O JEJUM COMO DIMENSÃO ESPIRITUAL E CARITATIVA
Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! O
jejum proposto pela Igreja aos seus filhos e filhas, neste tempo da Quaresma,
tem por finalidade preparar os fiéis para acolherem Jesus Cristo e viverem
intensamente a celebração da Páscoa do Senhor Jesus. Essa preparação acontece
através de um coração contrito e humilhado, que leva ao arrependimento, à
fortificação do espírito contra o mal e à purificação da alma, que liberta do
peso da carne e aspira com maior intensidade a união com Deus.
Nos primeiros séculos do cristianismo, entre
as atividades próprias do cristão, como indivíduo, antes mesmo de ser membro de
uma comunidade, era importante a prática da caridade. Com isso, o jejum
torna-se uma prática inseparável do exercício da caridade, que cada cristão,
tendo presente as próprias possibilidades, é levado a praticar como forma de
imitação da caridade do Pai e do Filho.
O jejum cristão, portanto, assumido como ato
de sofrimento e sacrifício, assemelha-se à paixão de Jesus, e assumido como ato
de caridade para com o próximo, foi interpretado fundamentalmente como forma de
imitação de Cristo. O Papa São Leão Magno dizia que no jejum o cristão imita,
portanto, a humanidade sofrida de Cristo.
Na sociedade atual, falar de jejum, como parte
da vida ascética espiritual, pode soar meio fora de moda. Mas na dimensão da
vida cristã, o jejum sempre teve e tem uma forte conotação espiritual e
caritativa. O jejum sem a dimensão da caridade tem pouco a ver com a doutrina
cristã. E sem um gesto concreto de partilha, é apenas um ato de economia. Deus
não quer este tipo de jejum. Jejuar, segundo o Papa São João Paulo II,
significa privar-se de algo “para responder à necessidade do irmão, tornando-se
assim exercício de bondade, de caridade”.
Em sua mensagem para a Quaresma de 2009, o Papa Bento XVI lembrou que os Padres da Igreja sempre valorizaram o jejum como forma de abrir no coração do fiel a estrada para Deus. Na mesma mensagem, menciona São Pedro Crisólogo que, em um de seus sermões, escreveu: “O jejum é a alma da oração; e a misericórdia, a vida do jejum, por isso, quem reza, jejue. Quem jejua, tenha misericórdia. Quem ao pedir deseja ser ouvido, ouça a quem lhe dirige um pedido. Quem quer encontrar aberto o coração de Deus para si, não feche o seu a quem o suplica”.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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