Translate

segunda-feira, 20 de maio de 2024

A Bem-Aventurada Virgem Maria e a Busca da Unidade (2)

A Bem-Aventurada Virgem Meria (Ecclesia)

A Bem-Aventurada Virgem Maria e a Busca da Unidade

Ervino Schmidt

Teólogo*

3. Confissões da Fé comum

A fé cristã vivenciada em distintas culturas e contextos necessita formulação comum. A fé no único Senhor encontrou forma em credos que uniam os cristãos não obstante as diferenças de cultura, classe e raça.

Surgiram formulações como o Credo Apostólico e o Credo Niceno Constantinopolitano. Ambos gozam de ampla aceitação entre as igrejas. O Credo de Nicéia e de Constantinopla (381) – até hoje – é percebido como expressão apropriada dos fundamentos da fé apostólica. Sua acolhida foi mais universal do que a de qualquer outra confissão formulada. Pois bem, esses credos são aceitos por praticamente todas as igrejas. São herança comum.

3.1. Nascido da Virgem Maria

Também os cristãos evangélicos confessam concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria. E com o Niceno Constantinopolitano afirmam: Cremos em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos, (Deus de Deus), Luz de Luz, Verdadeiro Deus de Verdadeiro Deus, gerado e não feito, da mesma substância que o Pai, por meio do qual todas as coisas vieram a ser; o qual, por nós, os homens, e pela nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou do Espírito Santo e da Virgem Maria e se fez homem e foi por nós crucificado sob Pôncio Pilatos e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos céus e está sentado a direita do Pai e virá de novo, com glória a julgar vivos e mortos; e o seu reino não haverá fim.

Destaca-se a humanidade de Jesus. É ai que se rompe a distância entre Deus e os seres humanos. Verdadeiro homem, mas também verdadeiro Deus, pois concebido pelo Espírito Santo. Não se destaca, porém, qualquer mérito próprio de Maria.

A referência à virgindade de Maria, muito longe de estatuir um valor próprio à Maria, justamente o desfaz. Maria não tem mérito algum, não pode fazer nada, mas foi simplesmente agraciada. Ela é simplesmente recebedora. Como tal é condizente relembrá-la, mas sempre apenas como aquela que foi escolhida por Deus para dar à luz seu filho. A referência à virgindade de Maria, antes de ser a descrição de um fato biológico, é expressão da confissão de que aquele Jesus, tão humano, nascido de Maria, é o enviado de Deus, sim: é o próprio Deus. (2)

Que Deus assumiu forma humana, que o Verbo se fez carne é, no fundo, um mistério. Este mistério é expresso de maneira magistral nas narrativas bíblicas do nascimento de Jesus e também nos credos que mencionamos. Modificando uma expressão de Ulrich Wilckens (3) eu diria: o singular nascimento é sinal para o nascido singular.

3.2. Mãe de Deus

O Terceiro Concilio Ecumênico, realizado em Éfeso no ano de 431 afirma: Quem não confessa que Emanuel é verdadeiramente Deus e a Santa Virgem, por isso, Mãe de Deus (…) seja excomungado. É uma formulação cristológica, sem dúvida, muito forte.

Ela é retomada, em 451, no Quarto Concilio Ecumênico, em Calcedônia. Este título Theotokos, Mãe de Deus, praticamente não é contestado. As igrejas que reconhecem os Concílios Ecumênicos, reconhecem com isso também o título Mãe de Deus e o respeitam. Talvez o Theotokos possa vir a ser elemento importante na discussão ecumênica sobre Maria. Permanece a pergunta: Por que não aceitar igualmente a formulação de Nestório que propunha o Christotokos? Aliás, talvez devêssemos estudar as formulações destes credos ainda mais a partir do histórico do seu surgimento do que aqui nos é possível fazer. De qualquer modo, a designação Mãe de Deus é feita com clara intenção cristológica.

Bibliografia:

·         ALTHAUS, Paul. Die Chistliche Wahrheit. Gütersloh, 1969, p. 440-443.

·         ALTMAM, Walter. O segundo artigo. In: Proclamar Libertação (Catecismo). São Leopoldo, Sinodal, 1982, p. 99-106.

·         CONFISSÃO DE AUGSBURGO. São Leopoldo, Sinodal, 1980.

·         KIESSIG, Manfred (ed.). Maria, die Mutter unseres Herrn. Lahr, Ernest Kaufmam, 1991.

·         MISSÃO PRESBITERIANA DO BRASIL CENTRAL. O LIVRO DAS CONFISSÕES. São Paulo, 1969.

·         NAVARRO, Juan B. Para compreender o ecumenismo. São Paulo, Loyola, 1995, p. 173-176.

·         PRENTER, Regin. In: Van der Gemeinschaft der Kinder Gottes (uma interpretação do artigo 21). Das Bekenntnis un Augsburg. Erlangen, Martin Luther, 1980.

·         RITSCHL, Dietrich. Berlegungen zur gegenewdrtigen Diskussion über Mariologie. In Ökumenische Rundschau, 31 (1982/4) Frankfurt a Main, Otto Lembeck.

·         STROHL, Henri. In ASTE – Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos. O pensamento da Reforma. São Paulo, ASTE, 1993.

·         TAKATSU, Sumio. Dogmas mariológicos e suas implicações. In: ASTE – Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ed.). O Catolicismo Romano: um simpósio protestante. São Paulo, ASTE, s.d.

·         TEIXEIRA, Luís Caetano G. A Bem-aventurada Virgem Maria no Anglicanismo. Policopiado, 1996.

·         WILCKENS, Ulrich. Maria. In: Feiner, Johannes – Vischer, Lucas (eds.). O novo livro da fé. Petrópolis, Vozes, 1976.

Notas:

2. Palestra proferida no Encontro Latino-Americano de Estudos – Curso para Bispos, Ibiuna-SP, 15 a 24/10/96.

3. Walter ALTMANN, Proclamar libertação, Catecismo p. 101.

*Mestre em Teologia pela Universidade de Hamburgo (Alemanha), Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Secretário Executivo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), em Brasília. Publicado in: (ESPAÇOS 4/2 (1996), p. 119-130)

Fonte: https://ecclesia.org.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF