A COMUNHÃO QUE NASCE DA COMUNIDADE EM ORAÇÃO
Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)
Estimados irmãos e irmãs em
Cristo Jesus! O ponto de partida da vida cristã é o amor a Deus, a si mesmo e
ao próximo. A medida do amor ao próximo é a mesma do amor que se tem para
consigo mesmo. Estamos finalizando o mês de maio, com a celebração da 145ª
Romaria ao Santuário de Caravaggio, neste mês marcado pelas celebrações
marianas, que nos lembram o carinho e o afeto maternal de Maria, a mãe de Jesus
e nossa. Maria, a primeira seguidora de Jesus Cristo, nos recorda o nosso
compromisso de batizados, que é seguir Jesus, como discípulos e missionários do
Reino. Mas o discípulo, para poder viver em comunhão com o Mestre, deve
alimentar-se do pão Palavra e do pão da vida eterna: a Eucaristia.
Quando nos colocamos em oração e
na escuta de Deus, em comunidade, o sentido de pertença ao Povo de Deus,
revigora a nossa vida de fé, e nos sentimos participantes de uma grande
família. Sem vida de oração, que fortalece a comunhão entre nós e com Deus, dificilmente
uma comunidade sobrevive como comunidade cristã. Não podemos manter a nossa fé
no Senhor Jesus se não estamos abertos a ação santificadora do Espírito Santo
na Igreja e na comunidade. O compromisso de todo batizado é anunciar e
testemunhar Jesus Cristo, mas para anunciá-lo é preciso primeiro fazer um
encontro com Ele. Do encontro com o Senhor Jesus nasce a conversão e a vivência
comunitária da fé. A fé dos que encontraram o Senhor não é indiferente, mas
busca testemunhar a alegria de ter encontrado o Mestre, vivendo a ação
missionária de forma acolhedora, também na vida da comunidade.
Como cristãos, precisamos ter
presente que a vida e a história obedecem em primeiro lugar ao projeto de Deus,
que quer a vida para todos. Por isso, o cristão é sempre levado a buscar o
significado profundo dos acontecimentos, para além de seus caprichos e
interesses imediatos.
Centralizada no amor a Deus e ao
próximo, a vida cristã é essencialmente uma realização comunitária. A
comunidade é o ambiente vital para os cristãos, é nela que eles partilham a
vida e encontram o apoio necessário para perseverar na fé. Por isso, a comunidade
deve ser preservada de qualquer divisão que provém da competição pelo poder, da
busca de privilégios e de sectarismos. A preocupação com a reconciliação é um
dever de todos, e supõe imparcialidade quando aparecem conflitos.
Viver em comunidade, portanto,
supõe que cada um confie plenamente no dom de Deus. Mas, ao mesmo tempo, requer
uma educação para isso. E o ponto fundamental é a instrução no temor de Deus.
Não se trata de ter medo de Deus, mas de reconhecer que Deus é o Senhor e
doador da vida, e seu projeto é que todos repartam a vida entre todos. A
educação cristã começa aqui, mostrando para as pessoas que elas não são
autossuficientes e independentes, mas interdependentes, complementando-se
mutuamente na partilha do que cada um é.
Se o caminho da vida é temer a
Deus e amar a Deus e ao próximo, o caminho da morte é o contrário: começa com a
ausência do temor de Deus. Sem esse temor, o homem se coloca no lugar de Deus e
passa a agir como se fosse centro e senhor da vida, dispondo de tudo e de
todos, sem a menor consideração pela vida e liberdade de seus semelhantes.
Quando o homem usurpa o lugar de Deus, cria automaticamente o projeto da
escravidão e da morte.
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