SÓ O REINO É VALOR ABSOLUTO
Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)
Nestes primeiros dias do novo ano, somos
animados pelo desejo de renovação, afirmação e definição com os negócios e com
a vida natural. Todos temos sonhos. A vida sem sonho é tomada de desânimo e
empobrece as relações no âmbito do trabalho. A sociedade, muito dinâmica e
acelerada, impõe conceitos e definições que podem alterar valores essenciais
como: a paciência, o silêncio, a amizade, a convivência, o respeito
mútuo, o saber acolher e cuidar.
As atitudes fundamentalistas sufocam as boas
relações porque não permitem um olhar diferente e muito menos os diferentes ao
seu redor.
A cultura do nacionalismo radical empobrece a
convivência de cidadãos e a justa medida para com os de fora, ou seja, de
outras culturas. Nínive caminhava assustadoramente para um nacionalismo
totalitarista. Jonas foi enviado por Deus para superar o fundamentalismo e
aceitar a conversão. O profeta, tomado de preconceito, fugiu do Senhor, mas a
baleia o engoliu e segurou por três dias, o mesmo tempo que levaria para
atravessar a cidade. Sabedor da manifestação divina por esse sinal, o profeta
obedece, assume o desafio, entende que Deus acolhe todos os povos e Nínive se
converte.
O ser humano amadurece na medida quando se
coloca em silêncio, ouve, obedece, aceita a manifestação de Deus em sua vida.
Através do amor, do diálogo, da sensibilidade humana, o coração se abre para
novas perspectivas e o Espírito de Deus vai abrindo caminhos, o ser humano
trilha por veredas desconhecidas, vislumbra novos horizontes, novas
perspectivas. O novo nasce porque a mente é criativa. Deus criador, inspira a
criatura humana para criar novas relações que já fazem parte do Deus humanado,
seu Filho que veio ao mundo para revelar seu Reino de amor.
Com Jesus, novos mensageiros são convocados, e
com a presença do Messias, o chamado é logo acolhido. Enquanto no velho tempo,
com Jonas, há fuga, descrença em primeiro momento, agora com a presença do
Filho de Deus, o chamado é aceito de imediato: “E eles, deixando imediatamente
as redes, seguiram a Jesus” (Mc 1,18).
Jesus aponta para uma sociedade mais
universal, aberta às novas culturas, pronta para conhecer novas realidades,
pessoas diferentes. A sinodalidade é o caminho que o Papa Francisco traçou para
que o ser humano saiba construir pontes de unidade e solidificar o ambiente
saudável de unidade entre os povos. Não há espaço para guerras entre
nós. Os tempos messiânicos são complementares com o anúncio da noite
de Natal:, “paz na terra aos homens de boa vontade”. Somos
chamados para nos desarmarmos, unir, fabricar instrumentos para a educação, a
espiritualidade libertadora, para produzir alimentos puros e saudáveis, para
ensinar as novas gerações a cultura do encontro, do diálogo, da convivência e
da sensibilidade humana.
O tempo é curto, passa depressa de pressa.
São Paulo alerta aos coríntios que não percam tempo com vaidades e desavenças.
A qualquer hora o Senhor virá e o que Ele encontrará? Como nos apresentaremos
diante Dele? São milhares de pessoas que morrem repentinamente sem o
devido tempo de para se preparar para o encontro com o Senhor:
“Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado… Pois a figura deste mundo passa”
(1Cor 7,29.31b).
Que ao iniciarmos este novo ano, estejamos
inteiramente ligados ao Senhor que nos chama para uma vida justa, e digna.
Que saibamos aproveitar o tempo com as coisas agradáveis que edificam as
relações fraternas entre nós.
A razão profunda da vida humana é caminhar
rumo ao Reino definitivo, construindo uma vida saudável com amor, ternura e
justiça.
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