Por; Pe. Nilton Cesar
Boni, cmf
Miqueias,
cujo nome significa “quem como Javé”, nasceu em Moreshet-Gath, a 35 quilômetros
de Jerusalém, no século VIII a.C. Era um homem do povo, criado na zona rural, e
falava com simplicidade. Foi vítima das opressões. Fazia parte do reino de Judá
e sua cidade era cercada por fortalezas e quartéis com numerosos soldados e
oficiais para garantir a segurança do reino. Viveu num ambiente cercado por
grandes proprietários de terra, altos impostos, muitos problemas sociais como
roubos, trabalho escravo, prostituição e aldeias sendo saqueadas. Atuou nos
reinados de Joatão, Acaz e Ezequias e era contemporâneo dos profetas Oseias e
Isaías.
A definição
de seu nome já nos introduz em sua missão, marcada por uma profunda experiência
de Deus revelada por meio de visões. Esse profeta, imerso na realidade
conflitante do povo, começa a denunciar os abusos de autoridade dos
governantes, suscitando incômodo. Suas denúncias estão ligadas à dominação dos
lavradores por meio de corrupção, exploração, propinas, interesses em poder,
massacre dos pobres e indefesos.
Sua fé foi
alimentada desde a infância em um ambiente temente a Deus e marcado pelo desejo
de justiça. A esperança era o selo de sua existência e por ela se ocupou até o
fim de sua vida.
Miquéias,
em seus escritos, refletiu sobre as duas classes de autoridade que exercem
influência direta nas pessoas. A primeira é a autoridade falsa exercida pelos
governantes civis, que amam a maldade e detestam o bem, a dos líderes
religiosos, que se corrompem esperando pagamento e a dos líderes morais que
usam o povo para guerrear em nome da paz. A outra é a autoridade verdadeira,
alimentada e administrada por Deus, que gera paz e salvação.
O mais
importante na pregação de Miqueias é fazer as pessoas retornarem ao verdadeiro
templo de Deus e colocá-lo no centro de sua peregrinação. É dessa forma que o
pecado será exterminado e Jerusalém voltará a ser a cidade santa onde o amor
brilhará. “Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti:
que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante
do teu Deus” (Mq 6,8).
A promessa
que Javé faz a Miqueias é reaver o seu povo perdido moralmente e explorado
pelos poderosos. A bondade de Deus em proteger seu povo é marca nesse profeta.
O amor e a fraternidade é que estabelecem vínculos de paz e intimidade com Deus
e o próximo, por isso, é direito que todos tenham a dignidade assegurada pelos
líderes civis e religiosos.
Miqueias
propõe a formação de uma consciência moral reta que assegura os valores éticos
fundamentais, sustentando a comunidade humana e transformando-a num espaço de
encontro e paz. É preciso reeducar ética e religiosamente a sociedade que
prioriza o ter sobre o ser, restaurando o indivíduo para um mundo melhor onde a
liberdade e a responsabilidade sejam marcas de seu compromisso com o Reino de
Deus. Nesse sentido, podemos colocar em prática os desejos de Deus para que a
vida tenha sentido e o bem prevaleça. Só o amor transfigurante do Senhor pode
dar ao ser humano a resposta para cumprir sua missão de ser filho amado e
escolhido.
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