Sem reforma litúrgica não há
reforma da Igreja, disse o Papa em seu discurso à plenária do Dicastério para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos: uma Igreja que não tenta falar de
uma forma que seja compreensível aos homens e mulheres de seu tempo "é uma
Igreja doente", o papel da mulher é central, mas não deve ser reduzido
apenas à "ministerialidade”.
Vatican
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Uma Igreja
que não sente a paixão pelo crescimento espiritual, que não tenta falar de uma
forma que seja compreensível para os homens e mulheres de seu tempo, que não se
entristece com a divisão entre os cristãos, que não treme com o anseio de
proclamar Cristo aos povos, é uma Igreja doente. Esses são os sintomas de uma
Igreja doente.
Em seu
discurso à Assembleia Plenária do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos, cujos participantes foram recebidos pelo Papa na manhã desta
quinta-feira, 8 de fevereiro, na Sala Clementina, no Vaticano, Francisco usou
palavras contundentes para enfatizar que "sem reforma litúrgica não há
reforma da Igreja". O Pontífice recordou o 60º aniversário da Sacrosanctum
Concilium, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, elaborada durante o
Concílio Vaticano II com o objetivo de "fazer com que a vida cristã dos
fiéis cresça cada vez mais a cada dia", adaptando "as instituições
sujeitas a mudanças" às necessidades dos tempos, favorecendo tudo o que
pudesse "contribuir para a união de todos os crentes em Cristo" e revigorando
tudo o que pudesse ajudar "a chamar todos para o seio da Igreja". Na
prática, explicou o Papa, "um profundo trabalho de renovação espiritual,
pastoral, ecumênica e missionária".
A
fidelidade esponsal da Igreja
Quando se
fala em "reformar a Igreja", sempre se está diante de uma
"questão de fidelidade esponsal", esclareceu Francisco, acrescentando
que "a Igreja Esposa será sempre mais bela quanto mais amar Cristo Esposo,
a ponto de pertencer totalmente a Ele, a ponto de se conformar plenamente a
Ele". A esse respeito, o Pontífice se deteve sobre as ministerialidades da
mulher.
A Igreja é
mulher e a Igreja é mãe, e a Igreja é a figura de Maria e a Igreja-mulher,
figura de Maria, é mais do que Pedro, ou seja, é outra coisa. Não se pode
reduzir tudo à ministerialidade. A mulher em si mesma tem um símbolo muito
grande na Igreja como mulher, sem reduzi-la à ministerialidade. É por isso que
eu disse que toda instância de reforma da Igreja é sempre uma questão de
fidelidade esponsal, porque há uma mulher.
A
importância da formação litúrgica
Como os
Padres conciliares, que abordaram o tema da liturgia, "o lugar por
excelência onde encontrar o Cristo vivo", exortando a formação dos fiéis e
promovendo ações pastorais, o Papa também insistiu na necessidade da
"formação litúrgica" e ressaltou a importância que ela tem para
todos.
Não se
trata de uma especialização para alguns especialistas, mas de uma disposição
interior de todo o povo de Deus. Isso, é claro, não exclui que haja uma
prioridade na formação daqueles que, em virtude do sacramento da Ordem, são
chamados a ser mistagogos, ou seja, a tomar os fiéis pela mão e acompanhá-los
no conhecimento dos santos mistérios.
A
preparação dos ministros ordenados
Para
Francisco, é essencial que "os pastores saibam conduzir o povo ao bom
pasto da celebração litúrgica, onde o anúncio de Cristo morto e ressuscitado se
torna uma experiência concreta de sua presença transformadora da vida", e
por isso pede que, "no espírito de colaboração sinodal entre os
Dicastérios esperada na Praedicate Evangelium", a formação
litúrgica dos ministros ordenados seja "tratada também com o Dicastério
para a Cultura e a Educação, com o Dicastério para o Clero e com o Dicastério
para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica",
de modo que cada um possa oferecer "a própria contribuição
específica". Isto porque, sendo a liturgia "o ápice para o qual tende
a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual brota toda a sua
energia", como se lê na Sacrosanctum Concilium, então é
necessário "que a formação dos ministros ordenados tenha também, cada vez
mais, um cunho litúrgico-sapiencial, tanto no currículo dos
estudos teológicos quanto na experiência de vida dos seminários".
Caminhos
formativos para o povo de Deus
Mas também
é necessário pensar em "novos caminhos de formação" para o povo de
Deus, exortou o Santo Padre, e isso a partir das assembleias que se reúnem aos
domingos, "o dia do Senhor", "nas festas do ano litúrgico",
que são "a primeira oportunidade concreta de formação litúrgica", e
depois novamente nas "festas patronais ou nos Sacramentos da iniciação
cristã", ocasiões "nas quais as pessoas participam mais das
celebrações" e que, se "preparadas com cuidado pastoral",
permitem que as pessoas "redescubram e aprofundem o significado de
celebrar hoje o mistério da salvação".
Por fim,
Francisco destacou a grande tarefa que cabe ao Dicastério para o Culto Divino e
a Disciplina dos Sacramentos, "trabalhar para que o povo de Deus cresça na
consciência e na alegria de encontrar o Senhor celebrando os santos mistérios
e, encontrando-o, tenha vida em seu nome", e agradeceu o empenho dos que
ali trabalham.
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