Aos 13 anos começou a ter experiências místicas, ouvindo as vozes que identificou mais tarde como sendo as do Arcanjo São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia. O anjo dizia que ela deveria socorrer o rei da França. Os pais pensaram que a menina estivesse enlouquecendo.
Neste período, a França, um dos maiores países católicos do mundo, mas dividida internamente e sofrendo decadência moral e religiosa, lutava na chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453) contra a invasora Inglaterra, que reivindicava o trono francês. Aos 17 anos, Joana, orientada pelas vozes celestes, entendeu que deveria encontrar o legítimo rei francês, Carlos VII, e trabalhar para a sua coroação (Henrique V da Inglaterra, neste período da guerra, tinha mais comando do país, e seu filho Henrique VI, então ainda um menino, veio a ser coroado rei da Inglaterra em 1429 e rei da França em 1431), bem como liderar os exércitos para combater os ingleses e expulsá-los da França.
Obviamente, o processo de uma camponesa iletrada chegar ao rei não foi simples, mas por fim ela o conseguiu em 1429. Para testar o que se dizia dela, que era enviada por Deus, Carlos VII disfarçou-se e um impostor foi colocado em seu lugar, com todo o aparato real. Joana, que nunca tinha visto a face de Carlos, sem se importar com o falso regente procurou e encontrou entre os presentes o legítimo monarca, dirigindo-se a ele e apresentando sua missão divina. Isto impressionou a todos, mas só após muitos testes, e a evidência de que ela conhecia coisas que só lhe poderiam ter sido reveladas por Deus, o rei concordou em seguir as suas orientações.
Joana, sempre vestida como um homem, tanto para não chamar a atenção dos adversários como para não provocar o desejo dos combatentes, passou a comandar os exércitos franceses. Sua presença disciplinava os soldados, e ela exigia deles um comportamento digno e orações: as prostitutas que acompanham a soldadesca foram expulsas, o jogo e a bebida proibidos; os soldados passaram a ter acesso aos Sacramentos e à Santa Missa, confessando e comungando antes das batalhas. O carisma sobrenatural de Joana impunha respeito e animava os soldados, que a viam como um ser angelical. Jamais a desrespeitaram.
Foi-lhe infundido um conhecimento militar que não possuía, e, montada num cavalo, com um estandarte trazendo as imagens de Jesus e Nossa Senhora em uma mão e uma espada na outra, que entretanto nunca usou, ela não apenas organizava as ações, como participava na vanguarda das batalhas. Sua primeira ação militar foi debelar o cerco que os ingleses faziam na cidade de Orleans. Seguiram-se várias campanhas, nas quais nem sempre os generais a obedeciam totalmente. Ainda assim sucederam-se as vitórias francesas, até que no vale de Loire os ingleses perderam 2.200 soldados e seu comandante foi preso. Isto permitiu a Carlos chegar à cidade de Reims, onde finalmente foi coroado, em julho de 1429.
A guerra continuou, sempre a favor da França, na qual restavam ainda poucas regiões invadidas. Mas o rei não foi verdadeiramente grato a Joana. Contrariamente à vontade dela, insistiu para que participasse na reconquista de Paris. No cerco de Compiègne, em 1430, Joana foi capturada à traição pelos borgonheses, colaboradores dos ingleses, que a receberam em troca de dinheiro.
Foi então montado um processo iníquo, grotesco e ilegal contra ela, conduzido por Pedro Cauchon, um bispo traidor membro do Conselho Inglês em Rouen, e que agiu como “autoridade” inquisitorial. Sem qualquer auxílio, do rei ou advogados, a que tinha direito e que lhe foi negado, ela enfrentou todo tipo de acusações, sob maus tratos e pressões, num proceder cada vez mais arbitrário e contrário às leis – pois, divinamente inspirada, a tudo respondia com exatidão, de modo que por mais que a tentassem confundir, não conseguiam que desse motivos para nenhuma condenação.
Durante quatro semanas, presa numa cadeia de ferro e humilhada constantemente, Joana manteve-se fiel às suas razões e missão divina; por proteção divina, sua virgindade foi mantida. Por fim, sem mais argumentos, foi condenada por usar roupas masculinas – as de quando capturada em batalha – e sob a alegação de bruxaria, por dizer que ouvia vozes divinas na ordem para restaurar o reinado francês: o tribunal “interpretou” tais vozes como demoníacas e a condenou à fogueira. Foi executada a 30 de maio de 1431, com 19 anos, numa praça pública de Rouen, afirmando até o final a veracidade das vozes e da sua missão divina.
Depois da sua morte, os ingleses continuaram perdendo a guerra, definida com a derrota em Castillon, 1453. Apenas Calais permaneceu como posse inglesa continental, mas também foi capturada em 1558.
O Papa Calisto III, a pedido dos pais de Joana, reviu seu processo 20 anos depois, constatando a sua completa injustiça, e a reabilitando publicamente. Joana d’Arc foi canonizada, reconhecida como Mártir da Pátria e da Fé e proclamada padroeira da França.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
A vocação de Santa Joana d’Arc é uma das mais insólitas dentre a dos santos. Deus a cumulou de dons especialíssimos, e lhe deu uma missão original, de reconquistar militarmente um país para a sua identidade católica – sendo ela uma mulher pobre e iletrada, muito jovem e inexperiente. Deste modo, quis o Senhor evidenciar que é Ele, mesmo através dos fracos, que age nos destinos do mundo, ainda que sempre respeitando a liberdade que deu ao Homem: “Mas Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo, para confundir os sábios. E Deus escolheu o que é fraco diante do mundo, para confundir os fortes. (…) Para que, como está escrito: ‘Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor’” (1Cor 1,27-28.31). Deus quis preservar a França, maior país católico do mundo, que contudo, mais tarde, pela desobediência de não se consagrar a Ele, sofreu a punição da Revolução Francesa, em muitos aspectos parecida com a Revolução comunista Bolchevique: falsas promessas de igualdade, baseadas no abandono a Deus e desrespeito à hierarquia, e responsáveis por incontáveis mortes, a começar as dos próprios cidadãos e depois em outros países. Sempre com a propaganda falaciosa das ideias atraentes de igualdade, liberdade e fraternidade (as quais, obviamente, não podem existir sem Deus, fonte da verdadeira liberdade e fraternidade espiritual, e da única igualdade possível, a de sermos Seus filhos amados, e por este único motivo devermos ser tratados todos com caridade e justiça – o que não implica absolutamente em paridade material, de funções, etc., mas sim de dignidade existencial). Toda a trajetória de Joana é milagrosa, desde a consciência pessoal da sua missão até a sua efetiva defesa individual diante de um tribunal malicioso, e a determinação intransigente de morrer pela Fé. Seu mérito está, é claro, em aceitar tudo o que Deus lhe propôs, a começar pelo mais importante: nas suas próprias palavras, "Quando eu tinha mais ou menos 13 anos, ouvi a voz de Deus que veio ajudar-me a me governar. (…) Ela me ensinou a me conduzir bem e a frequentar a igreja". Ouvir e obedecer à voz de Deus, que nos chegue por meios sobrenaturais se for a vontade divina, quer através da Doutrina da Igreja, é o caminho que nos é oferecido para a realização das boas obras, grandes ou pequenas, que nos levarão à salvação, segundo o plano de Deus para cada filho Seu, individualmente.
Oração:
Senhor Deus, que sempre combateis por nós, concedei-nos por intercessão de Santa Joana d’Arc expulsar de nossas vidas a invasão das tentações e pecados, que de Vós nos afastam, e pretendem nos dominar com falsas promessas de bens deturpados; pois só Vos ouvindo, e obedecendo à Palavra que ensinas é que restauraremos Vosso reinado na alma e poderemos participar da Vossa corte celestial. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Nossa Senhora. Amém.
Fonte: https://www.a12.com/
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