MARIA DO EGITO: uma fonte de água a jorrar
Por Pe. Jean Steferson Pereira
Como já sabemos, Deus preparou
todo um caminho para que o povo de Israel fosse libertado do Egito. Moisés foi
escolhido para executar esse projeto, mas, para que pudesse chegar a tal
intento, foi preciso o esforço de muitas pessoas. Dentre elas, destacam-se
mulheres importantes: as parteiras que resistiram ao faraó, sua mãe, sua irmã,
a filha faraó. Sua irmã, Maria, todavia, não foi apenas mais uma colaboradora,
mas uma grande líder do movimento de
libertação. Ela recebeu o título de profetisa, a primeira mulher a receber tal
elogio na Bíblia. E, no grande louvor, após a travessia do mar Vermelho, ela
aparece conduzindo as mulheres e cantando junto a elas. Vamos conhece-la um
pouco mais.
QUEM É MARIA?
A tradição judaica diz que Maria
profetizou, ainda criança, que sua mãe teria um filho cuja missão seria
libertar seu povo do Egito. Com isso, toda a sua vida teria se orientado para o
cuidado daquele menino que, mais tarde, faria o povo passar pelas águas, assim
como ele mesmo passou, quando resgatado pela filha do faraó. Em outras
palavras, Maria seria a protetora de Moisés, na garantia de que sua profecia
pudesse se cumprir.
Como conhecemos a história do
nascimento de Moisés, na qual a atuação de Maria foi fundamental, vale descobrir
em que mais essa mulher colaborou no projeto de Deus. O profeta Miqueias faz
questão de dizer que o povo subiu do Egito – a casa da escravidão – graças a
Moisés, Aarão e Maria. E por quê? Porque ela sempre foi vista, pelo povo de
Israel, como uma mulher corajosa, persuasiva e bondosa, uma verdadeira líder
das mulheres israelitas. E há quem diga que foi pela força dessas mulheres que
o povo conseguiu fugir da escravidão.
O nome Maria, que também pode ser
Miriam, é de difícil compreensão. Alguns acreditam que traga em si algo obstinação,
persistência. Há também a possibilidade de significar amada. Ambas as
propostas são aplicáveis: Maria guardava consigo uma profecia e, por isso,
comprometeu sua vida na busca por cumpri-la; além disso, era uma mulher amada
por Deus, por seus irmãos e seu povo.
Um detalhe, porém, da sua
história, vale ainda ressaltar: ao dizer que Maria era amada por todos, logo
podemos pensar na passagem da lepra. Por questionar o casamento de Moisés com uma
mulher etíope, Maria recebeu um castigo divino, tornando-se leprosa, com o corpo
branco como neve. Diante disso, seus irmãos Moisés e Aarão intercederam por
ela. Deus concedeu a cura, depois de sete dias de isolamento, fora do
acampamento. E o povo, solidário com a situação, não seguiu seu caminho
enquanto Maria não fosse readmitida à comunidade (cf. Nm 12, 1-16).
Em síntese, podemos dizer que
Maria foi uma filha de Israel que lutou por sua família e por seu povo,
ajudando Moisés a viver e colaborando com ele no processo de libertação, no
êxodo do povo de Israel. Foi líder das mulheres e cantou com elas louvores a
Deus, pelas maravilhas que ele realizou em suas vidas. Foi uma fonte viva cuja
água ajudou o povo de Deus a enfrentar a sede do deserto, até a terra
prometida.
UMA FONTE DE ÁGUA A JORRAR
O livro dos Números anuncia a
morte de Maria, dizendo: “Os israelitas, toda a comunidade, chegaram ao deserto
de Sin, no primeiro mês, e o povo se estabeleceu em Cades. Ali morreu Maria e,
ali, foi sepultada” (Nm 20, 1). Ela provavelmente morreu com 125 anos, na
contagem bíblica, sem dor nem sofrimento, num descanso digno de quem serviu a
Deus por toda a vida.
Chama a atenção do leitor o que diz no versículo seguinte: “Como não havia água
para a comunidade, surgiu um motim contra Moisés e Aarão” (Nm 20, 2). Misteriosamente,
a fonte que providenciava água para o povo secou, na ocasião da morte de Maria.
Depois, essa fonte jorrou milagrosamente e deu água para matar a sede de Israel,
durante 40 anos, mas naquele momento o povo estava novamente sedento.
Maria colocou e retirou Moisés do
rio, atravessou o mar Vermelho, provou das águas amargas e as viu ficarem
doces, viu água brotar do rochedo. Assim, ela mesma se tornou uma fonte de água
para o povo. Sua profecia, sua liderança, sua presença forte foram como um manancial
que abasteceu e revigorou Israel durante anos de sofrimento no deserto. E, na
ocasião de sua morte, o povo voltou a queixar-se de sede.
O interessante e belo, se não
profético, é que outra Maria, bem mais tarde, dará à luz um filho, chamado
Jesus. Ele dirá de si mesmo: “Aquele que beber da água que eu darei nunca mais terá
sede, pois a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água que jorra para
a vida eterna” (Jo 4, 14). Talvez esteja na missão das Marias dar ao povo água
, para que possa saciar sua sede e seguir adiante, nos caminhos preparados por
Deus.
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