Ele entrou na glória de Deus e
está sentado à sua direita para julgar os vivos e os mortos.
Dom Vital
Corbellini, Bispo de Marabá – PA.
Nós
celebramos a solenidade da Ascensão do Senhor. Jesus voltou ao Pai, após ter
sido enviado a este mundo em vista da redenção humana. Ele entrou na glória de
Deus e está sentado à sua direita para julgar os vivos e os mortos. Junto dele
está a nossa humanidade, a natureza humana que unida à natureza divina forma
uma só Pessoa, Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado. A seguir ver-se-á a forma
como São Leão Magno, papa no século V, tratou do mistério da Ascensão do
Senhor, sendo a nossa vitória,
Quarenta
dias após a ressurreição do Senhor
Seguindo a
Sagrada Escritura, São Leão Magno, afirmou que a Ascensão ocorreu após quarenta
dias da Ressurreição de Jesus (cf. At 1,3). Foram dias santificados, dispostos
segundo um plano sagrado e empregado para a instrução, contando a partir da
bem-aventurada ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, pois o poder divino
reergueu no terceiro dia, o verdadeiro templo de Deus, Jesus Cristo[1]. O
Senhor prolongou a sua presença corporal neste espaço de tempo para dar provas
necessárias à fé, à sua ressurreição. Ele apareceu às mulheres, aos apóstolos e
outros discípulos demonstrando a verdade de sua nova realidade, a sua
ressurreição e depois voltou para a glória do Pai.
A morte de
Jesus
São Leão
Magno disse que a morte de Jesus turbou os corações dos discípulos pelo fato de
que eles estavam opressos de tristeza, por causa do suplício da cruz, pelo
último suspiro e do sepultamento do Mestre Jesus. Quando as santas mulheres
anunciaram que a pedra tinha sido rolada, deslocada no túmulo, o sepulcro
estava vazio e os anjos testemunharam que o Senhor estava vivo, suas palavras
não receberam muito crédito por parte dos apóstolos (cf. Mc 16,9-13)[2].
O Papa
afirmou que o Espírito da Verdade não permitiu que a vacilação proveniente da
fraqueza humana penetrasse na mente de seus discípulos, em vista dos
fundamentos da fé cristã, católica. Assim eles viram de modo que instruíram
outras pessoas, ouviram, deram a sua instrução, tocaram de modo que confirmaram
a vida e a pessoa de Jesus[3], o enviado do Pai e ele voltou ao Pai, pela
Ascensão.
A Ascensão,
motivo de alegria para os discípulos
São Leão
disse também que os discípulos ficaram alegres pela Ascensão de Jesus aos céus.
Decorridos os dias entre a ressurreição e a Ascensão do Senhor, a Providência
de Deus estabeleceu diante dos olhos e dos corações dos discípulos, o
reconhecimento do Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como
verdadeiramente ele havia nascido, crescido, sofrido e morrido. Os apóstolos,
atemorizados com a morte do Mestre na cruz e oscilantes da fé na ressurreição,
fortaleceram-se com a evidência da verdade que a subida do Senhor aos céus não
só entristeceu por verem Jesus subindo, mas encheu-os de grande alegria (Lc
24,52)[4].
A natureza
humana elevada
O Papa
disse que era grande e inefável motivo de júbilo a elevação da natureza humana
na presença acima da dignidade de todas as criaturas celestes, ultrapassar as
ordens angélicas, dos santos anjos, e subir mais alto que os arcanjos,
atingindo o termo de sua ascensão, sendo assentada junto do eterno Pai, sendo
assim associada ao trono de glória daquele a cuja natureza estava sempre em
unidade com o Filho[5].
A Ascensão
de Cristo é a exaltação humana
A Ascensão
do Senhor é, portanto, a exaltação humana e é para lá onde precedeu a glória da
Cabeça, é atraída a esperança do Corpo. É fundamental exultar, repletos de
alegria com piedosa ação de graças, porque não só o ser humano foi firmado como
possuidor do paraíso, mas até ele foi penetrado com Cristo no mais alto dos
céus, tendo obtido pela inefável graça de Cristo, muito mais do que foi perdido
no início da criação. O Filho de Deus colocou a natureza humana junto de si, à
direita do Pai[6].
Páscoa e
Ascensão
Para São
Leão Magno as duas solenidades estão bem relacionadas, interligadas. Se na
solenidade pascal, a ressurreição do Senhor foi causa da alegria para as
mulheres, aos discípulos e para a humanidade, a sua Ascensão aos céus é motivo
presente de alegria, enquanto faz-se memória e venera-se aquele dia em que a
humildade da natureza humana em Cristo foi elevada acima de todas as
milícias celestes, das ordens dos anjos, além das potestades, ao trono de Deus
Pai[7]. É preciso ter fé neste mistério porque ele exalta o ser humano além do
que é visível, para estar no invisível.
A
felicidade da Ascensão
Cristo deu
ao ser humano a felicidade porque tendo consumado a pregação evangélica e tendo
cumprido os mistérios do Novo Testamento, no quadragésimo dia após a
ressurreição, diante de seus discípulos, elevou-se aos céus (Lc 24,52; Mc
16,19). Ele pôs fim à sua presença corporal, pois permanece à direita do Pai
até decorreram os tempos determinados por Deus, na propagação da Igreja pelos
seus filhos e filhas e ele volte para julgar os vivos e os mortos, com o mesmo
corpo com o qual ele subiu[8]. Para o Papa Leão tudo o que havia de visível no
Redentor da humanidade, passou para os mistérios[9]. A fé na Ascensão de Jesus
fez muitas pessoas seguidoras no passado e também no presente a dar a vida pelo
Senhor[10].
A sua
presença junto ao seu povo
O Senhor
Jesus pela sua Ascensão está na majestade paterna de modo que pela maneira
inefável é mais presente pela divindade. São Leão Magno reforçou o dado bíblico
que quando Jesus subiu aos céus dois anjos falara para os discípulos para que
vivessem a missão junto ao povo, pois o Senhor virá da mesma forma que ele
subiu aos céus (At 1,1)[11]. Jesus garantiu a sua presença no meio do povo de
Deus, para que a missão de Jesus continuasse nas pessoas deles, através da fé,
da esperança e da caridade.
São Leão
Magno afirmou que é preciso levantar os olhos dos corações humanos às alturas
onde Cristo se encontra. Os desejos da terra não deprimam os espíritos chamados
para o alto. Ainda que os fieis passem como peregrinos pelo vale deste
mundo[12], muitas vezes de lágrimas, de cruzes, de perseguições, de martírios,
mas a vista para o alto, onde está Jesus à direita do Pai dará força para
prosseguir os caminhos duros deste mundo. O Senhor estará e está sempre
presente pela prática da paz, e do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A
Ascensão de Jesus é a vitória humana sobre o mal, porque à direita do Pai está
o Senhor com natureza humana.
____________
[1]
Cfr. LXXIII Sermão. Primeiro Sermão na Ascensão do Senhor,
1. In: Sermões. Leão Magno. São Paulo, Paulus, 1996, pg.
168.
[2]
Cfr. Idem, pg. 168.
[3]
Cfr. Idem, pg. 169.
[4]
Cfr. Idem, 2, pgs. 170-171.
[5]
Cfr. Idem, 4, pg. 171.
[6]
Cfr Idem, 4, pg. 171.
[7]
Cfr. LXXIV. Segundo Sermão na Ascensão do Senhor, 1. Idem,
pgs. 172-173.
[8]
Cfr. Idem, 2. pg. 173.
[9]
Cfr. Idem, pg. 174.
[10]
Cfr. Idem, 3, pg. 174.
[11]
Cfr. Idem, 4, pg. 175.
[12]
Cfr. Idem, pg. 176.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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