"É Deus que quer realizar
páscoa-passagem na nossa história hodierna, desejando comer ardentemente o
cordeiro pascal conosco, como fez com os seus discípulos, antes de partir,
quando deixou seu testamento àqueles que amou e amou até o fim, até a morte, e
morte de cruz."
Jackson
Erpen - Cidade do Vaticano
“"Oh noite ditosa, em que o
Céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!" (Precônio Pascal
). Também a nós, como às mulheres que acorreram ao sepulcro, é-nos dirigida
esta palavra: «Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui;
ressuscitou!». A morte, a solidão e o medo já não são a última palavra. Há uma
palavra que vem depois e que só Deus pode pronunciar: é a palavra da
Ressurreição”, afirmou o Papa Francisco na Bênção Urbi et Orbi de 1° de abril
de 2018. “Com a força do amor de Deus – completou - , ela «afugenta os crimes,
lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes,
derruba os poderosos, dissipa os ódios, estabelece a concórdia e a paz»
(Precônio Pascal).”
Na alegria
da Festa da Ressurreição, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje
a reflexão “O dinamismo alegre e contagiante da Páscoa”:
“Retomo
aqui uma reflexão já realizada em outro momento sobre esse alegre tempo
litúrgico e maravilhoso da Páscoa. Atualizo com inovações. Importante dizer que
a Páscoa foi recuperada pela Igreja e foi selada pelo Concílio Vaticano II. O
Mistério Pascal passou a ser o centro de toda a liturgia e de todas as ações da
Igreja. Mas a Páscoa não é um acontecimento pontual. Cabe acontecer essa
passagem de Deus por meio de uma renovação em nossas vidas, em nossas Igrejas e
em nossa Igreja Universal, em nossas paróquias e comunidades, pequenas ou
grandes, para que sejam missionárias de Cristo vivo e Ressuscitado, que foi o
esplendor proclamado pelo querigma (o anúncio da Boa nova) dos
primeiros tempos calorosos da Igreja nascente. Pe. Pedro Farnés, jovem e
recém-formado no Instituto Pastoral de Liturgia de Paris, que faleceu com mais
100 anos de idade, foi na época do Concilio um liturgista fundamentalmente
importante para toda essa renovação conciliar, e outros homens ilustres como
Dom Botte e Boyer, Romano Guardini e outros teólogos e assessores que foram os
que prepararam e atuaram com intensidade no concílio.
Muita gente
escutou Farnés e se escreveu milhares de livros depois do Concílio, mas
verdadeiramente não se entendeu ainda tudo o que é a Páscoa. Depois de 40 dias,
o mistério da quaresma que trilhamos em preparação intensa para a Páscoa é para
que ela se realize em cada um, de maneira nova e decisiva. A Páscoa não é um
acontecimento qualquer e apenas litúrgico, escondido e preso nos ritos que
celebramos, mas é um acontecimento singular para que cada um de nós possa
experimentar a glorificação à qual Deus leva o ser humano. E vemos a missão da
Igreja, que será sem ruga e sem mancha; que será conduzida de ser gente
pecadora e escrava, como o povo de Israel, a poder ter uma missão imensa de
luz, de direção da história, de Páscoa, de passar para a alegria plena, na
contemplação e proclamação do Vitória de Cristo sobre a morte e o pecado.
A Páscoa
não pode ser comparada com qualquer Missa, nem com nenhuma vigília de oração,
nem com nada; é todo um memorial junto com o qual o próprio Deus se empenhou
para realizar esta Aliança que prometeu a Abraão e os profetas. A Páscoa não é
uma Missa mais comprida, de meia noite, mas algo muito maior no seu significado
e sentido profundo. A Vigília Pascal não é uma Missa do Galo, como acontece no
Natal. É Deus que passa nessa noite das noites, de maneira mais forte daquela
da Páscoa Judaica. É Deus que quer realizar páscoa-passagem na nossa história
hodierna, desejando comer ardentemente o cordeiro pascal conosco, como fez com
os seus discípulos, antes de partir, quando deixou seu testamento àqueles que
amou e amou até o fim, até a morte, e morte de cruz. Nós não celebramos a
Páscoa. É a Páscoa que se celebra em nós. É a páscoa que vem com potência a
nós. Deus irrompe e o poder da sua passagem (Pessach-Páscoa) nos convida a sair
de nosso Egito interior, de nossas trevas, de nossos pecados, nossas angústias,
para passar da escravidão à liberdade, da tristeza à alegria, da terra do Egito
para a Terra Prometida, da prisão do pecado para a plena e doce graça do
Redentor-Ressuscitado. É a páscoa que Jesus Cristo fez e quer repetir agora
conosco.
Por isso, a
oitava da Páscoa é como o mesmo e único dia pascal, estendido também até
Pentecostes. São 50 dias pascais, como se fosse uma única celebração em tom de
aleluia, alegria, louvor, júbilo e festa. No Caderno do Concílio de número 13 –
publicação da CNBB para a preparação o Ano Jubilar 2025, nos aponta sobre o
precioso Tempo Pascal – O Ressuscitado entre nós, usando subtítulo Laetíssimum
Espatium (período de grande alegria), descrevendo desta forma:
“Algumas festas principais do Cristianismo precisam de certo tempo para serem
acolhidas e assimiladas. Na Igreja Primitiva, o mistério pascal era celebrado
não só nos três dias de Tríduo, mas também nas sete semanas seguintes,
conhecidas como o “Tempo Pascal dos 50 dias”, como acorda o termo grego
Pentecoste (50 dias)”. E continua o texto do Dicastério para a Evangelização,
afirmando que “a normativa litúrgica aconselha os cristãos a celebrarem os 50
dias que se sucedem do domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes
“com alegria e exultação, como um único dia de festa, aliás como grande
domingo em que a Igreja se alegra, com o cântico de Aleluia, pela
vitória do Senhor sobre a morte e pela vida nova que a participação no mistério
Pascal fez germinar nos fiéis. Não é por acaso que os domingos desse período
não se chamam “Domingos depois da Páscoa”, mas sim domingos “da Páscoa”, que
com seu conteúdo mistérico se expande nesse tempo repleto de presença do
Ressuscitado. É precisamente essa presença que faz com que o período Pascal
seja considerado como Laetíssimum Espatium (período de
grande alegria), expressão cara a Tertuliano, período habitado por imensa e
intensa alegria pela promessa mantida pelo Senhor: “Eu estou convosco todos os
dias até o fim dos tempos”(Mt 28,20)[1].
No agora de
nossa vida, o Kairós do hoje (termo grego que significa o momento presente da
ação da graça de Deus), a Páscoa vem para ser celebrada em nós com uma dimensão
totalmente transformadora, criativa e nova. O movimento da revelação de Deus
não é ascendente, mas descendente. A Páscoa também. Cristo quem desce, quem
mergulha em nossa história e vem realizar Páscoa conosco, irrompendo com seu
amor ofertante. A festa pascal é o lugar onde tudo converge e a fonte da qual
tudo emana. Todo o culto cristão não é nada mais que uma celebração continuada
da Páscoa. Como o sol, que não cessa de levantar-se sobre a terra, atrai para
sua órbita todos os astros, a noite da Páscoa é rodeada por todas as
eucaristias que continuamente e diariamente, a cada minuto, são celebradas em
toda a terra, porque participam da Páscoa, assim como participam todos os
sacramentos, sacramentais e gestos litúrgicos. As variadas ações eclesiais são
tudo pequenas celebrações e desdobramentos da grande Páscoa, do esplendor do
Mistério Pascal. Somos todos filhos desta Igreja que redescobriu o valor e o
sentido da Páscoa. Em outras palavras, somos filhos da Páscoa, filhos no Filho,
pelo mergulho batismal gestado na Vigília Pascal. O movimento litúrgico,
bíblico e toda a renovação conciliar trouxeram esse dinamismo a Páscoa, para
colocar em movimento a história e o mundo todo nessa dinâmica salvífica. Na
Páscoa, todas as coisas são renovadas e recapituladas em Cristo, como afirma
São Paulo.”
*Padre
Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além
da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em
Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
____________
Nenhum comentário:
Postar um comentário