A PRESENÇA DO RESSUSCITADO NOS PASSOS DA NOSSA VIDA
Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A fé
é certamente um dom, e aqueles que crêem no Senhor ressuscitado, como nos
apresentam os Evangelhos, são envolvidos num caminho de busca que os conduz a
Deus através da escuta da Palavra, da oração, da interpretação dos sinais e da
prática da caridade para com os irmãos. Quem espera “ver para crer” corre o
risco de permanecer eternamente cego na fé, de não acolher as muitas provas da
misericórdia de Deus à nossa disposição, a primeira entre todas é a morte e ressurreição
de Cristo.
Como comunidade de fé, celebramos a Páscoa do
Senhor, mas a vitória de Cristo ressuscitado não pode marcar a nossa vida de
forma positiva sem o nosso consentimento. Quando deixarmos de lado o orgulho da
autossuficiencia, venceremos as resistências do coração e aceitaremos que o
Senhor Jesus possa se fazer presente na nossa vida, não para mostrar as suas
chagas, mas para curar as nossas, que nos impedem de crer e ver o Senhor
ressuscitado presente na nossa história de vida.
Tomé queria colocar o dedo nas chagas de
Jesus, mas o Senhor ressuscitado quer tocar as chagas do nosso coração, para
curá-las com seu amor e a sua misericórdia. Deus Pai dá a cada um de nós a
oportunidade de renascermos para uma vida nova. E Jesus nos ensinou que o
Pai é misericordioso e piedoso para com seus filhos e filhas. Na vida, penso
que muitos de nós já fizemos a experiência de nos colocar diante de Deus, para
clamar pela sua misericórdia, expressando a confiança no seu amor, num grito de
dor que saía do silêncio e do mais profundo do coração.
Deus é misericórdia, “lento na ira e grande no
amor”. Isso nos leva a refletir sobre a acolhida do Pai ao filho que,
tendo abandonado a sua casa, resolve voltar, talvez só para matar a saudade, ou
para receber um abraço de vez em quando, porque não tem a coragem de voltar
definitivamente. Mas embora tenha vagado por muitos caminhos, não esqueceu o
caminho que o conduz à casa do Pai.
A comunidade cristã manifesta a comunhão com o senhor Jesus através da comunhão entre seus membros. Quando nela se vive uma autêntica comunhão de fé, ela se torna também lugar de perdão e de anúncio da misericórdia de Deus. A comunidade pode tornar-se lugar de acolhida para quem tem dificuldade em crer e necessita encontrar irmãos que deem testemunho do amor e da misericórdia de Deus. Ela é o local por excelência da comunhão, mas não é possível haver comunhão sem a misericórdia, que se expressa no perdão e na reconciliação com Deus e com os irmãos.
A desagregação e a exaltação dos egoísmos pessoais são um contratestemunho que destroem a fé, além da caridade. A força das comunidades cristãs primitivas estava no testemunho que davam do Cristo ressuscitado. E expressavam esse testemunho através de uma vida de comunhão, manifestada pelos seus membros, como um só coração e uma só alma.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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