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quinta-feira, 23 de maio de 2024

A Bem-Aventurada Virgem Maria e a Busca da Unidade (5)

A Bem-Aventurada Virgem Maria (Opus Dei)

A Bem-Aventurada Virgem Maria e a Busca da Unidade

Ervino Schmidt

Teólogo*

7. Pistas para o Diálogo Ecumênico

Parece-me que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca a compreensão do papel de Maria na história da salvação.

Todos concordamos que a Mãe de Jesus faz parte, de maneira inalienável, da mensagem do nascimento do Filho de Deus. Em nenhuma época a Igreja pode ignorar Maria, a mãe terrena do Salvador. Mesmo assim há discrepâncias consideráveis de doutrina entre as igrejas da Reforma e, especialmente, entre elas e a Igreja Católica Apostólica Romana.

Mas os diálogos ecumênicos dos últimos anos tem abrandado posições extremadas e criado um clima de respeito e confiança que permite dialogar sobre temas ainda bastante controversos. A própria abertura para o diálogo já é em si mesma, um gesto de amor. Para finalizar, algumas indicações que poderão ajudar na aproximação das igrejas no tocante a compreensão do papel de Maria:

As Igrejas Protestantes devem conscientizar-se do seu crescente afastamento da linha original da Reforma ao não darem o devido espaço para a veneração (não invocação!) dos santos. Teríamos que começar já pelo Novo Testamento. Por que não chamar Paulo de São Paulo e Mateus de São Mateus?

Um diálogo sobre a compreensão de comunhão dos santos certamente contribuiria para situar Maria na nuvem das testemunhas. Nem a morte rompe a comunhão daqueles que, em Cristo, estiveram fraternalmente unidos durante sua vida.

Certamente há elementos não teológicos que dificultam a compreensão do papel de Maria na história da salvação. Por isso, o estudo juntos e a história poderá se constituir em importante contribuição para a aproximação.

Deve-se tomar a sério que, desde o Concilio Vaticano II, a Igreja Católica oficialmente tem assumido uma orientação de menor euforia mariana.

É importante também observar que o Vaticano II admite uma hierarquia de verdades (hierarchia veritatum) [11]. Os dogmas marianos de 1854 e 1950 poderiam, assim, receber menos destaque por amor aos irmãos que tem grandes dificuldades na compreensão dos mesmos.

Recomenda-se que a Igreja Católica Apostólica Romana busque entender as dificuldades que as Igrejas da Reforma tem com certas expressões muito em voga na espiritualidade mariana, como: a Cristo através de Maria (ad Christum per Mariam), Rainha dos Céus, Advogada, Consoladora, Auxiliadora, Cooperadora na Graça e Medianeira.

Para as Igrejas da Reforma, por sua vez, é importante procurar compreender todo o vasto campo da religiosidade popular. Religião age sobre os sentimentos. Estes, em seu curso, fogem ao consenso doutrinário que buscamos.

Para o diálogo é decisivo reconhecer o esforço que, de parte a parte, está sendo feito no sentido de uma reconsideração da própria posição. A Igreja Católica, em boa medida, está tomando a sério o que diz o Vaticano II: Tanto nas palavras quanto nos fatos, evitem diligentemente qualquer coisa que possa induzir a erro os irmãos separados ou qualquer outra pessoa sobre a verdadeira doutrina da igreja. (12)

De qualquer modo, também nas afirmações sobre Maria não se deve pretender unanimidade, mas aceitar um legitimo pluralismo teológico das diversas igrejas.

Bibliografia:

·         ALTHAUS, Paul. Die Chistliche Wahrheit. Gütersloh, 1969, p. 440-443.

·         ALTMAM, Walter. O segundo artigo. In: Proclamar Libertação (Catecismo). São Leopoldo, Sinodal, 1982, p. 99-106.

·         CONFISSÃO DE AUGSBURGO. São Leopoldo, Sinodal, 1980.

·         KIESSIG, Manfred (ed.). Maria, die Mutter unseres Herrn. Lahr, Ernest Kaufmam, 1991.

·         MISSÃO PRESBITERIANA DO BRASIL CENTRAL. O LIVRO DAS CONFISSÕES. São Paulo, 1969.

·         NAVARRO, Juan B. Para compreender o ecumenismo. São Paulo, Loyola, 1995, p. 173-176.

·         PRENTER, Regin. In: Van der Gemeinschaft der Kinder Gottes (uma interpretação do artigo 21). Das Bekenntnis un Augsburg. Erlangen, Martin Luther, 1980.

·         RITSCHL, Dietrich. Berlegungen zur gegenewdrtigen Diskussion über Mariologie. In Ökumenische Rundschau, 31 (1982/4) Frankfurt a Main, Otto Lembeck.

·         STROHL, Henri. In ASTE – Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos. O pensamento da Reforma. São Paulo, ASTE, 1993.

·         TAKATSU, Sumio. Dogmas mariológicos e suas implicações. In: ASTE – Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ed.). O Catolicismo Romano: um simpósio protestante. São Paulo, ASTE, s.d.

·         TEIXEIRA, Luís Caetano G. A Bem-aventurada Virgem Maria no Anglicanismo. Policopiado, 1996.

·         WILCKENS, Ulrich. Maria. In: Feiner, Johannes – Vischer, Lucas (eds.). O novo livro da fé. Petrópolis, Vozes, 1976.

Notas:

11. Decreto sobre o Ecumenismo, nº11.

12. Lumen gentium, nº 67.

*Mestre em Teologia pela Universidade de Hamburgo (Alemanha), Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Secretário Executivo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), em Brasília. Publicado in: (ESPAÇOS 4/2 (1996), p. 119-130)

Fonte: https://ecclesia.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF