No século III, Marino, um oficial do Império Romano, era reconhecido pelo seu valor militar, e por isso candidato a um cargo importante, o de centurião na Cesaréia, em Israel, sob o domínio romano. Marino era cristão, embora não abertamente por causa das perseguições constantes. A sua provável indicação ao cargo despertou a inveja de outros militares que também o cobiçavam, e um deles, sabendo da sua crença religiosa, invocou uma lei antiga, pela qual era necessário, para assumir tal posto, sacrificar aos deuses romanos; intentava assim que Marino publicamente se declarasse cristão, de modo a poder ser incriminado.
De fato, Marino não hesitou em assumir publicamente a sua Fé, alegando que não poderia fazer um ato de adoração a falsos deuses. Normalmente teria sido imediatamente condenado, mas por causa do seu prestígio e a admiração de muitos, teve como concessão um período de três horas para decidir entre a apostasia e a sentença de morte.
Saindo do Pretório, onde dera o seu testemunho, encontrou-se – certamente de forma providencial – com um bispo, Teocteno. Ou o bispo já ouvira sobre a sua sentença (ou talvez o soubesse por inspiração divina), ou Marino lhe expôs a situação. Teocteno o levou a uma igreja, e ali, diante de uma espada e dos escritos do Evangelho, instruiu-o a decidir entre um e outro, ressaltando que tal escolha deveria ser digna de um cristão.
Marino logo colocou as mãos sobre os santos escritos. Teocteno, então, disse-lhe, como despedida: “Conta com a graça de Deus para permaneceres fiel à tua escolha e mereceres as recompensas prometidas pelo Evangelho.”
Ao fim do prazo determinado, Marino apresentou-se ao tribunal e, diante das autoridades, confirmou a sua fé e a impossibilidade de prestar ao imperador de Roma um culto que só pode ser oferecido a Deus. Em seguida foi executado por degolação.
Outro cristão, o senador Astério, estava presente na execução, e envolveu na sua capa a cabeça e o corpo do mártir, transportando-a sobre os próprios ombros para sepultá-lo de modo digno. Ele não ignorava que tal atitude pudesse colocá-lo também em perigo de vida, e realmente foi também condenado e morto. Assim ambos receberam a coroa da glória, em torno do ano de 260.
Reflexão:
Numerosos foram os cristãos, e militares romanos, que abraçaram o martírio nos inícios do Igreja, por conta das perseguições pagãs e imperiais. Contudo, o império mundano nada pode diante do poder verdadeiro que é Deus. São Marino, na sua época, já sofria as tentações e pressões que antes, hoje e sempre existirão para escolhermos o mais cômodo e prazeroso, ainda que às custas de trair a Cristo e perder a alma; e realizava aquilo que São João Paulo II, mais recentemente, nos convida a fazer: avançar para mares mais profundos. De fato, a nossa Fé deve ter a largueza do mar, a profundidade e a extensão onde se descobrem os verdadeiros tesouros, da paz, da realização, do Amor. A palavra corta mais fundo do que a espada (Hb 4,12: “Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração. Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante dos olhos Daquele a Quem havemos de prestar contas.”), e São Marino de Cesaréia soube escolher a melhor arma para a sua salvação. Escreveu assim, da forma mais penetrante possível, o exemplo que devemos seguir, se de fato aspiramos ao sucesso que não passará, como passam as situações desta vida. E para isto nunca falta a Providência divina. No momento mais importante da sua existência, o Senhor colocou no caminho de São Marino um Seu representante, o bispo Teocteno, para lhe garantir a graça necessária à fidelidade espiritual. Também a nós, no curto intervalo das horas nesta passagem terrena, Deus nos oferece constantemente o Seu apoio e proteção, o vigor necessário que nos chega pela Igreja Católica, oração, pelos Sacramentos, e particularmente pelo alimento da Eucaristia, de modo a garantir a vida infinita, que nos vem através da morte para o pecado, isto é, para o apego a um mundo que caminha inexoravelmente para a degola. Santo Astério não demostra menos coragem que São Marino. Sabendo do risco à sua vida, não deixou de praticar a caridade (enterrar os mortos é uma das obras de misericórdia corporais), e é pela caridade que seremos salvos. Ele também nos ensina, por bela metáfora encarnada, a verdadeira valorização do corpo: o seu sepultamento digno traz a Vida, enquanto que a vida dissoluta da carne é morte; e para viver é portanto necessário unir, já aqui na terra, o corpo e a Cabeça da Igreja, pois aquele não pode viver sem Esta.
Oração:
Senhor Deus, que nos mergulha no mar da Vossa misericórdia, dai-nos as graças necessárias para resistir ao mundo, ao império das tentações pagãs, aos constrangimentos e perseguições, para que, a exemplo e por intercessão de São Marino de Cesaréia e São Astério, sermos capazes de carregar nos ombros a dignidade da verdadeira escolha cristã, na firmeza da Fé e na vivência da caridade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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