750 anos após a morte do autor
de 'Summa Theologiae', Francisco escreve aos participantes de um workshop
patrocinado pela Pontifícia Academia das Ciências Sociais, que explora alguns
aspectos da doutrina do santo: é um autor moderno, cuja visão oferece "percepções
novas e válidas para o nosso mundo globalizado, dominado pelo positivismo
jurídico e pela casuística".
Alessandro
De Carolis - Vatican News
O que o
pensamento de um dos mais ilustres teólogos da história da Igreja tem a ver com
o desenvolvimento das ciências sociais? Um investigador da relação entre fé e
razão com as maneiras pelas quais as relações entre as pessoas são articuladas
e crescem? Muito mais do que poderia parecer, e o Papa deixa isso claro
escrevendo aos participantes de um workshop que a Pontifícia Academia de
Ciências Sociais organizou nesta quinta (7) e sexta-feira (8) para discutir o
tema "Ontologia Social e Direito Natural do Aquinate em Perspectiva.
Aprofundamentos para e a partir das Ciências Sociais".
Não há
contradição entre fé e razão
"Certamente
Santo Tomás não cultivou as ciências sociais como as entendemos hoje",
observa Francisco, mas, no entanto, com seus estudos, foi um precursor delas, e
isso porque para ele era evidente, e afirma isso na Summa, que a
pessoa, como criatura de Deus, representa "o que há de mais nobre em todo
o universo". E como, em nível do pensamento, o Aquinate sustentava que
Deus é "a verdade e a luz que ilumina todo o entendimento" e que,
portanto, não possa haver "nenhuma contradição fundamental entre a verdade
revelada e aquela descoberta pela razão", segue-se que "os bens
espirituais precedem aqueles materiais e que o bem comum da sociedade precede
aquele dos indivíduos".
No homem,
"a inteligência de Deus"
Francisco
destaca, por exemplo, a atenção que o Doctor Angelicus dedica
às questões de justiça, especialmente nos Comentários, o que deixa
clara a sua "influência na formação do pensamento moral e jurídico
moderno". O Aquinate, recorda o Papa, afirma "a dignidade intrínseca
e a unidade da pessoa humana" - tanto as virtudes do corpo como as
"da alma racional" - que lhe permitem distinguir entre o verdadeiro e
o falso e entre o bem e o mal". É aquela que Santo Tomás chama de
"inteligência de Deus", ou seja, a "capacidade inata" de um
homem "de discernir e de ordenar ou dispor os atos para seu fim último por
meio do amor", também conhecida como "lei natural".
Uma visão
sempre atual
E é aí que
reside a modernidade do autor da e Summa, já que hoje - afirma Francisco -
é essencial dar uma nova consideração a essa, como o Aquinate a chama,
"inclinação natural para conhecer a verdade sobre Deus e para viver em
sociedade", a fim de, acrescenta o Papa, "moldar o pensamento e as
políticas sociais de forma a promover, em vez de impedir, o autêntico
desenvolvimento humano dos indivíduos e dos povos". A confiança de Tomás
em uma lei natural escrita no coração do homem pode oferecer, insiste
Francisco, "percepções novas e válidas para o nosso mundo globalizado,
dominado pelo positivismo jurídico e pela casuística", mesmo que - ele
reconhece - "continue a buscar bases sólidas para uma ordem social justa e
humana".
Onde nasce
a Doutrina Social
Como pensador cristão, Tomás de Aquino reconhece a ação da "graça redentora" trazida por Jesus na ação humana, que, além de seus benefícios espirituais, tem, observa Francisco, "ricas implicações" para a compreensão da dinâmica de "uma ordem social sólida fundada na reconciliação, na solidariedade, na justiça e no cuidado mútuo". Nesse ponto, o Papa cita Bento XVI em apoio, que na Caritas in Veritate afirmou que o homem e a mulher, como objetos do amor de Deus, tornam-se, por sua vez, sujeitos da caridade, chamados a refletir essa caridade e a tecer redes de caridade a serviço da justiça e do bem comum. Uma dinâmica de "caridade recebida e doada" que - ele observa - deu origem à Doutrina Social da Igreja", cujo objetivo é explorar como "os benefícios sociais da Redenção podem se tornar visíveis na vida de homens e mulheres".
Francisco conclui com um pensamento afinado com a Quaresma para reiterar que a reflexão deve sempre ser combinada com uma demonstração prática do amor cristão. "Durante estes anos de meu pontificado", escreve ele, "procurei privilegiar o gesto do lava-pés", que é "sem dúvida um símbolo eloquente das bem-aventuranças" de Jesus e "de sua expressão concreta nas obras de misericórdia". Porque "Jesus sabia que, quando se trata de inspirar o coração humano, os exemplos são mais importantes do que um fluxo de palavras".
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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