Paschalis Sollemnitatis: A Preparação e
Celebração das Festas Pascais
IV. A MISSA
“IN CENA DOMINI”
44. “Com a missa celebrada nas horas vespertinas da Quinta-feira Santa,
a Igreja dá início ao tríduo pascal e recorda aquela última ceia em que o
Senhor Jesus, na noite em que ia ser traído, tendo amado até ao extremo os seus
que estavam no mundo, ofereceu a Deus Pai o seu Corpo e Sangue sob as espécies
do pão e do vinho e deu-os aos apóstolos como alimento, e ordenou-lhes, a eles
e aos seus sucessores no sacerdócio, que fizessem a mesma oferta”.[50]
45. Toda a atenção da alma deve estar orientada para os mistérios, que
sobretudo nesta missa são recordados: a saber, a instituição da Eucaristia, a
instituição da Ordem sacerdotal e o mandamento do Senhor sobre a caridade
fraterna: tudo isto seja explicado na homilia.
46. A missa “In Cena Domini” é celebrada nas horas vespertinas, no tempo
mais oportuno para
uma plena participação de toda a comunidade local. Todos os presbíteros
podem concelebrá-la, ainda que tenham já concelebrado neste dia a missa do
Crisma, ou então devam celebrar outra missa para o bem dos fiéis.[51]
47. Nos lugares em que seja requerido por motivos pastorais, o ordinário
do lugar pode conceder a celebração de uma outra missa nas igrejas e oratórios,
nas horas vespertinas e, no caso de verdadeira necessidade, também de manhã,
mas só para os fiéis que não podem de modo algum tomar parte na missa
vespertina. Evite-se, todavia, que estas celebrações se façam em favor de
pessoas particulares ou de pequenos grupos e que não constituam um obstáculo
para a missa principal.
Segundo antiquíssima tradição da Igreja, neste dia são proibidas todas
as missas sem o povo.[52]
48. Antes da celebração, o tabernáculo deve estar vazio.[53] As hóstias para a comunhão dos fiéis devem ser
consagradas na mesma celebração da missa.[54]
Consagrem-se nesta missa hóstias em quantidade suficiente para este dia e para
o dia seguinte.
49. Reserve-se uma capela para a conservação do Santíssimo Sacramento e
seja ela ornada de modo conveniente, para que possa facilitar a oração e a
meditação: recomenda-se o respeito daquela sobriedade que convém à liturgia
destes dias, evitando ou removendo qualquer abuso contrário.[55]
Se o tabernáculo é colocado numa capela separada da nave central, convém
que nela seja disposto o lugar para a reposição e a adoração.
50. Durante o canto do hino Glória a Deus toquem-se os
sinos. Concluído o canto, eles permanecerão silenciosos até à vigília pascal,
segundo os costumes locais; a não ser que a Conferência Episcopal ou o
ordinário do lugar determinem diversamente, segundo a oportunidade.[56] Durante este tempo o órgão e os outros instrumentos
musicais podem ser utilizados só para sustentar o canto.[57]
51. O lava-pés que, por tradição, é feito neste dia a alguns homens
escolhidos, significa o serviço e a caridade de Cristo, que veio “não para ser
servido, mas para servir”.[58] Convém que esta tradição
seja conservada e explicada no seu significado próprio.
52. Durante a procissão das ofertas, enquanto o povo canta o hino Onde
há caridade e amor, podem ser apresentados os dons para os
pobres, especialmente os que foram recolhidos no tempo quaresmal como frutos de
penitência.[59]
53. Para os doentes que recebem a Comunhão em casa, é mais oportuno que
a Eucaristia, tomada da mesa do altar no momento da Comunhão, seja a eles
levada pelos diáconos ou acólitos ou ministros extraordinários, para que possam
assim unir-se de maneira mais intensa à Igreja que celebra.
54. Concluída a oração após a Comunhão, forma-se a procissão que,
passando pela igreja,
acompanha o Santíssimo Sacramento ao lugar da reposição. A procissão é
precedida pelo cruciferário; levam-se os círios acesos e o incenso. Durante a
procissão, canta-se o hino pange língua ou outro cântico
eucarístico.[60] A procissão e a reposição do
Santíssimo Sacramento não podem ser feitas nas igrejas em que na Sexta-feira
Santa não se celebra a paixão do Senhor.[61]
55. O Sacramento seja conservado num tabernáculo fechado. Nunca se pode
fazer a exposição com o ostensório. O tabernáculo ou o cibório não deve ter a
forma de um sepulcro.
Evite-se o termo mesmo de sepulcro: com efeito, a capela da
reposição é preparada não para representar a sepultura do Senhor,
mas para conservar o pão eucarístico para a Comunhão, que será distribuída na
Sexta-feira da paixão do Senhor.
56. Convidem-se os fiéis a permanecer na igreja, depois da missa “In
Cena Domini”, por um determinado espaço de tempo na noite, para a devida
adoração ao Santíssimo Sacramento solenemente ali conservado neste dia.
Durante a adoração eucarística prolongada pode ser lida uma parte do Evangelho
segundo João (cap. 13-17). Após a meia-noite, esta adoração seja feita sem
solenidade, já que começou o dia da paixão do Senhor.[62]
57. Concluída a missa é desnudado o altar da celebração. Convém cobrir
as cruzes da igreja com um véu de cor vermelha ou roxa, a não ser que já tenham
sido veladas no sábado antes do V domingo da Quaresma. Não se podem acender
velas ou lâmpadas diante das imagens dos santos.
V. A
SEXTA-FEIRA SANTA
58. Neste dia, em que “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado”[63], a Igreja, com a meditação da paixão do seu Senhor e
Esposo e adorando a cruz, comemora o seu nascimento do lado de Cristo que
repousa na cruz, e intercede pela salvação do mundo todo.
59. A Igreja, seguindo uma antiquíssima tradição, neste dia não celebra
a Eucaristia; a sagrada Comunhão é distribuída aos fiéis só durante a
celebração da paixão do Senhor; aos doentes, impossibilitados de participar
desta celebração, pode-se levar a Comunhão a qualquer hora do, dia.[64]
60. A Sexta-feira da paixão do Senhor é dia de penitência obrigatória
para a Igreja toda, a ser observada com a, abstinência e o jejum.[65]
61. Está proibido celebrar neste dia qualquer sacramento, exceto os da
Penitência e da Unção dos Enfermos.[66] As exéquias
sejam celebradas sem canto e sem o som do órgão e dos sinos. 62. Recomenda-se
que o ofício da leitura e as laudes deste dia sejam celebrados nas igrejas, com
participação do povo (cf. n. 40).
63. A celebração da paixão do Senhor deve ser realizada depois do
meio-dia, especialmente pelas três horas da tarde. Por razões pastorais pode-se
escolher outra hora mais conveniente, para que os fiéis possam reunir-se com
mais facilidade: por exemplo, desde o meio-dia até ao entardecer, mas nunca
depois das vinte e uma horas.[67]
64. Respeite-se religiosa e fielmente a estrutura da ação litúrgica da
paixão do Senhor (liturgia da palavra, adoração da cruz e sagrada Comunhão),
que provém da antiga tradição da Igreja. A ninguém é licito introduzir lhe mudanças de próprio arbítrio.
65. O sacerdote e os ministros dirigem-se para o altar em silêncio, sem
canto. No caso de alguma palavra de introdução, esta deve ser feita antes da
entrada dos ministros.
O sacerdote e os ministros, feita a reverência ao altar, prostram-se:
esta prostração, que é um rito próprio deste dia, seja conservada
diligentemente, pois significa não só a humilhação do “homem terreno”[68], mas também a tristeza e a dor da Igreja.
Durante a entrada dos ministros os fiéis permanecem em pé, e depois
ajoelham-se e oram em silêncio.
66. As leituras devem ser lidas integralmente. O Salmo ResponsoriaI e a
aclamação ao Evangelho sejam executados no modo habitual. A história da paixão
do Senhor segundo João é cantada ou lida, como no domingo precedente (cf. n.
33). Depois da leitura da paixão, faça. se a homilia e, ao final da mesma, os
fiéis podem ser convidados a permanecer em meditação por um breve tempo.[69]
67. A oração universal deve ser feita segundo o texto e a forma
transmitidos pela antigüidade, com toda a amplitude de intenções, que expressam
o valor universal da paixão de Cristo, pregado na cruz para a salvação do mundo
inteiro. Em caso de grave necessidade pública, o Ordinário do lugar pode
permitir ou estabelecer que se acrescente alguma intenção especial.[70]
É consentido ao sacerdote escolher, entre as intenções propostas no
Missal, aquelas mais adequadas às condições do lugar, contanto que se mantenha
a ordem das intenções, indicada para a oração universal.[71]
68. A cruz a ser apresentada ao povo seja suficientemente grande e
artística. Das duas formas indicadas no Missal para este rito, escolha-se a
mais adequada. Este rito deve ser feito com um esplendor digno da glória do
mistério da nossa salvação: tanto o convite feito ao apresentar a cruz como a
resposta dada pelo povo sejam feitos com o canto. Não se omita o silêncio
reverente depois de cada uma das prostrações, enquanto o sacerdote celebrante,
permanecendo de pé, mostra elevada a cruz.
69. Apresente-se a cruz à adoração de cada um dos fiéis, porque a
adoração pessoal da cruz é um elemento muito importante desta celebra ção. No
caso de uma assembléia muito numerosa, use-se o rito da adoração feita
contemporaneamente por todos.[72]
Use-se uma única cruz para a adoração, tal como o requer a verdade do
sinal. Durante a adoração da cruz cantem-se as antífonas, os “impropérios” e o
hino, que recordam com lirismo a história da salvação[73],
ou então outros cânticos adequados (cf. n. 42).
70. O sacerdote canta a introdução ao Pai-Nosso, que é cantado por
toda a assembléia. Não se dá o sinal da paz.
A Comunhão é distribuída segundo o rito descrito no Missal. Durante a
Comunhão pode-se cantar o Salmo[74], ou outro cântico
apropriado. Concluída a distribuição da Comunhão, a píxide é levada para o
lugar já preparado fora da igreja.
71. Depois da Comunhão procede-se à desnudação do altar, deixando a cruz
no centro, com quatro castiçais. Disponha-se na igreja um lugar adequado (por
exemplo, a capela da reposição da Eucaristia na Quinta-feira Santa), para
colocar ali a cruz, a fim de que os fiéis possam adorá-la, beijá-la e
permanecer em oração e meditação.
72. Pela sua importância pastoral, sejam valorizados os pios exercícios,
como a Via-sacra, as procissões da paixão e a memória das dores da
bem-aventurada Virgem Maria. Os textos e os cânticos destes pios exercícios
correspondam ao espírito litúrgico deste dia. O horário desses pios exercícios
e o da celebração litúrgica sejam de tal modo dispostos, que apareça claro que
a ação litúrgica, por sua mesma natureza, está acima dos pios exercícios. 7.
VI. O
SÁBADO SANTO
73. Durante o Sábado Santo a Igreja permanece junto do sepulcro do
Senhor, meditando a sua paixão e morte, a sua descida aos infernos[75], e esperando na oração e no jejum a sua ressurreição.
Recomenda-se com insistência a celebração do oficio da leitura e das laudes com
a participação do povo (cf. n. 40). Onde isto não é possível, prepare-se uma
celebração da palavra ou um pio exercício que corresponda ao mistério deste
dia.[76]
74. Podem ser expostas na igreja, para a veneração dos fiéis, a imagem
de Cristo crucificado ou deposto no sepulcro, ou uma imagem da sua descida aos
infernos, que ilustra o mistério do Sábado Santo, bem como a imagem da
Santíssima Virgem das Dores.
75. Neste dia a Igreja abstém-se absolutamente do sacrifício da missa.[77] A sagrada Comunhão só pode ser dada como viático. Não
se conceda a celebração de matrimônios nem a administração de outros
sacramentos, exceto os da Penitência e da Unção dos Enfermos.
76. Os fiéis sejam instruídos sobre a natureza particular do Sábado
Santo.[78] Os usos e as tradições de festa vinculados
com este dia por causa da antiga antecipação da vigília para o Sábado Santo
devem ser transferidos para a noite ou para o dia da Páscoa.
Da sede da Congregação para o Culto Divino, a 16 de janeiro de 1988.
Paul
Augustin Card. MAYER
Prefeito
† Virgílio NOÉ
Secretário
Notas:
[50] Cf. Caeremoniale Episcoporum, n. 297.
[51] Cf. Missal Romano, Missa
vespertina um Cena Domini.
[54] Cf. Conc. VAT. II, Const. Sacrosanctum
Concilium. n. 55; S. Congr. dos Ritos, Instrução Eucharisticum
mysterium, 25.5.1967, n. 31, AAS 59 (1967) 557. 558.
[55] S. Congr. dos Ritos, Decr. Maxima
redemptionis nostrae mysteria. 16111955, n. 9, AAS 47
(1955) 845.
[56] Cf. Missal Romano, Missa
vespertina “In Cena Domini”, n. 3.
[57] Cf. Caeremoniale Episcoporum, n. 300.
[59] Cf. Caeremoniale Episcoporum, n. 303.
[60] Cf. Missal Romano, Missa
vespertina “In Cena Domini” , n. 15. 16.
[61] Cf. S. Congr. dos Ritos, Declaração de
153. 1956, n. 3, AAS 48 (1956) 153; S. Congr. dos Ritos, “Ordinationes
et declarationes circa Ordinem hebdomadae sanctae Instauratum”, 1. 2. 1957, n.
14, AAS 49 (1957) 93.
[62] Cf. Missal Romano, Missa
vespertina “In Cena Domini”, n… 21; S. Congr. dos Ritos, Decr. Maxima
redemptionis nostrae mysteria, 16.11.1955, n. 8. 10, AAS 47
(1955) 645.
[64] Cf. Missal Romano,
Sexta-feira Santa, n. 13.
[65] Cf. Paulo VI, Const. Apost. Paenitemini,
II, 2, AAS 58 (1966) 183: Código de Direito Canônico, cân.
1251.
[66] cr. Missal Romano,
Sexta-feira Santa, n. 1; Congr. para o Culto Divino, “Declaratio ad Missale
Romanum”, em Notitiae 13 (1977) 602.
[67] Cf. ibid., n. 3; s. Congr.
dos Ritos, “Ordinationes et Declarationes circa Ordinem hebdomadae sanctae
instauratum”, 1.2.1957, n. 15, AAS 49 (1957) 94.
[68] Ibid., n. 5, segunda oração.
[69] Ibid., n. 9; Caeremoniale Episcoporum, n.
319.
[71] Cf. Míssal Romano, Princípios
e Normas para o uso do Missal Romano”, n. 46.
[72] Cf. Missal Romano,
Sexta-feira Santa, n. 19.
[74] Cf. Conc. Vat. II, Const. Sacrosanctum
Concilium, n. 13.
[75] Cf. Missal Romano, Sábado Santo; cf. Símbolo dos
Apóstolos; 1Pd 3, 19.
[76] Cf. “Princípios e Normas para a Liturgia
das Horas”, n. 210.
[77] Missal Romano, Sábado Santo.
[78] S. Congr. dos Ritos, Decr. Maxima
redemptionis nostrae mysteria, 16.11.1955, n. 2, AAS 47
(1955) 843.
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