LECTIO DIVINA - Escola de oração (ECCLESIA Brasil)
Por Altierez dos Santos, catequista e missionário
"Presume-se, por isso, que é uma prática antiquíssima, certamente inspirada pelo Espírito Santo em tempos imemoriais."
A lectio divina é antigo e precioso tesouro da Igreja. Desde os primeiros séculos, nossos santos nos ensinaram a iluminar a vida com a Palavra por meio dela. Seguramente, é a melhor forma de ler a vida pela Palavra, pois ela própria é uma herança da sabedoria dos autores sagrados da Bíblia. Infelizmente, poucas pessoas a conhecem. Mesmo entre os catequistas, o que é lamentável.
A propósito, a lectio divina está mencionada nos principais documentos de catequese, incluindo o Catecismo, o Diretório para a Catequese e outros. Ela possui quatro degraus em direção a Deus.
O primeiro degrau é a LEITURA.
O segundo é a MEDITAÇÃO.
O terceiro é a ORAÇÃO.
E o quarto é a COMUNICAÇÃO.
Antiguidade da lectio divina
Segundo o grande mestre dom João Evangelista Martins Terra, a lectio divina é uma prática tão antiga quanto a veneração pela Sagrada Escritura. No episódio relatado no santo Evangelho segundo São Marcos 1, 21, dom Terra identifica o próprio Senhor Jesus Cristo realizando uma lectio divina!
Com efeito, os vários escritos de antes e depois de Cristo trazem traços marcadamente semelhantes a oração profunda que brota das páginas milenares da Bíblia. São páginas que mais se assemelham a pinturas repletas de detalhes e segredos que espelham a nossa própria vida. Presume-se, por isso, que é uma prática antiquíssima, certamente inspirada pelo Espírito Santo em tempos imemoriais.
Os registros da utilização da expressão lectio divina são muito antigos, já do segundo século de nossa era, por Orígenes, mas a fixação em quatro degraus, como a conhecemos hoje, foi dada pelo monge Guido (ou Guigo) no século II. Por muitos séculos, a lectio divina foi a piedade central da vida religiosa nas antigas ordens, mas, com o passar do tempo, perdeu a importância durante de outras práticas de piedade, e recentemente, no século XIX, ela passou a ser novamente incentivada e vivenciada.
Diferença entre lectio divina e leitura orante
Em todos os países aonde chegou, produziu frutos e inclusive inspirou formas de oração baseadas nos quatro degraus. Foi assim que nasceu a leitura orante no Brasil, por exemplo.
Leitura orante não é, a rigor, sinônimo de lectio divina. Temos a riqueza própria da leitura orante, esta flor que nasceu das sementes da tradução mais antigas, mas é importante destacar que estamos diante de duas práticas de piedade valiosas e bem diferentes.
Lectio divina é introspectiva, silenciosa, focada na conversão do interior e só pode ser feita com os outros quatro degraus clássicos e com a Sagrada Escritura.
Leitura orante, por sua vez, é dialogal, expositiva, ligada a aspectos da vida exterior, ela pode ser realizada com variados degraus e com outros textos piedosos, litúrgicos, canônicos, além da própria Bíblia.
A lectio divina é o melhor barco para navegar pela Sagrada Escritura
Em retiros pelo Brasil, costumo lembrar que a Sagrada Escritura é como um lago muito extenso, calmo, que reflete em suas águas, como um poderoso espelho, tudo o que está ao seu redor. Visto de longe, esse lago parece uma lâmina de água, muito rasa, até mesmo de água parada. Mas é um engano.
Estamos diante do lago mais profundo do mundo. Quem ousar ler a Bíblia ao pé da letra irá ter uma visão equivocada, pois as águas desse lago não são rasas! Elas possuem uma profundidade de que nem sempre suspeitamos.
Ao praticar lectio divina, percebemos isso, É por isso que comparo a lectio divina a uma embarcação capaz de singrar as águas vastas, profundas, densas e até agitadas da Bíblia.
Altierez dos Santos
Fonte: Revista Ecoanda - Ano 22 - nº 85 - Março/Maio - 2024 - Pags. 30/33.
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