Francisco presidiu a missa de
canonização da primeira santa argentina, Mama Antula, com milhares de fiéis
vindos de seu país e também o presidente Milei. Na homilia, convidou a
redescobrir "a alegria de nos doar aos outros, sem medo nem preconceito,
livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do
irmão".
Mariangela
Jaguraba - Vatican News
O Papa
Francisco presidiu a missa de canonização de Maria Antónia de San José
de Paz e Figueroa, mais conhecida como Mama Antula, na Basílica
de São Pedro, na manhã deste domingo, 11 de fevereiro, Dia Mundial do
Enfermo.
A primeira
Leitura e o Evangelho deste domingo "falam da lepra, uma doença que causa
a progressiva destruição física da pessoa e que muitas vezes, infelizmente,
ainda está hoje associada em certos lugares com atitudes de
marginalização". "Lepra e marginalização são dois males de que Jesus
quer libertar o homem que encontra no Evangelho", disse Francisco em sua
homilia.
"Aquele
leproso é obrigado a viver fora da cidade. Fragilizado pela doença, em vez de
receber ajuda dos seus concidadãos, é abandonado a si mesmo, acabando
duplamente ferido pelo afastamento e a rejeição", sublinhou o Pontífice.
As pessoas mantinham distância dele, pois tinham medo de serem contagiadas e
ficarem como ele. Mantinham distância também por preconceito, pois pensavam que
fosse "um castigo de Deus por alguma falta que ele cometeu, e também por
uma falsa religiosidade, porque pensavam que tocar um morto tornava a pessoa
impura, e os leprosos eram pessoas cuja carne lhe «morria no corpo». Trata-se
de uma religiosidade distorcida, que levanta barreiras e mina a piedade",
disse ainda o Papa.
«Lepras da
alma»
"Medo,
preconceito e falsa religiosidade: aqui estão três causas de uma grande
injustiça, três «lepras da alma» que fazem sofrer uma pessoa frágil,
descartando-a como qualquer desperdício", disse ainda o Papa,
acrescentando que "não se trata de coisas só do passado".
“Quantas pessoas sofredoras
encontramos nos passeios das nossas cidades! E quantos medos, preconceitos e
incoerências, mesmo entre quem acredita e se professa cristão. Esses medos
continuam ferindo essas pessoas ainda mais! Também no nosso tempo há tanta
marginalização, há barreiras a serem derrubadas, «lepras» a serem curadas.”
"Mas
como?", perguntou Francisco, indicando como resposta dois gestos que faz
Jesus: tocar e curar.
Jesus sente
compaixão daquele homem, para, estende a mão e o toca.
O Senhor
poderia evitar de tocar naquela pessoa; bastava «curá-la à distância».
"Mas Cristo não pensa assim; o seu caminho é o do amor, que o faz
aproximar de quem sofre, entrar em contato, tocar as suas feridas. A
proximidade de Deus. Jesus está próximo, Deus está próximo. O nosso Deus,
queridos irmãos e irmãs, não se manteve distante no céu, mas em Jesus fez-se
homem para tocar a nossa pobreza. E perante a «lepra» mais grave, que é o
pecado, não hesitou em morrer na cruz, fora das muralhas da cidade, rejeitado
como um pecador, como um leproso, para tocar a fundo a nossa realidade humana.
Um santo escreveu: «Ele se tornou leproso por nós»", sublinhou Francisco.
O Papa
convidou a tomar cuidado com a «lepra da alma».
“Uma doença que nos torna
insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói com as «gangrenas» do
egoísmo, preconceito, indiferença e intolerância.”
"Tenhamos
cuidado", advertiu ele, "também porque, como acontece na fase inicial
da doença com as primeiras manchas de lepra que aparecem na pele, se não se
tomar medidas imediatas, a infeção cresce e torna-se devastadora".
Deixar-se
tocar por Jesus na oração e na adoração
"Diante
desse risco, da possibilidade dessa doença em nossa alma, qual é a cura?",
perguntou o Pontífice. A resposta se encontra no segundo gesto de Jesus: curar.
"De fato, aquele seu «tocar» não indica apenas proximidade, mas é o início
da cura. A proximidade é o estilo de Deus: Deus é sempre próximo, compassivo e
terno. Proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus. Estamos
abertos a isso? Pois é deixando-nos tocar por Jesus que nos curamos
intimamente, no coração. Se nos deixarmos tocar por Ele na oração, na
adoração, se Lhe permitirmos agir em nós através da sua Palavra e dos
Sacramentos, o seu contato muda-nos realmente, cura-nos do pecado, liberta-nos
de fechamentos, transforma-nos para além daquilo que podemos fazer sozinhos,
com os nossos esforços", disse ainda o Papa.
“As nossas partes feridas, as do
coração e da alma, as doenças da alma devem ser levadas a Jesus. É isto que faz
a oração; não uma oração abstrata, feita apenas de repetição de fórmulas, mas
uma oração sincera e viva, que depõe aos pés de Cristo as misérias, as
fragilidades, as falsidades, e os medos.”
"Eu
deixo Jesus tocar as minhas «lepras», para que me cure?", perguntou o
Papa. "Ao «toque» de Jesus", respondeu Francisco, "retorna a
beleza que possuímos, a beleza que somos; a beleza de ser amados por Cristo,
redescobrimos a alegria de nos doar aos outros, sem medos e sem preconceitos,
livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do
irmão; retoma força em nós a capacidade de amar, para além de todo e qualquer
cálculo e conveniência". Vive-se a cada dia a "caridade sem alarde: na
família, no trabalho, na paróquia e na escola; na rua, no escritório e no
mercado; a caridade que não busca publicidade nem precisa de aplausos, porque
ao amor basta o amor".
"Proximidade
e discrição", é o que Jesus nos pede, e "se nos deixarmos tocar por
Ele, também nós, com a força do seu Espírito, poderemos tornar-nos testemunhas
do amor que salva", como nos ensinou Santa Maria Antónia de San José, conhecida
como «Mamã Antula».
“Ela foi uma viajante do
Espírito. Percorreu milhares de quilômetros a pé, por desertos e estradas
perigosas, para levar Deus. Hoje, ela é um modelo de fervor e audácia
apostólica para nós. Quando os jesuítas foram expulsos, o Espírito acendeu nela
uma chama missionária baseada na confiança na providência e na perseverança.”
Ela invocou a intercessão de São José e, para não cansá-lo muito, também a de São Caetano Thiène. Por essa razão, introduziu a devoção a este último, e sua primeira imagem chegou a Buenos Aires no século XVIII. Graças a Mama Antula, esse santo, intercessor da Divina Providência, entrou nas casas, nos bairros, nos meios de transporte, nas lojas, nas fábricas e nos corações, para oferecer uma vida digna por meio do trabalho, da justiça, do pão de cada dia, na mesa dos pobres. Peçamos hoje a Maria Antónia, Santa Maria Antónia de Paz de San José, para que ela nos ajude muito.
"Que o Senhor abençoe a todos nós", concluiu o Papa.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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