PALAVRA DO PASTOR
VÓS SEREIS TESTEMUNHAS DE TUDO ISSO
Dom Paulo Cezar Costa
Cardeal Arcebispo de Brasília
O Evangelho deste domingo coloca
diante de nós do final da narrativa de São Lucas (Lc 24, 35-48), onde o
Ressuscitado aparece para os discípulos e lhes dá a missão do testemunho. No
início, os discípulos estão cheios de temor, depois, o temor se transforma em
alegria. Uma evolução semelhante àquela dos discípulos de Emaús como
consequência do encontro com Jesus: a tristeza inicial que faz se afastar dos
onze, transforma-se em entusiasmo que os faz retornar a Jerusalém para narrar
ao grupo aquilo que aconteceu. O texto mostra as testemunhas oficiais da
ressurreição não como vítimas de um entusiasmo passageiro, mas convencidas de
uma experiência concreta com o Senhor ressuscitado. Os apóstolos vencem a
dúvida graças à manifestação de Jesus que Se apresenta diante deles. Eles
reconhecem Jesus e O distinguem de um espirito, de um fantasma. O
reconhecimento de Jesus, nesse momento, está no reconhecimento da sua realidade
física por parte dos discípulos. Isto explica a insistência no mostrar as mãos
e os pés. A sua corporeidade, pois os discípulos chegam a tocar as suas mãos e
a comer com Ele.
Jesus recorda aos discípulos suas
palavras pronunciadas durante a Sua vida com os apóstolos, com as quais acenava
ao cumprimento das Escrituras em tudo aquilo que se referia a Ele. É um tema
presente em todo o Evangelho de São Lucas: na sinagoga de Nazaré (Lc 4, 21);
nas predições da paixão (Lc 9, 27; 17, 25); no terceiro anúncio da paixão (Lc
18, 31-33); no diálogo com Moisés e Elias durante a transfiguração, que falam
sobre o êxodo de Jesus (Lc 9, 31); na última ceia, ao afirmar que é preciso que
se cumpra Nele aquilo que está escrito (Lc 22, 37). Estes ensinamentos vêm
comunicados com termos muito semelhantes aos dos discípulos de Emaús. Os
discípulos são iluminados não só com a interpretação feita por Jesus, mas
também pela luz mesma do acontecimento da ressurreição. A falta dessa
compreensão das Escrituras tinha caracterizado a atitude dos discípulos (Lc 9,
45; 18, 34). Agora, a experiência pascal da ressurreição abre a mente para que compreendam
o significado das Escrituras.
A conversão e o perdão dos
pecados em nome de Cristo devem ser anunciados a todos os povos. Os apóstolos
devem começar a atividade missionária por Jerusalém, levando esta mensagem de
salvação a todos os povos. Este programa teve início no ministério de Jesus.
Assim, como Nele são cumpridas a morte e a ressurreição predita nas Escrituras,
é sempre Ele que inicia a pregação da conversão para a remissão dos pecados.
Jerusalém ocupa um lugar central no Evangelho, pois é o lugar aonde chega a
plenitude da obra da salvação que irá se estender a todos os povos. Jesus dá a
missão aos discípulos. Estes devem ser testemunhas de tudo isto. Aqui se liga o
fim do Evangelho com o início e desenvolvimento narrado nos Atos dos Apóstolos.
O objeto do testemunho vem descrito de forma genérica. “...vós sereis
testemunhas disso” (Lc 24, 48). Nesta expressão, está compreendido todo o
acontecimento antes: as palavras e os ensinamentos de Jesus quando estava com
eles e aquilo que foi predito pelas Escrituras, como Jesus os fez compreender,
por meio da luz, o acontecimento pascal.
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