No discurso de abertura do
Concílio Ecumênico Vaticano II, em 11 de outubro de 1962, na alocução solene
Gaudet Mater Ecclesia São João XXIII utilizou essa imagem da Igreja como Esposa
de Cristo: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da
misericórdia que o da severidade”.
Jackson
Erpen – Cidade do Vaticano
É no n. 6
da Constituição Dogmática Lumen Gentium que a Igreja vem tão
belamente descrita como “esposa imaculada do Cordeiro imaculado”. Diz
o Livro do Apocalipse: “Fiquemos alegres e contentes, e demos glória a
Deus, porque chegou o tempo das núpcias do Cordeiro. Sua esposa já se preparou.
Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, descendo do céu, de junto de Deus,
vestida como noiva enfeitada para o seu esposo. O Espírito e a Esposa dizem:
“Vem”! Aquele que ouve também diga: “Vem”! Quem tem sede, venha, e quem quiser,
receba de graça a água vivificante” (Apoc. 19,7; 21,2. 9; 22,17).
No programa
de hoje, *Padre Gerson Schmidt dá prosseguimento
a sua série de reflexões sobre as imagens da Igreja descritas na
Constituição Lumen Gentium:
“Uma das
imagens bonitas, utilizadas pela Lumen Gentium,
referindo-se à Igreja é que ela é a Esposa de Cristo. Já falamos aqui das
outras imagens: Igreja como povo
de Deus, Corpo de Cristo. Hoje acentuamos a imagem da Igreja como
Esposa de Cristo.
No fim do
milênio, São João Paulo II - na sua Carta
Apostólica Novo Millennio Ineunte – dizia que era
possível restabelecer o equilíbrio entre esta visão da Igreja condicionada
pelos debates do momento, e a visão espiritual e mistérica do Novo Testamento e
dos Padres da Igreja. A pergunta fundamental não é “O que é a Igreja”, mas
“quem é a Igreja?”.
A grande
resposta que aqui podemos dar, a partir da reflexão dos padres conciliares que
a Igreja é corpo e esposa de Cristo. A alma e o conteúdo
cristológico da Lumen Gentium (LG) emergem especialmente no capítulo I, onde se
apresenta a Igreja como a esposa de Cristo e corpo de Cristo. Para o título de
esposa, se lê assim na Lumen Gentium, número 06: A Igreja,
chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe» (Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é
também descrita como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2.
9; 22,17), a qual Cristo ‘amou e por quem Se entregou, para a santificar’ (Ef.
5, 25-26), uniu a Si por um indissolúvel vínculo, e sem cessar ‘alimenta e
conserva’ (Ef. 5,29), a qual, purificada, quis unida a Si e submissa no amor e
fidelidade (cfr. Ef. 5,24), (LG, 6).
As grandes
referências utilizadas aqui, nessa imagem da Igreja como esposa de Cristo, são
tiradas da carta de São Paulo aos Efésios, onde Paulo faz uma belíssima
comparação do amor esponsal de Cristo que se entregou por inteiro, na cruz por
amor a Igreja como o é o matrimônio cristão. Da mesma forma, como Cristo amou a
sua Igreja e se entregou a ela, no matrimônio, os maridos devem amar as suas
esposas. Há uma unidade esponsal de Cristo com sua Igreja da mesma maneira que
no matrimônio.
Também aqui
foi mérito do então cardeal Ratzinger o ter destacado a intrínseca relação
entre estas duas imagens da Igreja: a Igreja é corpo de Cristo porque é esposa
de Cristo! Em outras palavras, na origem da imagem paulina da Igreja como corpo
de Cristo não está a metáfora estóica da concórdia das partes no corpo humano
(embora as vezes ele utiliza também esta aplicação, como em Rom 12, 4 ss em 1
Cor 12, 12 ss), mas há a ideia esponsal da única carne que o homem e a mulher
formam unindo-se em matrimônio (Ef 5, 29-32) e ainda mais a ideia eucarística
do único corpo que formam aqueles que comem o mesmo pão: “Uma vez que há um
único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós
comungamos do mesmo pão.”(1 Cor 10, 17).
Da mesma forma como homem e mulher se tornam uma só carne pelo amor esponsal, pela entrega mútua dos corpos e corações, desta maneira a Igreja também se torna uma só carne, o corpo místico de Cristo, pela entrega de Cristo na cruz, uma vez por todas pela Igreja, pela salvação de todos nós, filhos dessa Igreja pelo batismo. Deixemos essa frase do Cardeal Ratzinger ecoar hoje: “a Igreja é corpo de Cristo porque é esposa de Cristo!”. Portanto, há aqui uma esponsalidade, uma aliança, um amor mútuo, uma entrega, uma unidade indivisível entre Cristo e a Igreja. Bem por isso, entendemos quando Saulo escuta a voz no Caminho de Damasco: “Eu sou o Cristo a quem tu persegues”. Perseguindo os cristãos, Saulo estava perseguindo o próprio Cristo. São João XXIII, que abriu o Concílio em 11 de Outubro de 1962, no discurso de abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, na alocução solene Gaudet Mater Ecclesia, utilizou essa imagem da Igreja como Esposa de Cristo: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade”.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
Nenhum comentário:
Postar um comentário