A ALEGRIA NO SEGUIMENTO DE CRISTO
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
Frequentemente, enfatizamos apenas o aspecto
da cruz, da renúncia, do sacrifício e doação de si no seguimento a Nosso Senhor
Jesus Cristo. É verdade que Jesus não enganou seus discípulos a respeito das
consequências do seguimento e, claramente, afirmou: “Se alguém quer vir após
mim, negue a si mesmo, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9, 23).
Entretanto, o discipulado cristão não implica apenas o aspecto da cruz, mas
também a alegria de estar com Jesus e de comunicá-la aos outros, pois, como
afirma o Documento de Aparecida (DA, n. 23), “ser cristão não é uma carga, mas
um dom”.
O Documento de Aparecida recupera a alegria no
seguimento de Jesus Cristo. De fato, Jesus não é uma ameaça para o homem, pelo
contrário, é condição de sua realização e felicidade. Também o Papa Francisco,
na “Evangelii Gaudium” (EG), resgata a importância da alegria no anúncio
do Evangelho, propondo uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria (EG
1). Essa alegria, que preenche os corações daqueles que encontram Jesus, é
transformadora e nos liberta do pecado, da tristeza, da acídia, do vazio
interior e do isolamento. Por isso, o cristão não deve assumir o discipulado
como um peso, como um fardo difícil de suportar, mas viver com leveza e
suavidade, pois Nosso Senhor nos garante que seu jugo é suave e seu fardo é
leve (Mt 11, 30).
Consequentemente, como diz o Papa Francisco,
“um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral” (EG, 10).
É preciso recuperar o fervor de espírito e “a suave e reconfortante alegria de
evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas! […] E que o mundo do
nosso tempo possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes
e descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho
cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de
Cristo” (EG 10).
Mas, então, de que se trata essa
alegria? Ela nasce da experiência de sentir-se amado por um Deus, que de
fato, nos ama incondicionalmente. Ou ainda como afirma o Documento de
Aparecida: “A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta,
mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e o capacita para
anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer a Jesus é o melhor presente que
qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em
nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”
(DA 32).
A alegria do Evangelho não é um sentimento
passageiro ou superficial, mas uma fonte de vida que brota do encontro pessoal
com Jesus. É uma alegria que nasce da missão e transcende as circunstâncias
externas e se manifesta mesmo nas situações mais difíceis da vida. Como
discípulos de Cristo, somos chamados a viver essa alegria em todos os momentos,
mesmo quando enfrentamos tribulações e desafios (EG, n. 2-4).
No entanto, o Papa Francisco reconhece que
muitos cristãos estão perdendo essa alegria e caindo na armadilha da acídia, do
mundanismo espiritual e das divisões internas na comunidade. A acídia, como a
tristeza interior que resulta da recusa dos bens espirituais, pode levar à
inação ou a um ativismo desenfreado, impedindo-nos de viver plenamente nossa
vocação cristã. O mundanismo espiritual, por sua vez, se disfarça sob uma
aparência de religiosidade, mas na verdade busca apenas a própria glória e o
bem-estar pessoal (EG 81-84; 94).
Também, as divisões e ódios entre os cristãos são uma triste realidade que compromete o testemunho, a credibilidade e a missão da Igreja. Em vez de nos unirmos para anunciar o Evangelho, muitas vezes nos encontramos em conflito uns com os outros, alimentando ressentimentos e divisões que enfraquecem a comunidade cristã. “Além disso, alguns deixam de viver uma adesão cordial à Igreja por alimentar um espírito de contenda. Mais do que pertencer à Igreja inteira, com a sua rica diversidade, pertencem a este ou àquele grupo que se sente diferente ou especial” (EG 98).
Tais desafios nos impelem a cultivar a alegria do Evangelho, mesmo nas situações difíceis, promovendo a reconciliação, o perdão e a comunhão fraterna, resistindo à tentação da inveja, do julgamento e do ódio. É uma alegria missionária que nos convoca a ser testemunhas do amor de Deus, irradiando a luz de Cristo nas trevas do mundo e compartilhando essa alegria com todos que cruzamos em nosso caminho.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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