A Bem-Aventurada Virgem Maria e a Busca da Unidade
Ervino Schmidt
Teólogo*
7. Pistas para o Diálogo Ecumênico
Parece-me que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca a
compreensão do papel de Maria na história da salvação.
Todos concordamos que a Mãe de Jesus faz parte, de maneira inalienável,
da mensagem do nascimento do Filho de Deus. Em nenhuma época a Igreja pode
ignorar Maria, a mãe terrena do Salvador. Mesmo assim há discrepâncias
consideráveis de doutrina entre as igrejas da Reforma e, especialmente, entre
elas e a Igreja Católica Apostólica Romana.
Mas os diálogos ecumênicos dos últimos anos tem abrandado posições
extremadas e criado um clima de respeito e confiança que permite dialogar sobre
temas ainda bastante controversos. A própria abertura para o diálogo já é em si
mesma, um gesto de amor. Para finalizar, algumas indicações que poderão ajudar
na aproximação das igrejas no tocante a compreensão do papel de Maria:
As Igrejas Protestantes devem conscientizar-se do seu crescente
afastamento da linha original da Reforma ao não darem o devido espaço para a
veneração (não invocação!) dos santos. Teríamos que começar já pelo Novo
Testamento. Por que não chamar Paulo de São Paulo e Mateus de São Mateus?
Um diálogo sobre a compreensão de comunhão dos santos certamente
contribuiria para situar Maria na nuvem das testemunhas. Nem a morte rompe a
comunhão daqueles que, em Cristo, estiveram fraternalmente unidos durante sua
vida.
Certamente há elementos não teológicos que dificultam a compreensão do
papel de Maria na história da salvação. Por isso, o estudo juntos e a história
poderá se constituir em importante contribuição para a aproximação.
Deve-se tomar a sério que, desde o Concilio Vaticano II, a Igreja
Católica oficialmente tem assumido uma orientação de menor euforia mariana.
É importante também observar que o Vaticano II admite uma hierarquia de
verdades (hierarchia veritatum) [11]. Os dogmas marianos de 1854 e 1950
poderiam, assim, receber menos destaque por amor aos irmãos que tem grandes
dificuldades na compreensão dos mesmos.
Recomenda-se que a Igreja Católica Apostólica Romana busque entender as dificuldades
que as Igrejas da Reforma tem com certas expressões muito em voga na
espiritualidade mariana, como: a Cristo através de Maria (ad Christum per
Mariam), Rainha dos Céus, Advogada, Consoladora, Auxiliadora, Cooperadora na
Graça e Medianeira.
Para as Igrejas da Reforma, por sua vez, é importante procurar
compreender todo o vasto campo da religiosidade popular. Religião age sobre os
sentimentos. Estes, em seu curso, fogem ao consenso doutrinário que buscamos.
Para o diálogo é decisivo reconhecer o esforço que, de parte a parte,
está sendo feito no sentido de uma reconsideração da própria posição. A Igreja
Católica, em boa medida, está tomando a sério o que diz o Vaticano II: Tanto
nas palavras quanto nos fatos, evitem diligentemente qualquer coisa que possa
induzir a erro os irmãos separados ou qualquer outra pessoa sobre a verdadeira
doutrina da igreja. (12)
De qualquer modo, também nas afirmações sobre Maria não se deve
pretender unanimidade, mas aceitar um legitimo pluralismo teológico das
diversas igrejas.
Bibliografia:
·
ALTHAUS, Paul. Die Chistliche Wahrheit. Gütersloh, 1969, p. 440-443.
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ALTMAM, Walter. O segundo artigo. In: Proclamar Libertação (Catecismo).
São Leopoldo, Sinodal, 1982, p. 99-106.
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CONFISSÃO DE AUGSBURGO. São Leopoldo, Sinodal, 1980.
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KIESSIG, Manfred (ed.). Maria, die Mutter unseres Herrn. Lahr, Ernest
Kaufmam, 1991.
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Paulo, 1969.
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p. 173-176.
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interpretação do artigo 21). Das Bekenntnis un Augsburg. Erlangen, Martin
Luther, 1980.
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RITSCHL, Dietrich. Berlegungen zur gegenewdrtigen Diskussion über
Mariologie. In Ökumenische Rundschau, 31 (1982/4) Frankfurt a Main, Otto
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STROHL, Henri. In ASTE – Associação dos Seminários Teológicos
Evangélicos. O pensamento da Reforma. São Paulo, ASTE, 1993.
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TAKATSU, Sumio. Dogmas mariológicos e suas implicações. In: ASTE –
Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (ed.). O Catolicismo Romano: um
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TEIXEIRA, Luís Caetano G. A Bem-aventurada Virgem Maria no Anglicanismo.
Policopiado, 1996.
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WILCKENS, Ulrich. Maria. In: Feiner, Johannes – Vischer, Lucas (eds.). O
novo livro da fé. Petrópolis, Vozes, 1976.
Notas:
11. Decreto sobre o Ecumenismo, nº11.
12. Lumen gentium, nº 67.
*Mestre em Teologia pela Universidade de Hamburgo (Alemanha), Pastor da
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Secretário Executivo
do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), em Brasília.
Publicado in: (ESPAÇOS 4/2 (1996), p. 119-130)
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