OFÍCIO DAS TREVAS
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
A partir do Domingo de Ramos iniciamos a
Semana Santa, a semana maior para nós católicos, por isso, temos oportunidade
de participar ao máximo de todas as celebrações, pois só existe uma Semana
Santa ao longo de todo o ano. Façamos que essa semana seja santa de fato. Todas
as igrejas estão abertas ao longo da semana para ouvir a confissão dos fiéis,
abrindo a possibilidade para que possam rezar e se aproximar mais do Senhor, e
celebrando a noite preparando os momentos litúrgicos propostos para essa semana.
Temos celebrações litúrgicas, eventos da piedade popular e momentos culturais
nessa semana.
Ao longo desta semana, acompanhamos Jesus
entrando em Jerusalém e ser aclamado como rei, (Domingo de Ramos), contemplamos
as trevas tomando conta do mundo, pois a luz está sendo tirada de nós (ofício
de trevas e sermão do depósito) na segunda-feira ou terça-feira.
Contemplamos o encontro de Jesus (Senhor dos Passos) com sua mãe (Nossa Senhora
das dores), no caminho ao calvário na terça-feira ou quarta-feira. A seguir,
meditamos as dores de uma mãe ao ver o seu filho sendo entregue à morte, como
uma ovelha em direção ao matadouro (meditação das dores de Nossa Senhora), em
alguns lugares na quarta-feira Santa. A partir da Quinta-feira Santa tem início
o tríduo Pascal, uma única celebração que tem início na quinta-feira ao
entardecer e vai concluir na Vigília Pascal e no Domingo com a celebração da
Páscoa da Ressurreição.
Se participarmos bem de toda a semana a Santa,
desde o Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa chegaremos renovados a Páscoa
do Senhor. Podemos ainda, ao longo da Semana Santa intensificarmos o nosso
jejum e a nossa abstinência conformando a nossa vida com a entrega de Jesus na
Cruz por nós.
Iniciamos a Semana Santa com o mundo envolto
em trevas, pois o grande “rei” está sendo entregue à morte, a “luz” está sendo
retirada do mundo, e terminamos irradiados novamente por essa “luz”, através da
ressurreição de Nosso Senhor.
Nessa Noite das trevas meditamos o momento em
que Nosso Senhor foi preso, e a oração que Jesus proferiu no momento de sua
agonia no Horto das Oliveiras, que inclusive meditamos nos mistérios do
rosário. Jesus profere essa oração quando se sente sozinho, todos os discípulos
o abandonam. Eles fogem, pois ficam com muito medo, pensando que poderia
acontecer o mesmo com eles. Jesus tinha consciência que tinha chegado o seu
momento como já tinha dito aos discípulos, e os soldados lhe
prendem.
Celebramos nessa noite o ofício de trevas e o
“sermão do depósito”, o mesmo acontece quando Jesus é crucificado e morre, uma
escuridão tomou conta de toda a terra das 12 às 15 horas. O Filho da luz está
sendo entregue ao filho das trevas, nesse momento o mal está aparentemente
vencendo, mas no Sábado Santo a luz ressurgirá e o bem vencerá o mal. Nessa
noite podemos fazer uma reflexão e ver quantas vezes preferimos o caminho das
trevas, ao invés do caminho da luz. Todas as vezes que nos afastamos de Deus e
optamos pelo pecado caminhamos nas trevas. Por isso que ao longo da Quaresma
somos chamados a realizar a nossa confissão sacramental, para que possamos ser
alcançados e iluminados pela luz de Cristo, e dessa forma poder iluminar
aqueles que se aproximam de nós.
Durante a noite as trevas tomam conta do
mundo, conforme rezamos na oração das completas (liturgia das horas): “Agora
que o clarão da luz se apaga” e ainda pedimos: “da noite a
pavorosa escuridão com vossa claridade iluminai”. Ou seja, durante a
noite (em seus diversos significados) é mais comum cairmos no pecado, mas
devemos pedir que luz de Cristo nos ilumine para que o mal não nos vença para
sempre. Por isso, a importância de rezarmos antes de dormir, pedindo a proteção
divina. A luz divina deve sempre continuar acesa em nossos
corações.
Nessa noite, ao mesmo tempo que celebramos a
entrega de Jesus, e as trevas se apoderando do mundo, devemos rezar pedindo que
ao final a luz vença as trevas. Por isso que ao final dessa celebração volta
para o centro do altar (ou permanece no candelabro) uma vela acesa, após todas
as outras terem se apagado, pois a luz de Cristo não deve ser apagada, ela
vence as trevas. Recordamos ainda que a luz de Cristo continua viva no meio de
nós através da ação do Espírito Santo, e ainda, há uma luz na Igreja que nunca
se apaga, representando que Cristo está vivo e que sua luz permanece iluminando
o mundo, é a luz do sacrário. Que da luz do sacrário de nossas igrejas, Cristo
ilumine o mundo inteiro.
Jesus não tinha motivos para ser condenado à
morte, foi condenado injustamente. Recordemos nesta noite de tantas pessoas que
são condenadas à morte ou presas injustamente. Recordemos das guerras que
vivemos atualmente, quantos inocentes que já perderam as suas vidas. E ainda,
as “guerras civis” que vivenciamos em nossas cidades através da violência
urbana.
Neste mês de março em especial, o Papa
Francisco pediu para que cada um de nós rezássemos pelos novos mártires
(intenção do apostolado da oração), ou seja, aqueles que morrem em defesa da fé
nos tempos atuais. Os missionários que estão espalhados pelo mundo anunciando o
Evangelho e são perseguidos. “Rezemos para que aqueles que, em várias partes
do mundo, arriscam a vida pelo Evangelho contagiem a Igreja com sua coragem e
seu impulso missionário. E estejamos abertos à graça do martírio.” (Papa
Francisco).
Rezando nessas intenções peçamos que a luz de
Cristo prevaleça acesa nesse mundo tão conturbado e que apesar das dificuldades
e perseguições persistamos até o fim no anúncio do Evangelho. Que a luz de
Cristo ressuscitado ilumine o mundo com a sua ressurreição.
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