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terça-feira, 28 de maio de 2024

MARIA DO EGITO: uma fonte de água a jorrar

Maria do Egito (arquisp)

MARIA DO EGITO: uma fonte de água a jorrar

Por Pe. Jean Steferson Pereira

Como já sabemos, Deus preparou todo um caminho para que o povo de Israel fosse libertado do Egito. Moisés foi escolhido para executar esse projeto, mas, para que pudesse chegar a tal intento, foi preciso o esforço de muitas pessoas. Dentre elas, destacam-se mulheres importantes: as parteiras que resistiram ao faraó, sua mãe, sua irmã, a filha faraó. Sua irmã, Maria, todavia, não foi apenas mais uma colaboradora, mas uma grande  líder do movimento de libertação. Ela recebeu o título de profetisa, a primeira mulher a receber tal elogio na Bíblia. E, no grande louvor, após a travessia do mar Vermelho, ela aparece conduzindo as mulheres e cantando junto a elas. Vamos conhece-la um pouco mais.

QUEM É MARIA?

A tradição judaica diz que Maria profetizou, ainda criança, que sua mãe teria um filho cuja missão seria libertar seu povo do Egito. Com isso, toda a sua vida teria se orientado para o cuidado daquele menino que, mais tarde, faria o povo passar pelas águas, assim como ele mesmo passou, quando resgatado pela filha do faraó. Em outras palavras, Maria seria a protetora de Moisés, na garantia de que sua profecia pudesse se cumprir.

Como conhecemos a história do nascimento de Moisés, na qual a atuação de Maria foi fundamental, vale descobrir em que mais essa mulher colaborou no projeto de Deus. O profeta Miqueias faz questão de dizer que o povo subiu do Egito – a casa da escravidão – graças a Moisés, Aarão e Maria. E por quê? Porque ela sempre foi vista, pelo povo de Israel, como uma mulher corajosa, persuasiva e bondosa, uma verdadeira líder das mulheres israelitas. E há quem diga que foi pela força dessas mulheres que o povo conseguiu fugir da escravidão.

O nome Maria, que também pode ser Miriam, é de difícil compreensão. Alguns acreditam que traga em si algo obstinação, persistência. Há também a possibilidade de significar amada. Ambas as propostas são aplicáveis: Maria guardava consigo uma profecia e, por isso, comprometeu sua vida na busca por cumpri-la; além disso, era uma mulher amada por Deus, por seus irmãos e seu povo.

Um detalhe, porém, da sua história, vale ainda ressaltar: ao dizer que Maria era amada por todos, logo podemos pensar na passagem da lepra. Por questionar o casamento de Moisés com uma mulher etíope, Maria recebeu um castigo  divino, tornando-se leprosa, com o corpo branco como neve. Diante disso, seus irmãos Moisés e Aarão intercederam por ela. Deus concedeu a cura, depois de sete dias de isolamento, fora do acampamento. E o povo, solidário com a situação, não seguiu seu caminho enquanto Maria não fosse readmitida à comunidade (cf. Nm 12, 1-16).

Em síntese, podemos dizer que Maria foi uma filha de Israel que lutou por sua família e por seu povo, ajudando Moisés a viver e colaborando com ele no processo de libertação, no êxodo do povo de Israel. Foi líder das mulheres e cantou com elas louvores a Deus, pelas maravilhas que ele realizou em suas vidas. Foi uma fonte viva cuja água ajudou o povo de Deus a enfrentar a sede do deserto, até a terra prometida.

UMA FONTE DE ÁGUA A JORRAR

O livro dos Números anuncia a morte de Maria, dizendo: “Os israelitas, toda a comunidade, chegaram ao deserto de Sin, no primeiro mês, e o povo se estabeleceu em Cades. Ali morreu Maria e, ali, foi sepultada” (Nm 20, 1). Ela provavelmente morreu com 125 anos, na contagem bíblica, sem dor nem sofrimento, num descanso digno de quem serviu a Deus por toda a vida.

Chama a atenção do leitor o que diz  no versículo seguinte: “Como não havia água para a comunidade, surgiu um motim contra Moisés e Aarão” (Nm 20, 2). Misteriosamente, a fonte que providenciava água para o povo secou, na ocasião da morte de Maria. Depois, essa fonte jorrou milagrosamente e deu água para matar a sede de Israel, durante 40 anos, mas naquele momento o povo estava novamente sedento.

Maria colocou e retirou Moisés do rio, atravessou o mar Vermelho, provou das águas amargas e as viu ficarem doces, viu água brotar do rochedo. Assim, ela mesma se tornou uma fonte de água para o povo. Sua profecia, sua liderança, sua presença forte foram como um manancial que abasteceu e revigorou Israel durante anos de sofrimento no deserto. E, na ocasião de sua morte, o povo voltou a queixar-se de sede.

O interessante e belo, se não profético, é que outra Maria, bem mais tarde, dará à luz um filho, chamado Jesus. Ele dirá de si mesmo: “Aquele que beber da água que eu darei nunca mais terá sede, pois a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna” (Jo 4, 14). Talvez esteja na missão das Marias dar ao povo água , para que possa saciar sua sede e seguir adiante, nos caminhos preparados por Deus.

Fonte: Revista Ecoando, Ano 18 nº 71, Setembro-Novembro 2020, páginas 10 e 11

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF