VIVER A LITURGIA NA PARÓQUIA
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Cadernos do Concílio – Volume 8
Dando continuidade à nossa preparação para o
grande jubileu do próximo ano e aos sessenta anos de encerramento do Concílio
Ecumênico Vaticano II, nos debruçaremos ao longo desse artigo em mais um volume
da coleção Cadernos do Concílio, que recorda os principais documentos desse
Concílio marcante para a história da Igreja. O Magistério da Igreja resolveu
fazer isso em preparação ao jubileu para que possamos ter contato novamente com
esses documentos, e ainda de certa forma reviver o Concílio Ecumênico Vaticano
II.
Antes de querermos realizar um outro Concílio,
ou criarmos “ideologias” para não aceitar o Concílio Vaticano II, temos que
viver muita coisa deste Concílio Ecumênico que ainda não foi vivido. Como bem
sabemos grande parte das atualizações que Concílio propôs foi a reforma
litúrgica. Tudo aquilo que a Igreja faz ou propõe é para melhorar a
participação dos fiéis e fazer com que os batizados cresçam em sua vida de
fé.
A liturgia não envolve somente a celebração da
Santa Missa, mas todo momento de oração é regido pela sagrada liturgia. Podemos
dizer que a liturgia orienta aquilo que vai acontecer ao longo da Missa ou do
momento de oração. Para que a liturgia aconteça de maneira ordenada e tudo saia
corretamente é preciso em primeiro lugar preparar bem e em segundo lugar
aqueles que tiverem a frente da liturgia não devem fazer nada correndo ou com
pressa, mas realizar tudo devagar e com calma.
A liturgia é da Igreja e está no coração da
Igreja, por isso, ao longo dela deve-se evitar algumas ideologias e não “criar”
uma liturgia própria. Por isso temos que seguir aquilo que foi proposto na
reforma litúrgica para caminharmos juntos como Igreja. Lembrando que fazemos
parte de um Corpo que tem Cristo como cabeça. Toda a liturgia deve estar
voltada para a cabeça que é Cristo.
A liturgia é para além da história, ou seja,
surgiu há muitos anos, desde o Antigo Testamento era celebrada, é claro, que
não da forma que conhecemos hoje, mas foi se adaptando ao longo do tempo. No
Antigo Testamento o povo judeu se reunia no templo para recitar salmos e ouvir
a Torah. No Novo Testamento o povo judeu se reunia nas sinagogas para meditar a
Torah e recitar os salmos. Jesus rezava com os seus discípulos meditando os
salmos. Na noite da última Ceia, antes de lavar os pés dos discípulos e partir
o pão, Jesus rezou com os discípulos recitando os salmos. Após a ressurreição
de Jesus, os discípulos iniciando a vida da Igreja primitiva celebravam a
liturgia, anunciando a Palavra, partilhando tudo o que tinham em comum e
partindo o pão. Nos dias de hoje, muita coisa mudou, mas a essência permaneceu,
o anúncio da Palavra e a partilha do pão. Ao longo da Missa participamos de
duas grandes mesas: a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia, temos que abrir
os ouvidos e o coração para que a Palavra faça morada em nós, após acolhermos a
Palavra, comungamos da Eucaristia.
Em toda Missa recordamos do mistério Pascal de
Cristo, ou seja, fazemos memória daquilo que aconteceu na última Ceia. Esse
fazer memória não é apenas uma repetição das palavras de Jesus na última ceia e
nem um mero teatro, mas naquele momento o sacerdote age na pessoa de Cristo, ou
seja, é o próprio Cristo ali presente, e pede ao Pai para que envie o Espírito
Santo para que aquelas oferendas do pão e do vinho se tornem no Corpo e Sangue
de Cristo. Portanto, ao fazer memória do que aconteceu na última Ceia, tornamos
ao mesmo tempo esse acontecimento atual. Por isso, que é mistério e o sacerdote
ao final diz: “Mistério da fé”. O memorial faz parte da liturgia
todas as vezes que invocamos a presença de Jesus no meio de nós. O sacerdote
diz ao menos três vezes ao longo da missa a frase: “O Senhor esteja
convosco” e respondemos: “Ele está no meio de nós”. Cristo
está no meio de nós através do Espírito Santo, que além de animar a vida da
comunidade, torna possível o mistério que está sendo celebrado.
A liturgia ainda se adapta as diferentes
culturas, ou seja, a liturgia fala a língua do povo e quer estar próxima do
povo. Quando Jesus enviou os discípulos no dia de Pentecostes, os enviou aos
quatro cantos da terra, ou seja, a Igreja é universal, presente no mundo todo,
por isso, em cada lugar a liturgia se adapta a cultura local, mas não perdendo
a essência do mistério que é Cristo.
Esse Caderno nº 8 do Concílio escrito por
Samuele Ugo Riva ainda faz um alerta para que tenhamos o cuidado de não fazer
“exageros” na liturgia, ou seja, conforme já disse o centro da liturgia é
Cristo, Ele é a essência, por isso, temos que ter o cuidado de ao celebrarmos a
liturgia não perder essa essência. O texto diz ainda a respeito do Domingo:
esse é o dia por excelência, dia da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O cristão é convidado a viver esse dia com alegria e intensidade, sendo a Missa
como obrigatoriedade nesse dia.
Nos dias de hoje temos que resgatar em
nossas famílias a importância do Domingo. Infelizmente hodiernamente com o
avanço da tecnologia e outros atrativos as famílias acabam deixando a Missa de
lado, o lazer o descanso, e o estar com a família são possíveis nesse dia, mas
não podemos perder a essência do Domingo e dedicar esse dia ao
Senhor.
A liturgia deve ser vibrante e não reduzida a um ritual árido e incompreensível. A liturgia não pode ser engessada, mas a liturgia deve ser animada e conduzir as pessoas ao mistério celebrado. Na liturgia é toda a comunidade que celebra e o sacerdote é o presidente da celebração.
Conforme diz o título desse documento, devemos viver a liturgia na paróquia e vivê-la bem com afinco e alegria. Em cada paróquia deve haver um grupo responsável pela liturgia para preparar, aprofundar e animar a vida da comunidade e esse grupo, juntamente com o sacerdote, deve conduzir a comunidade ao mistério central que é Cristo. Animados pelo Espírito Santo vivamos de maneira intensa a liturgia e tenhamos gosto por participar da missa, sobretudo as dominicais.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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