sentimentos transbordam o âmbito educativo familiar; talvez porque parece que são algo que acontece, que escapa ao nosso controle e não podemos alterar. Chega-se, inclusive, a vê-los numa perspectiva negativa; pois o pecado desordenou as paixões e estas dificultam o agir racionalmente.

NA ORIGEM DA PERSONALIDADE

Esta atitude passiva ou mesmo negativa, presente em muitas religiões e tradições morais, contrasta fortemente com as palavras que Deus dirigiu ao profeta Ezequiel: dar-lhes-ei um coração de carne, para que sigam os meus preceitos, guardem as minhas leis e as cumpram [1]. Ter um coração de carne, um coração capaz de amar, apresenta-se como uma realidade criada para seguir a vontade divina: as paixões desordenadas não seriam tanto um fruto do excesso de coração como a consequência de possuir um mau coração, que deve ser curado. Cristo assim o confirmou: o homem bom, do bom tesouro do seu coração retira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal: porque a boca fala da abundância do coração[2]. Do coração do homem saem as coisas que o fazem impuro[3], mas também todas as coisas boas.

O homem necessita dos afetos, pois são um poderoso motor para a ação. Cada um tende para o que lhe agrada e a educação consiste em ajudar a que essas tendências coincidam com o bem da pessoa. Cabe comportar-se de modo nobre e com paixão; o que há de mais natural do que o amor de uma mãe pelo seu filho? E como esse carinho estimula a tantos atos de sacrifício, levados com alegria! E, diante de uma realidade que, por qualquer motivo, é desagradável, quão mais fácil é evitá-la! Num determinado momento, aperceber-se da “fealdade” de uma ação má, pode ser um motivo mais forte para não cometê-la do que milhares de raciocínios.

Evidentemente, isto não deve confundir-se com uma visão sentimentalista da moralidade. Não se trata de que a vida ética e o trato com Deus devam abandonar-se aos sentimentos. Como sempre, o modelo é Cristo: n’Ele, perfeito Homem, vemos como os afetos e as paixões cooperam no reto agir: Jesus comove-Se diante da realidade da morte e faz milagres; em Getsêmani, encontramos a força de uma oração que dá origem a sentimentos vivíssimos; invade-O inclusive a paixão da ira – boa neste caso – quando restitui ao Templo a sua dignidade [4]. Quando se deseja algo verdadeiramente, é normal que o homem se apaixone. Pelo contrário, é pouco agradável ver alguém fazer as coisas só por fazer, com descaso, sem pôr nelas o coração. Mas isto não significa deixar-se arrastar pelos afetos; se bem que o mais importante é pôr a cabeça no que se faz, o sentimento dá cordialidade à razão, faz com que o bom seja agradável; a razão – por seu lado – proporciona luz, harmonia e unidade aos sentimentos.

J.M. Martín, J. Verdiá

[1] Ez 11, 19-20.

[2] Lc 6, 45.

[3] Cfr. Mc 7, 20-23.

[4] Cfr. Mc 5, 40-43; 14, 32ss; 11, 15-17.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF