Francisco, no vídeo de intenção
de oração para abril, pede que rezemos pelo respeito e a dignidade das mulheres
na sociedade, "em todas as culturas, e para que cesse a discriminação que
sofrem em diversas partes do mundo”. O Papa exorta ação prática dos governos
para que se comprometam "a eliminar leis discriminatórias nos diversos
ambientes e a trabalhar para que os direitos humanos das mulheres sejam
garantidos".
Andressa
Collet - Vatican News
“Em diversas partes do mundo a
mulher é tratada como o primeiro material de descarte.”
O Papa
volta a dedicar a intenção de oração mensal às mulheres. No vídeo do Pontífice
de abril, confiado à Rede Mundial de Oração do Papa, Francisco insiste nos
passos que a sociedade atual deve dar e pede aos cristãos que se unam a ele em
oração para o reconhecimento da dignidade das mulheres em todas as culturas e
para o fim da discriminação em várias partes do mundo:
"Há
países onde as mulheres estão proibidas de conseguir ajuda para organizar um
negócio ou ir à escola. Inclusive, nesses lugares, se toleram leis que as
obrigam a se vestir de determinada maneira. E ainda estão em uso, em muitos
países, as mutilações genitais. Não neguemos a voz às mulheres. Não
neguemos a voz a todas essas mulheres vítimas de abuso. São exploradas, são
marginalizadas."
Uma mulher
asiática com lágrimas nos olhos, outra atrás de uma grade com o olhar triste,
um grupo de vítimas de abusos, expulsas de seus povoados, uma fila de
adolescentes à espera de uma mutilação genital: o vídeo que acompanha a
intenção de oração do Papa traz imagens fortes, em sintonia com a denúncia do
Pontífice. Sua mensagem recorda a grande distância entre as declarações de
princípio e a realidade dos fatos:
"Nas
palavras, todos estamos de acordo que o homem e a mulher têm a mesma dignidade
enquanto pessoas. Mas na prática, isso não acontece. É necessário que os
governos se comprometam a eliminar leis discriminatórias nos diversos ambientes
e a trabalhar para que os direitos humanos das mulheres sejam garantidos."
No mundo
atual, infelizmente, não faltam as contradições. Mesmo que em alguns países, as
mulheres tenham acesso à educação e às ofertas de trabalho e ocupem posições de
liderança em empresas e organizações, muitas ainda não desfrutam das mesmas
oportunidades que os homens. Basta pensar no mercado de trabalho: menos
de uma, de cada duas mulheres no mundo, trabalha, e as mulheres ganham 23%
menos que os homens. O mesmo acontece com a educação, se levamos em conta
que em alguns países as mulheres adultas que sabem ler e escrever são
minoria: por exemplo, no Afeganistão são 23%, no Níger, 27%. E menos
oportunidades se traduzem em enormes dificuldades econômicas: segundo a ONU
Mulheres, estima-se que para 2030, 8% das mulheres e meninas viverão em extrema
pobreza, enquanto 25% das mulheres não terão comida suficiente.
Homem e
mulher, uma mesma dignidade
O respeito
pela dignidade de todas as pessoas é um tema central no cristianismo. Pois a
vida de cada pessoa é sagrada, por ser criada à imagem de Deus (cf. Livro do
Gênesis 1, 26-27).
O tema
sobre o papel das mulheres ressoou também na síntese da XVI Assembleia Geral
Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em outubro de 2023. “Fomos criados
homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus. Desde o princípio, a criação
articula unidade e diferença, dando ao homem e à mulher uma natureza, uma
vocação e um destino partilhados e duas experiências distintas do humano.
Durante a Assembleia, experimentamos a beleza da reciprocidade entre mulheres e
homens. Juntos, lançamos o apelo das precedentes fases do processo sinodal, e
pedimos à Igreja o crescimento de seu empenho em compreender e acompanhar as
mulheres, do ponto de vista pastoral e sacramental”, manifestaram os
participantes do Sínodo, no documento final.
O Papa,
assim, pede ação dos governos e, a nós, pede que respeitemos as
mulheres, que infelizmente continuam a ser tratadas "como material de
descarte" em muitas partes do mundo e que, frequentemente, inclusive em
países que se dizem mais avançados, são vítimas de violência e de abusos:
“Respeitemos as mulheres.
Respeitemo-las em sua dignidade, em seus direitos fundamentais. E se não o
fizermos, nossa sociedade não avançará. Rezemos para que a dignidade e a
riqueza das mulheres sejam reconhecidas em todas as culturas, e para que cesse
a discriminação que sofrem em diversas partes do mundo.”
Heroínas de todos os tempos
O Padre Frédéric Fornos, diretor Internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, recorda que “desde o começo, Jesus acolheu a mulheres como discípulas, o que era uma novidade na sociedade daquele tempo. Maria, a Mãe de Jesus, teve um lugar de destaque entre os Apóstolos e na comunidade primitiva, como relatam os evangelhos. A uma mulher, Maria Madalena, Jesus confiou a missão de anunciar sua ressurreição a seus irmãos. Ao longo da história, as mulheres trouxeram um verdadeiro dinamismo espiritual à Igreja: Teresa de Ávila, Catarina de Sena, Teresa de Lisieux, reconhecidas como ‘doutoras da Igreja’, e uma infinidade de santas. Tendo em conta que o Papa nos chama neste mês a rezar “para que a dignidade e a riqueza das mulheres sejam reconhecidas em todas as culturas, e para que cesse a discriminação que sofrem em diversas partes do mundo”, continuemos também a reconhecer o papel das mulheres dentro da Igreja. Uma constatação importante: sem a participação ativa das mulheres, a comunidade cristã, caso fosse uma empresa, estaria quebrada”.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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