NOVOS CENÁRIOS RELIGIOSOS
Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Quando o ser humano decide deixar Deus de
lado, sem negá-lo, mas sem lhe dar prioridade na vida, ocorre um deslocamento
que atrofia a capacidade de ir além da matéria, do visível e do limite. No
fundo, perde a fé, porque não confia em ninguém mais a não ser em si mesmo.
Perde, assim, o sentido de quem é. O humano é essencialmente um ser que precisa
do outro para ser completo. Precisa das pessoas e precisa de
Deus para se realizar plenamente. Ao priorizar o saber, o fazer, e o ter, o
homem deixa de se ocupar com o ser, o viver e o crer. É urgente priorizar o ser
sobre o fazer.
Reconhece-se que a síntese entre cristianismo
e cultura ocidental se rompeu, mesmo entre os povos mais tradicionais.
Percebemos como Jesus Cristo, para muitos em nosso tempo, já não tem
significado organizador para as suas vidas. E a crise da fé preocupa, pois
“sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as
consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé,
considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. (BENTO
XVI. Porta Fidei. n.2)
A realidade alerta para o desafio urgente de
passarmos de uma religião de herança social para uma religião de opção pessoal,
de uma sociedade unificada pela fé católica para uma sociedade constituída na
liberdade democrática e no pluralismo de ideologias, de uma igreja de massa a
uma igreja diferenciada e articulada em comunidades de discípulos
missionários.
Numa época de fragmentação é urgente um
anúncio integral do Evangelho, para todos os seres humanos e cada ser humano.
Essa integralidade, perante a fé e da realidade concebida “aos pedaços”, exige
uma ação evangelizadora integrada.
É preciso crer de forma integral. Reconhecer a fé envolve todo o ser do crente: sua vontade, seu sentimento e seu pensamento. Não poderá ser mero sentimentalismo e tampouco mera explicação racional. A fé em Cristo não aceita fanatismos e nem fundamentalismos, como alguns tentam impor como enfrentamento do pluralismo, do racionalismo e do relativismo. Ser cristão exige radicalidade no seguimento de Jesus.
O Evangelho não é um projeto, uma doutrina, uma teoria ou ideologia, mas é uma pessoa, o Cristo. Os cristãos não são repetidores de ideias sem vida, mas são testemunhas do Vivente (At 1,8), no qual fizeram a experiência da salvação.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/
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