Francisco recebeu em audiência
os membros das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais que
participam do encontro "Da crise climática à resiliência climática" e
reiterou a urgência de ações concretas para combater a crise climática global:
"Os pobres são as vítimas. As nações ricas produzem mais da metade dos
poluentes." O Pontífice pediu uma nova arquitetura financeira que atenda
ao Sul do mundo e uma redução da dívida.
Mariangela
Jaguraba – Vatican News
O Papa
Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (16/05), na Sala Clementina,
no Vaticano, cerca de duzentos participantes, de várias partes do mundo, do
encontro promovido pelas Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências
Sociais sobre o tema "Da crise climática à resiliência climática". O
encontro teve início na terça-feira (15/05), na Casina Pio IV, no Vaticano, e
se conclui na sexta-feira (17/05). O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o
cacique Raoni participam do evento e se encontraram com o Santo Padre durante a
audiência desta quinta-feira.
Em seu
discurso, o Papa sublinhou que "os dados sobre as mudanças climáticas
pioram a cada ano e portanto, é urgente proteger as pessoas e a natureza".
Francisco parabenizou "as duas Academias por liderarem este esforço e
produzirem um protocolo de resiliência universal. As populações mais pobres,
que pouco têm a ver com as emissões poluentes, precisarão receber maior apoio e
proteção".
Os pobres
são os que mais sofrem com as mudanças climáticas
"A
destruição do ambiente é uma ofensa a Deus, um pecado que não é apenas pessoal,
mas também estrutural, que coloca seriamente em perigo todos os seres humanos,
especialmente os mais vulneráveis, e ameaça desencadear um conflito entre
gerações", disse o Papa, que perguntou: "Estamos trabalhando em prol
de uma cultura da vida ou de uma cultura da morte?"
Estamos
diante de desafios sistêmicos distintos, mas interligados: as mudanças
climáticas, a perda da biodiversidade, a degradação ambiental, as desigualdades
globais, a insegurança alimentar e uma ameaça à dignidade das populações
envolvidas. Se não forem abordados de forma coletiva e urgente, esses problemas
representam ameaças existenciais para a humanidade, para outros seres vivos e
os ecossistemas.
“Mas que seja claro: são os
pobres da Terra que mais sofrem, apesar de serem os que menos contribuem para o
problema. As nações mais ricas, cerca de um bilhão de pessoas, produzem mais da
metade dos poluentes que retêm o calor. Contrariamente, os três bilhões de
pessoas mais pobres contribuem com menos de 10%, mas arcam com 75% das perdas
resultantes. Os 46 países menos desenvolvidos, em sua maioria africanos, são
responsáveis por apenas 1% das emissões globais de CO2. Ao invés disso, as
nações do G20 são responsáveis por 80% dessas emissões.”
Mulheres,
poderosas agentes de resiliência e adaptação
A seguir, o
Papa ressaltou que a pesquisa feita pelas Pontifícias Academias das Ciências e
das Ciências Sociais "mostra a trágica realidade em que mulheres e
crianças carregam um fardo desproporcional".
As mulheres
geralmente não têm o mesmo acesso aos recursos que os homens, e cuidar da casa
e dos filhos pode dificultar a possibilidade de migrar em caso de desastre.
“No entanto, as mulheres não são
apenas vítimas das mudanças climáticas: elas também são poderosas agentes de
resiliência e adaptação. Com relação às crianças, quase um bilhão delas residem
em países que enfrentam um risco extremamente alto de devastação relacionada ao
clima.”
Sua idade
evolutiva as torna mais suscetíveis aos efeitos, tanto físicos quanto
psicológicos, das mudanças climáticas.
Segundo
Francisco, "a recusa em agir rapidamente para proteger os vulneráveis
expostos às mudanças climáticas provocadas pelo homem é uma falha grave. O
progresso ordenado é então dificultado pela busca voraz de ganhos a curto prazo
por parte das indústrias poluentes e pela desinformação, que gera confusão e
dificulta os esforços coletivos para inverter a rota".
A poluição
do ar ceifa milhões de vidas todos os anos
De acordo
com o Papa, "o espectro das mudanças climáticas paira sobre todos os
aspectos da existência, ameaçando a água, o ar, os alimentos e os sistemas de
energia. Igualmente alarmantes são as ameaças à saúde pública e ao bem-estar.
Assistimos à dissolução de comunidades e ao deslocamento forçado de
famílias".
“A poluição do ar ceifa milhões
de vidas prematuramente todos os anos. Mais de três bilhões e meio de pessoas
vivem em regiões altamente sensíveis à devastação das mudanças climáticas, o
que leva à migração forçada. Nos últimos anos, quantos irmãos e irmãs perderam
a vida em viagens desesperadas, e as previsões são preocupantes. Defender a
dignidade e os direitos dos migrantes climáticos significa afirmar a
sacralidade de cada vida humana e exige honrar o mandato divino de salvaguardar
e proteger a nossa casa comum.”
Descarbonização
global
Diante
dessa crise planetária, o Papa destacou, em primeiro lugar, a necessidade de
"uma abordagem universal e uma ação rápida e decisiva para
promover mudanças e decisões políticas", e em segundo, a urgência de uma
"inversão da curva de aquecimento, buscando reduzir pela metade a
taxa de aquecimento no curto espaço de um quarto de século".
“Ao mesmo tempo, devemos ter
como meta a descarbonização global, eliminando a dependência de combustíveis
fósseis. Em terceiro lugar, grandes quantidades de dióxido de carbono devem ser
retiradas da atmosfera, através de uma gestão ambiental que abranja várias
gerações.”
É um
trabalho longo, mas também de grande alcance. Todos nós devemos empreendê-lo
juntos. Nesse esforço, a natureza é nossa fiel aliada, colocando à nossa
disposição os seus poderes, os poderes regeneradores da natureza.
Salvaguardar
as riquezas naturais
A seguir, o
Papa exortou a salvaguardar as riquezas naturais:
“As bacias da Amazônia e do
Congo, as turfeiras e os manguezais, os oceanos, as barreiras de corais, as
terras agrícolas e as calotas polares, por sua contribuição para a redução das
emissões globais de carbono.”
"Essa
abordagem holística combate as mudanças climáticas e também enfrenta as crises
da perda de biodiversidade e da desigualdade, cultivando os ecossistemas que
sustentam a vida".
Segundo
Francisco, "a crise climática exige uma sinfonia de cooperação e
solidariedade global. O trabalho deve ser sinfônico, harmonioso, todos juntos.
Por meio de reduções de emissões, educação sobre estilos de vida, financiamento
inovador e o uso de soluções comprovadas baseadas na natureza, fortalecemos a
resiliência, especialmente a resiliência à seca".
Uma nova
arquitetura financeira
O Papa
ressaltou a necessidade de desenvolver "uma nova arquitetura financeira
que responda às necessidades do Sul do mundo e dos Estados insulares gravemente
afetados por catástrofes climáticas. A reestruturação e redução da dívida,
junto com o desenvolvimento de uma nova Carta financeira global até 2025,
reconhecendo uma espécie de “dívida ecológica” – é preciso trabalhar
nesta palavra: dívida ecológica – podem ser uma ajuda válida
na mitigação das mudanças climáticas.
Por fim, o
Papa agradeceu e incentivou os membros das Pontifícias Academias das Ciências e
das Ciências Sociais a continuarem trabalhando "na transição da atual
crise climática para a resiliência climática com equidade e justiça
social", advertindo que é necessário agir com urgência, paixão e
determinação.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt
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