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sexta-feira, 1 de março de 2024

A Liturgia no mistério da Igreja

Liturgia (Paróquia São Miguel)

A LITURGIA NO MISTÉRIO DA IGREJA

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
 

Cadernos do Concílio – Volume 6 

Dando continuidade à reflexão sobre a Coleção “Cadernos do Concílio” em preparação ao jubileu do próximo ano, hoje nos debruçaremos no volume seis (6) dessa coleção que traz como tema: “A liturgia no mistério da Igreja”. O autor é Arturo Elberti da coleção realizada pelo Dicastério para a Evangelização, Seção para as questões fundamentais da Evangelização no mundo, traduzida e publicada pelas Edições CNBB. A liturgia sempre foi uma preocupação da Igreja logo no alvorecer do Concílio Ecumênico Vaticano II (um dos primeiros documentos aprovado e publicado), possibilitando uma maneira com que os fiéis participassem melhor da liturgia e do mistério pascal de Cristo.  

A liturgia é o centro da Igreja, com uma liturgia bem participada e bem-preparada é possível chegar ao ápice do mistério pascal de Cristo. Antes do Concilio Vaticano II os fiéis não entendiam muito bem o que acontecia durante a missa e com isso não chegavam ao ápice do mistério Pascal. Inclusive a sineta que toca até hoje na celebração Eucarística na hora da consagração, era tocada no momento da consagração para que os fiéis voltassem a atenção ao altar naquele momento.  

Por isso, os padres conciliares resolvem atualizar a forma de celebrar a Santa Missa e a liturgia passa a ser possível ser celebrada na língua vernácula. A missa passou a contar com uma maior participação dos fiéis. Houve o que o Concílio chama de “uma celebração Eucarística renovada”.  

Com a reforma litúrgica mudou-se apenas a maneira de celebrar, mas não se perdeu a essência do mistério celebrado. Desde o início da Igreja primitiva, com os apóstolos nos primeiros séculos já se celebrava a Eucaristia, que consistia no essencial que conhecemos até hoje que é: Anúncio da Palavra e Partilha do Pão. Até hoje, quando vamos à missa, participamos de duas grandes mesas: a da Palavra e a da Eucaristia. Isso não mudou, o que ocorreu é que desde os primeiros séculos da Igreja a celebração da Missa foi se adaptando às novas realidades.  

Santo Agostinho fala o seguinte sobre a Santa Missa: “Sendo Deus onipotente, não pôde dar mais; sendo sapientíssimo, não soube dar mais; e sendo riquíssimo, não teve mais o que dar”. A Eucaristia é o pão de cada dia que se toma como remédio para a nossa fraqueza de cada dia”. (Santo Agostinho 354 -430). Essa frase de Santo Agostinho nos ajuda a compreender que não importa a maneira que a missa é celebrada, não devemos nos distanciar do essencial. 

Houve uma mudança também na celebração dos rituais de alguns sacramentos, pois além de atualizar a maneira de celebrar a Santa Missa, foi necessário repassar também todos os sacramentos, colocando em destaque o rito e o conteúdo teológico de cada um deles. Também foram revistos os ritos de ordenação, a benção dos óleos, a benção do Abade e das Abadessas, a consagração das virgens, a profissão religiosa, a dedicação de uma Igreja e a bênção do altar e o ritual de Exéquias.  

Ainda em 1970, o Papa Paulo VI no mês de novembro, introduziu na Igreja a nova edição da liturgia das horas. Ela tornou-se uma oração pública da Igreja, povo de Deus, não apenas reservada ao clero somente ou a algumas ordens religiosas, mas podendo ser rezada também pelos fiéis leigos.  

Podemos observar que a liturgia como um todo não é somente a celebração Eucarística, mas engloba todos os sacramentos e todas as orações da Igreja. Muitas vezes limitamos a liturgia à celebração da missa, mas até mesmo para celebrar os sacramentos, ou a liturgia das horas, é necessário ter uma preparação litúrgica. A liturgia ajuda a reger o rito celebrado, para que tudo saia dentro dos conformes.  

A liturgia tem uma ligação estreita com a história da salvação, pois remete aos textos sagrados do Antigo Testamento, até chegar aos textos que falam da paixão, morte e ressurreição do Senhor e ao ápice do mistério pascal de Cristo. A palavra “mistério” sempre esteve presente, desde o Antigo Testamento, mistério é aquilo que não conseguimos ver aqui, mas contemplaremos de maneira definitiva na vida eterna. Por isso, ao final da consagração o sacerdote diz: Mistério da fé, pois aquilo que aconteceu ali naquele momento só contemplaremos verdadeiramente no céu.  

Um documento que retrata toda essa riqueza litúrgica, e que foi publicado ao longo do Concílio Vaticano II, é a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium: recomendo que todos façam a leitura desse documento. Essa mesma Constituição Conciliar diz que Cristo continua presente na Igreja por meio da Liturgia. Uma liturgia bem celebrada e bem-organizada nos conduz para o mistério de Cristo. É claro que além de bem celebrada e organizada para que que cheguemos ao ápice do mistério de Cristo é preciso que todos participem atentamente.  

A presença de Cristo na liturgia se dá nas seguintes formas: a) no sacrifício e precisamente no presbítero; b) nos “Sacramentos”, porque Cristo está presente neles; c) na Palavra proclamada na assembleia. Temos a presença real de Cristo na Eucaristia, que é uma presença perpétua, pois mesmo após a consagração Ele permanece presente e real no sacrário. Nos demais sacramentos Ele está presente enquanto acontece aquele sacramento. Bem sabemos que Jesus instituiu todos os sacramentos, por isso, de maneira evidente Ele está presente em todos.  

Em tudo isso, celebramos aqui na terra aquilo vivenciaremos de maneira definitiva no céu. Como dizemos após a oração do Pai Nosso no rito da comunhão: “Enquanto vivendo a esperança, aguardamos a vinda gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Somos a Igreja peregrina a caminho da Igreja celeste, caminhamos ao encontro do Senhor.  

Como já dissemos a celebração do mistério acontece desde o tempo apostólico, pois os discípulos já anunciavam a paixão, morte e ressurreição do Senhor. A cada celebração da missa é atualizado o mistério Pascal de Cristo, na hora da consagração não é apenas uma repetição de palavras, mas é como se acontecesse novamente ali a última ceia.  

Ao longo do tempo a Igreja foi personificando a maneira de celebrar a liturgia, mas não perdendo a essência do mistério e da liturgia que é Cristo. Durante a missa devemos nos esquecer de tudo o que acontece do lado de fora e deixar para trás os nossos problemas, e nos concentrar em tudo o que acontece ao longo da celebração. Para que o mistério aconteça verdadeiramente em nossas vidas devemos estar concentrados.  

Todas as ações litúrgicas são para todo o povo, como já reportamos acima, a liturgia não é do bispo ou do padre, ela é da Igreja, e toda a ação litúrgica é direcionada a todo o corpo da Igreja. “As ações litúrgicas não são pessoais, mas celebrações da Igreja que é sacramento da unidade, isto é, povo santo reunido e orientado pelos Bispos” (SC, n.26).  

Recomendo que para uma melhor compreensão da liturgia e para que possamos nos aprofundar no tema leiamos a “Sacrosanctum Concilium”. Ao ler o documento que possamos entender que a reforma litúrgica foi necessária, e ainda compreender o mistério que é celebrado. Lembremos sempre que a liturgia está no coração da Igreja.


Fonte: https://www.cnbb.org

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF