A SABEDORIA DOS SALMOS
Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)
Na Bíblia Sagrada existe o Livro dos Salmos.
Impressiona a todos, geração após geração, este livro de oração e poesia
ancestral. Nele está o que há de mais profundo das aspirações do coração humano
voltado para Deus através da fé, e da constatação dos fatos que se dão na
realidade do dia a adia.
Na língua grega a palavra salmo designa um
poema a ser acompanhado por instrumentos musicais. Nos salmos da bíblia está
toda doutrina religiosa do Antigo Testamento, neles é possível perceber o amor
de Deus pelas criaturas e o louvor verdadeiro que se exprime por um coração
transformado segundo a sabedoria divina.
O próprio Jesus fez suas orações com os
salmos, ele mesmo afirmou: “Isto é o que vos dizia quando estava convosco, que
deveria se cumprir tudo quanto a meu respeito está escrito em Moisés, nos
profetas e nos Salmos’(Lc 24,44).
Os salmos são perpassados por uma afirmação
que muitas vezes pode passar despercebida, trata-se da justiça de Deus na
defesa dos pobres, como por exemplo afirma o Salmo 53, conforme se encontra na
Edição da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral: “Será que os malfeitores não
percebem, eles que devoram o meu povo, como se comessem pão, e não invocam a
Deus? Eles vão tremer de medo, porque Deus espalha os ossos do agressor, e
ficarão envergonhados porque Deus os rejeita”.
Nos Salmos podemos ver como a história, a
profecia, a sabedoria e a lei penetraram a vida do povo, transformando-a em
oração viva marcada pelas situações do dia a dia das pessoas e da coletividade.
Os Salmos nos ajudam a perceber os dramas da história à luz de Deus, o qual tem
a última palavra, quer queira ou não.
Nos salmos de fato encontramos unidas orações
de ação de graças e profecia ao mesmo tempo, como por exemplo no Salmo 9: “Eis
que Deus sentou-se para sempre, firmou seu trono para o julgamento. Ele
julga o mundo com justiça e governa os povos com retidão…Os povos caíram na
cova que fizeram, no laço que ocultaram prenderam o pé. Deus apareceu fazendo
justiça, apanhou o injusto em sua manobra. Que os injustos voltem ao túmulo, os
povos todos que se esquecem de Deus! Pois o indigente não será esquecido para
sempre, e a esperança do pobre jamais se frustrará”.
Estas são orações que exprimem uma esperança
que na verdade se realiza na história através dos séculos. Os reinos e impérios
injustos, os sistemas políticos que sustentam a ganância dos poderosos e
oprimem os pobres, vão à falência um atrás do outro. O salmista observa que “O
injusto se gloria da própria ambição, o avarento despreza e maldiz a Deus! O
injusto é soberbo, jamais se interroga. Deus não existe – é tudo o que pensa”(
Salmo 10, 3-4).
Os Salmos nos estimulam a ver a ação de Deus na defesa dos fracos e imitá-lo: “Feliz quem cuida do fraco e do indigente, Deus o salva no dia infeliz. Deus o guarda e mantém vivo, para que seja feliz na terra, e não o entrega á vontade de seus inimigos”(Salmo 41, 2-3). Nos Salmos somos estimulados a colocar em prática a lei de Deus que é a lei do amor fraterno: “A lei de Deus é perfeita, um descanso para a alma. O testemunho de Deus é firme, instrução para o ignorante. Os preceitos de Deus são retos, alegria para o coração. O mandamento de Deus é transparente, é luz para os olhos”(Salmo 19, 8-9). Se observássemos os mandamentos de Deus a Terra viveria em paz.
E por fim os Salmos, em nossa cultura que adora o dinheiro, a fama e o poder, nos convidam a confiar em Deus acima de tudo: “Só em Deus a minha alma repousa, porque dele vem a minha salvação. Ele é minha rocha e salvação, a minha fortaleza: jamais serei abalado”(Salmo 62, 2-3). “Porque o Senhor é meu pastor, nada me falta”(Salmo 23,1).
Fonte: https://www.cnbb.org
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