CADERNOS DO CONCÍLIO – VOLUME 3
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Cadernos do Concílio – Volume 3
A Tradição
O terceiro volume do compêndio Cadernos do
Concílio Vaticano II trata sobre a Tradição, ou seja, a tradição é tudo aquilo
que a Igreja guarda como verdade de fé, perpassando pelos ensinamentos de Jesus
e dos apóstolos e a Igreja guarda até aos dias de hoje. Toda a doutrina da
Igreja é com base na tradição, seja o Catecismo da Igreja, o Código de Direito
Canônico, a doutrina social e moral, e outros documentos da Igreja. A Tradição
é considerada o “depósito da fé”.
Esse depósito da fé também chamado de
Revelação, ou seja, revelação de tudo aquilo que Deus falou por meio dos
patriarcas e profetas, Jesus e os apóstolos. Tudo isso foi guardado com carinho
pela Igreja e ensinados nos primeiros séculos quando deu início a Igreja
primitiva. Dessa forma a Tradição tem muito mais de dois mil anos, vem desde o
Antigo Testamento, a Igreja guardou tudo isso, e até hoje é passado para todos
os fiéis.
Como acompanhamos nos evangelhos Jesus
ensinava como quem tem autoridade, ou seja, vivia aquilo que Ele pregava. Por
isso, nos dias de hoje somos chamados a seguir os ensinamentos de Jesus que
depois foi passado aos apóstolos e hoje fazem parte da Tradição da Igreja.
Inclusive os textos bíblicos sobretudo os evangelhos e demais livros do Novo
Testamento foram aprovados pela Tradição e Magistério da Igreja.
Quando acontece o Sínodo dos Bispos ou até
mesmo quando acontece concílios, é o Magistério da Igreja que aprova os
documentos estudados ao longo do Concílio ou do Sínodo. Ao longo da história da
Igreja aconteceram alguns concílios e alguns marcantes como por exemplo: Nicéia
e Constantinopla. Desses dois Concílios, a Tradição e o Magistério da Igreja
aprovaram o “Credo Niceno-Constantinopolitano”. Outros concílios com decisões
importantes do Magistério da Igreja foram o de Jerusalém e o de Trento. Nesse último
aconteceu, por meio da Tradição e Magistério da Igreja, a reforma litúrgica e
ministerial. Por fim, outros dois concílios marcantes para a história da Igreja
foram o Concílio Vaticano I e o Concílio Vaticano II. Esse último objeto de
nosso estudo, completando ano que vem sessenta anos de seu término, tiveram
vários documentos aprovados pela Tradição e Magistério da Igreja, além da
grande reforma litúrgica e ministerial, também aprovadas pelo Magistério e
Tradição da Igreja.
Mesmo passados quase sessenta anos do Concílio
Vaticano II ele ainda precisa ser estudado e colocado em prática. Por isso, a
mesma Tradição e o Magistério da Igreja por meio do Papa e dos Bispos
resolveram lançar esses livros denominados como Cadernos do Concílio, para que
todos os fiéis possam entender um pouco melhor o Concílio e compreender os seus
documentos. Por isso, o Papa Francisco declarou esse ano de 2024 como o ano da
Oração, em preparação do Jubileu da Esperança no próximo ano.
A nossa fé católica não deve se resumir
somente na Palavra de Deus escrita, ou seja, temos que colocar a nossa fé em
prática vivendo aquilo que ali está escrito. Já dizia São Tiago “A fé
sem obras é morta” (Tg 2,17). Jesus, o verbo encarnado do Pai, ao
longo de sua vida pública viveu aquilo que pregava e nos ensinou a fazer o
mesmo. Não podemos pegar a Palavra de Deus como um livro qualquer, mas como a
Palavra que se fez carne e habitou entre nós. Nós católicos temos que viver na
prática aquilo que está escrito na Palavra. Tornando a nossa fé viva e
colocando em prática o que está na Sagrada Escritura, por isso tornaremos
presente o Magistério e a Tradição da Igreja. Esses dois têm a missão de
incentivar os fiéis a manterem cada vez mais viva a fé.
A própria Sagrada Escritura tem seu berço na
Tradição, pois a Sagrada Escritura foi escrita com base naquilo que Jesus e
posteriormente os apóstolos pregaram. Levando em conta que, enquanto Jesus ou
os apóstolos pregavam, não havia ninguém com caneta e papel anotando, até
porque naquela época ainda nem existiam papel e caneta. No início da Igreja
primitiva a única via de fé era a pregação dos apóstolos. Inclusive Jesus deu
essa recomendação aos apóstolos: “Ide e pregai o Evangelho a toda
criatura” (Mc 16,15). Eles pregavam sem ter livros nas mãos. Depois,
posteriormente, foi escrito pela Tradição e pelo Magistério da Igreja tudo
aquilo que eles pregaram conforme conhecemos hoje.
Os livros da Sagrada Escritura começaram a ser escritos a partir aproximadamente do ano 50 d.C. com o seu término por volta do ano 100, e chegou até aos fiéis somente no início do primeiro século. A própria Bíblia dá testemunho da Tradição quando diz: “Conservai-vos firmes na fé e guardai as tradições que aprendestes, quer pela nossa pregação, quer pela nossa carta” (2Ts 2, 14); “O que ouviste da minha boca e de muitas testemunhas, confia-o a outros homens fiéis, capazes de instruir os outros” (2Tm 2,2). A Sagrada Escritura é a nossa fonte de fé atualmente, mas não quer dizer que não havia uma fonte de fé quando começou a pregação dos apóstolos no primeiro século. A fonte de fé no início da Igreja primitiva era justamente a pregação dos apóstolos e crer na ressurreição de Jesus.
A Tradição da Igreja continua viva até aos dias de hoje por meio da Sagrada Escritura, e daquilo que anunciamos a partir dela e colocamos em prática. A Tradição também continua viva por meio da pregação e ensinamento do Santo Padre, o Papa Francisco e dos bispos. O Papa é o Vigário de Cristo aqui na terra e os bispos são sucessores dos apóstolos. Cada um de nós pode manter viva a Tradição da Igreja por meio do anúncio da Palavra de Deus e colocando aquilo que anunciamos em prática, e ainda, toda vez que estudamos como estamos fazendo os documentos do Concílio Vaticano II.
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