A COMUNIDADE SALVA
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)
O Tempo da Páscoa culminou com a
festa de Pentecostes, que faz memória do envio do Espírito Santo prometido por
Jesus que faz compreender tudo que foi ensinado por ele e orienta sempre para
Deus e ao próximo. A liturgia da Igreja prevê nos próximos dias três
solenidades: Santíssima Trindade, neste domingo; na próxima quinta-feira Corpus
Christi e na semana seguinte a festa do Sagrado Coração de Jesus.
Cada uma destas solenidades
evidencia uma perspectiva do Mistério da fé cristã: ou seja, a realidade de
Deus Uno e Trino, o Sacramento da Eucaristia e o centro divino-humano da Pessoa
de Cristo. São aspectos do Mistério da Salvação, que num certo sentido resumem
a vida de Jesus Cristo: o Natal, a pregação misericordiosa, a morte de cruz, a
Ressurreição, a Ascenção e o dom do Espírito Santo.
A solenidade da Santíssima
Trindade conduz o fiel a mergulhar na intimidade de Deus revelado por Jesus
Cristo. Insistentemente Jesus afirmou que foi enviado pelo Pai, realizava a sua
vontade, que era a imagem do Pai e que o Espírito Santo é enviado por ambos
para continuar a mesma obra.
Por fim, quando Jesus Cristo
confia aos apóstolos a mesma missão que estava realizando, ordena: “Portanto,
ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Es
que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28, 19-20).
“Para quem tem fé, todo o
Universo fala de Deus Uno e Trino. Desde os espaços interestelares até às
partículas microscópicas, tudo o que existe remete a um Ser que se comunica na
multiplicidade e variedade dos elementos, como numa imensa sinfonia. Todos os
seres são ordenados segundo um dinamismo harmonioso que, analogicamente,
podemos definir “amor”.
Mas somente na pessoa humana,
livre e racional, que este dinamismo se torna espiritual, se faz amor
responsável, como resposta a Deus e ao próximo, num dom sincero de si. Neste
amor o ser humano encontra a sua verdade e a sua felicidade” (Mensagem de Bento
XVI, na Festa da Santíssima Trindade -11/06/2006).
O cristão crê e afirma que “Deus
é amor” (1 João 4,8). É fonte de vida que se doa, se comunica sempre e “nele
vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17,28). Diante disso, cada pessoa e, e
com maior responsabilidade, cada cristão deve viver em relação para amar e ser
amado.
Neste tempo de catástrofes,
focando particularmente o Rio Grande do Sul, percebemos que somente o amor
salva, pois forma comunidade e nos faz responsáveis pelo outro. A opção pelo
outro sempre deve ser livre e racional para ser verdadeiro amor. Cria-se comunhão,
pois todos pertencemos uns aos outros. Não somos estranhos ou inimigos dos
conhecidos ou desconhecemos, dos distantes ou dos próximos, mas somos todos
irmãos.
O Papa Francisco, na Carta Ecncíclica Fratelli Tutti sobre a amizade social, escreve: “Desejo ardentemente
que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa
humana, possamos fazer renascer, entre nós, um anseio mundial de fraternidade.
Entre todos: Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma
bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente; precisamos duma
comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos
mutuamente a olhar em frente”. […] Sonhemos como uma única humanidade, como
caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos
alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada
qual com a própria voz, mas todos irmãos (n. 8).”Cuidar do mundo que nos rodeia
e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos de nos constituir um
‘nós’ que habita a casa comum” (n.17).
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