As Festas do Senhor durante o Tempo Comum
Neste editorial dedicado às festas do Senhor que a Igreja nos apresenta
ao longo do Tempo comum, recolhemos algumas considerações de quatro delas: a
Apresentação e a Anunciação do Senhor, a Santíssima Trindade e o Corpus
Christi.
13/06/2019
A SANTÍSSIMA TRINDADE
No primeiro domingo depois de Pentecostes, a Igreja celebra a solenidade
da Santíssima Trindade. Nesse dia, glorificamos ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo, Deus uno, trino em pessoas: “ao proclamar nossa fé na verdadeira e
eterna Divindade, adoramos três Pessoas distintas, de única natureza e iguais
em dignidade” [12].“Ouvistes-me dizer muitas vezes que Deus está no centro de nossa alma
em graça. Portanto, todos temos uma linha direta com Deus Nosso Senhor. De que
valem todas as comparações humanas, com essa realidade divina, maravilhosa? No
outro lado da linha esperando por nós está, não só o Grande Desconhecido, mas a
Trindade inteira: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (...). É uma pena que os
cristãos nos esqueçamos de que somos trono da Trindade Santíssima.
Aconselho-vos que desenvolvais o costume de procurar a Deus no mais profundo de
vosso coração. Isso é a vida interior” [13].
Ainda que essa festa tenha sido introduzida no calendário romano em
meados do século XIV, suas origens se remontam ao período patrístico. Já São
Leão Magno costumava desenvolver a doutrina sobre o mistério trinitário durante
o período de Pentecostes. Algumas das suas expressões aparecerão recolhidas
mais tarde no prefácio da Missa do domingo da oitava de Pentecostes.
Sucessivamente, no reino franco, será composta uma Missa da Santíssima Trindade
que conhecerá uma primeira difusão por todo o Ocidente, talvez como um meio
para ensinar, assiduamente, ao povo cristão a verdadeira fé em Deus.
Porém, a Igreja Romana não definiu uma festa especial no calendário para
a Santíssima Trindade, porque as invocações ao Deus uno e trino e as doxologias
já lhe dão um lugar central na liturgia. Esta situação não impediu que algumas
dioceses ou comunidades monásticas celebrassem anualmente uma festa litúrgica
trinitária, ainda que a data não fosse uniforme. Seria o Papa João XXII quem,
finalmente, em 1334, introduziria no calendário romano a festa da Santíssima
Trindade, no domingo anterior ao domingo de Pentecostes. Por outra parte, ainda
que as Igrejas do Oriente cristão não tenham estabelecido uma festa específica,
dedicam a maior parte dos cantos do domingo de Pentecostes a contemplar o
mistério trinitário.
O SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO
A solenidade do Corpo e Sangue de Cristo (o dia de Corpus
Christi) nasce na Idade Média, fruto da piedade eucarística e da
reafirmação dos dogmas depois de várias controvérsias teológicas. A festa foi
celebrada pela primeira vez em Liége, Bélgica, no ano de 1247, a pedido da
Santa Juliana de Mont Cornillon, religiosa que dedicou grande parte da sua vida
a promover a devoção ao santo Sacramento do altar. Em 1264, o Papa Urbano IV,
impressionado pelo milagre eucarístico de Bolsena – testemunhado em pedra pelo
monumental domo de Orvieto, que é como um grande relicário – instituiu, com
caráter universal, a solenidade em honra do Santíssimo Sacramento para a
quinta-feira posterior à oitava de Pentecostes. A bula de instituição da festa
apresenta, em apêndice, os textos da Missa e do Ofício do dia, redigidos,
segundo a tradição, por São Tomás de Aquino. A antífona O sacrum
convivium das segundas vésperas da festa, sintetiza de modo admirável
a fé da Igreja, o mysterium fidei: “Ó Sagrado banquete em que
se recebe Cristo! Renova-se a memória de sua Paixão e a alma se enche de graça
e nos é dada o penhor da glória futura” [14]. “Cada um de nós – dizia o papa nessa solenidade – pode se perguntar: e
eu? Onde quero comer? Em que mesa quero me alimentar? Na mesa do Senhor? Ou
sonho com comer gostosos manjares, mas na escravidão? Além disso, cada um de
nossos pode se perguntar: qual é a minha lembrança? A do Senhor que me salva ou
a do alho e das cebolas da escravidão? Com que lembrança sacio a minha
alma?” [15].
Como essa festa gira em torno da adoração do Santíssimo Sacramento e a fé na presença real de Cristo sob as espécies eucarísticas, é lógico que, já no século XIV, surgisse o costume de acompanhar o Senhor sacramentado pelas ruas das cidades. Anteriormente, o Santíssimo tinha presidido a procissão dos ramos no Domingo de Ramos, ou sido transladado solenemente na manhã de Páscoa, a partir do “monumento” ou “sepulcro” até o tabernáculo principal do templo. A procissão do Corpo de Cristo como tal será definitivamente acolhida em Roma, no século XV. Graças a Deus, nos últimos anos estamos assistindo a um reflorescimento dessa devoção também nos lugares em que ela tinha desaparecido durante séculos. Fazemos nossos os sentimentos de São Josemaria na festa de Corpus Christi de 1971: “enquanto celebrava a Missa hoje de manhã, disse a Nosso Senhor com o pensamento: eu te acompanho em todas as procissões do mundo, em todos os Sacrários onde te honram, e em todos os lugares onde estejas e não te honrem” [16].
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Notas:
[12] Missal Romano, Prefácio da Missa da solenidade da
Santíssima Trindade.
[13] São Josemaria, Anotações de sua pregação, 8-XII-1972.
[14] Antífona ad Magnificat, Vésperas II da Solenidade
do Corpo e Sangue de Cristo.
[15] Francisco, Homilia, 19-VI-2014 (cfr. Núm 11,
4-6)
[16] Javier Echevarría, Recordações sobre Monsenhor Escrivá.
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