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segunda-feira, 25 de março de 2024

Ofício das trevas

Ofício das trevas (diocesedesaojoaodelrei)

OFÍCIO DAS TREVAS

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
 

A partir do Domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa, a semana maior para nós católicos, por isso, temos oportunidade de participar ao máximo de todas as celebrações, pois só existe uma Semana Santa ao longo de todo o ano. Façamos que essa semana seja santa de fato. Todas as igrejas estão abertas ao longo da semana para ouvir a confissão dos fiéis, abrindo a possibilidade para que possam rezar e se aproximar mais do Senhor, e celebrando a noite preparando os momentos litúrgicos propostos para essa semana. Temos celebrações litúrgicas, eventos da piedade popular e momentos culturais nessa semana. 

Ao longo desta semana, acompanhamos Jesus entrando em Jerusalém e ser aclamado como rei, (Domingo de Ramos), contemplamos as trevas tomando conta do mundo, pois a luz está sendo tirada de nós (ofício de trevas e sermão do depósito) na segunda-feira ou terça-feira.  Contemplamos o encontro de Jesus (Senhor dos Passos) com sua mãe (Nossa Senhora das dores), no caminho ao calvário na terça-feira ou quarta-feira. A seguir, meditamos as dores de uma mãe ao ver o seu filho sendo entregue à morte, como uma ovelha em direção ao matadouro (meditação das dores de Nossa Senhora), em alguns lugares na quarta-feira Santa. A partir da Quinta-feira Santa tem início o tríduo Pascal, uma única celebração que tem início na quinta-feira ao entardecer e vai concluir na Vigília Pascal e no Domingo com a celebração da Páscoa da Ressurreição.  

Se participarmos bem de toda a semana a Santa, desde o Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa chegaremos renovados a Páscoa do Senhor. Podemos ainda, ao longo da Semana Santa intensificarmos o nosso jejum e a nossa abstinência conformando a nossa vida com a entrega de Jesus na Cruz por nós.  

Iniciamos a Semana Santa com o mundo envolto em trevas, pois o grande “rei” está sendo entregue à morte, a “luz” está sendo retirada do mundo, e terminamos irradiados novamente por essa “luz”, através da ressurreição de Nosso Senhor.  

Nessa Noite das trevas meditamos o momento em que Nosso Senhor foi preso, e a oração que Jesus proferiu no momento de sua agonia no Horto das Oliveiras, que inclusive meditamos nos mistérios do rosário. Jesus profere essa oração quando se sente sozinho, todos os discípulos o abandonam. Eles fogem, pois ficam com muito medo, pensando que poderia acontecer o mesmo com eles. Jesus tinha consciência que tinha chegado o seu momento como já tinha dito aos discípulos, e os soldados lhe prendem.  

Celebramos nessa noite o ofício de trevas e o “sermão do depósito”, o mesmo acontece quando Jesus é crucificado e morre, uma escuridão tomou conta de toda a terra das 12 às 15 horas. O Filho da luz está sendo entregue ao filho das trevas, nesse momento o mal está aparentemente vencendo, mas no Sábado Santo a luz ressurgirá e o bem vencerá o mal. Nessa noite podemos fazer uma reflexão e ver quantas vezes preferimos o caminho das trevas, ao invés do caminho da luz. Todas as vezes que nos afastamos de Deus e optamos pelo pecado caminhamos nas trevas. Por isso que ao longo da Quaresma somos chamados a realizar a nossa confissão sacramental, para que possamos ser alcançados e iluminados pela luz de Cristo, e dessa forma poder iluminar aqueles que se aproximam de nós.  

Durante a noite as trevas tomam conta do mundo, conforme rezamos na oração das completas (liturgia das horas): “Agora que o clarão da luz se apaga” e ainda pedimos: “da noite a pavorosa escuridão com vossa claridade iluminai”. Ou seja, durante a noite (em seus diversos significados) é mais comum cairmos no pecado, mas devemos pedir que luz de Cristo nos ilumine para que o mal não nos vença para sempre. Por isso, a importância de rezarmos antes de dormir, pedindo a proteção divina. A luz divina deve sempre continuar acesa em nossos corações.  

Nessa noite, ao mesmo tempo que celebramos a entrega de Jesus, e as trevas se apoderando do mundo, devemos rezar pedindo que ao final a luz vença as trevas. Por isso que ao final dessa celebração volta para o centro do altar (ou permanece no candelabro) uma vela acesa, após todas as outras terem se apagado, pois a luz de Cristo não deve ser apagada, ela vence as trevas. Recordamos ainda que a luz de Cristo continua viva no meio de nós através da ação do Espírito Santo, e ainda, há uma luz na Igreja que nunca se apaga, representando que Cristo está vivo e que sua luz permanece iluminando o mundo, é a luz do sacrário. Que da luz do sacrário de nossas igrejas, Cristo ilumine o mundo inteiro.  

Jesus não tinha motivos para ser condenado à morte, foi condenado injustamente. Recordemos nesta noite de tantas pessoas que são condenadas à morte ou presas injustamente. Recordemos das guerras que vivemos atualmente, quantos inocentes que já perderam as suas vidas. E ainda, as “guerras civis” que vivenciamos em nossas cidades através da violência urbana.  

Neste mês de março em especial, o Papa Francisco pediu para que cada um de nós rezássemos pelos novos mártires (intenção do apostolado da oração), ou seja, aqueles que morrem em defesa da fé nos tempos atuais. Os missionários que estão espalhados pelo mundo anunciando o Evangelho e são perseguidos. “Rezemos para que aqueles que, em várias partes do mundo, arriscam a vida pelo Evangelho contagiem a Igreja com sua coragem e seu impulso missionário. E estejamos abertos à graça do martírio.” (Papa Francisco).  

Rezando nessas intenções peçamos que a luz de Cristo prevaleça acesa nesse mundo tão conturbado e que apesar das dificuldades e perseguições persistamos até o fim no anúncio do Evangelho. Que a luz de Cristo ressuscitado ilumine o mundo com a sua ressurreição.  

Celebremos com fé e piedade a Semana Santa, fazendo o máximo possível para participarmos de todas as celebrações. Através das celebrações é possível acompanhar os últimos passos de Jesus até a morte de cruz e posteriormente a alegria da Ressurreição. Lembremos que a Semana Santa tem início no Domingo de Ramos e vai até o Domingo de Páscoa, são oito dias. Aproveite ainda essa semana maior para realizar a confissão sacramental, se ainda não teve oportunidade.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF