Dom Paulo Cezar Costa
Cardeal Arcebispo de Brasília
Jesus, no Evangelho de hoje, (Mc 1, 12-15) exorta-nos à conversão e a crer no Evangelho. Papa Francisco explica-nos, com profundidade, este caminho: “Neste primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho evoca os temas da tentação, da conversão e da Boa Nova. Escreve o evangelista Marcos: “E logo o Espírito impeliu Jesus para o deserto. Aí esteve quarenta dias. Foi tentado pelo demônio” (Mc 1, 12-13). Jesus vai ao deserto a fim de Se preparar para a sua missão no mundo. Ele não precisa de conversão, mas, sendo homem deve passar através desta provação, quer por Si mesmo – a fim de obedecer à vontade do Pai -, quer por nós, para nos doar a graça de vencer as tentações. Esta preparação consiste na luta contra o espírito do mal, ou seja, contra o diabo. Também para nós a Quaresma é um tempo de ‘agonismo’ espiritual: somos chamados a enfrentar o Maligno mediante a oração para sermos capazes, com a ajuda de Deus, de o vencer na nossa vida quotidiana. Nós sabemos que o mal infelizmente age na nossa existência e à nossa volta, onde se manifestam violências, rejeição do outro, fechamentos, guerras, injustiças. Estas são todas obras do maligno, do mal.
Imediatamente após as tentações no deserto, Jesus começa a pregar o Evangelho, ou seja, a Boa Nova , que -e a segunda palavra. A primeira era “tentação”; a segunda: “Boa Nova”. Esta boa notícia exige do homem conversão – terceira palavra – e fé. Ele anuncia: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo”, depois dirige a exortação: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho” (v. 15), isto é, acreditai nesta boa notícia que o reino de Deus está próximo. Na nossa vida temos sempre necessidade de conversão – todos os dias! -, e a Igreja faz-nos rezar por isso. Com efeito, nunca estamos suficientemente orientados para Deus e devemos dirigir constantemente a nossa mente e o nosso coração a Ele. Para fazer isto, é necessário ter coragem de rejeitar tudo o que nos leva por maus caminhos, os falsos valores que nos enganam atraindo de maneira sorrateira o nosso egoísmo. Ao contrário, devemos confiar no Senhor, na sua bondade e no seu desígnio de amor para cada um de nós. A Quaresma é um tempo de penitência, sim, mas não é um tempo triste! É um tempo de penitência, mas não é um tempo triste, de luto. É um compromisso jubiloso e sério para nos despojamos do nosso egoísmo, do homem velho, e nos renovamos segundo a graça do nosso Batismo.
Somente Deus pode nos doar a verdadeira felicidade: é inútil que percamos o nosso tempo procurando alhures, nas riquezas, nos prazeres, no poder, na carreira... O reino de Deus é a realização de todas as nossas aspirações, porque é, ao mesmo tempo, salvação do homem e glória de Deus. Neste primeiro domingo da Quaresma, somos convidados a ouvir com atenção e a responder a este apelo de Jesus a converter-nos e a acreditar no Evangelho. Somos exortados a iniciar com empenho o caminho rumo à Páscoa, para acolher cada vez mais a graça de Deus, que quer transformar o mundo num reino de justiça, de paz, de fraternidade”.
(Papa Francisco, Angelus de 18 de fevereiro de 2018)
Fonte: https://arqbrasilia.com.br/
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