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sexta-feira, 17 de maio de 2024

São Paulo, um judeu em Cristo (1)

Mosaicos da Capela Palatina (século XII), Palermo; São Paulo, detalhe | 30Giorni

Arquivo 30Disas – 05/2008

São Paulo, um judeu em Cristo

Entrevista com Romano Penna sobre a relevância de alguns temas do Apóstolo dos Gentios: justificação, conversão, missão.

Entrevista com Romano Penna por Lorenzo Cappelletti

Dom Romano Penna dispensa apresentações. Estudioso do Novo Testamento de renome internacional (ou seja, estudioso do Novo Testamento, em particular do Corpus paolinum , e de origem cristã), acaba de se tornar professor emérito, depois de ter lecionado durante 25 anos na Pontifícia Universidade Lateranense. A sua última obra é um novo comentário à Carta aos Romanos, cujos dois primeiros volumes foram publicados (que já tiveram uma primeira reimpressão) e o lançamento do terceiro é iminente.

Encontrámo-lo na iminência do início do Ano Paulino que o Papa Bento XVI abrirá solenemente por ocasião da festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo, no dia 29 de junho. 

Foi escrito polemicamente que o verdadeiro inventor do Cristianismo não foi Jesus, mas São Paulo. 

Romano Penna: É uma controvérsia paradoxal, mas as razões que levaram alguns estudiosos a definir Paulo desta forma são, no entanto, interessantes. A primeira é que entre Jesus terreno e Paulo existe o acontecimento pascal, que influenciou a mensagem, a formulação evangélica da primeira comunidade cristã. Jesus não falou muito sobre sua morte e ressurreição em sua vida. Jesus pregou o reino dos céus. Depois da Páscoa, porém, o destino e a história pessoal de Jesus passaram a fazer parte do coração do anúncio dos seus discípulos. Os seus discípulos referem-se a ele não apenas como um mestre, um profeta, possivelmente redutível ao quadro israelita da época (como fazem os nossos irmãos judeus, que têm o prazer de dizer que Paulo é o inventor do cristianismo), mas inserem a figura de Jesus neste quadro histórico-salvífico já amadurecido, por assim dizer, em que a figura de Jesus se torna a do Crucifixo ressuscitado com um destino determinado: para os outros. Depois, entre Jesus e Paulo está a Igreja, a comunidade cristã primitiva. A primeira comunidade cristã já definia Jesus como aquele que “morreu pelos nossos pecados”. Paulo não inventa nada, é antes de tudo uma testemunha da Tradição. Ele nada mais faz do que retomar uma tradição pré-paulina, por exemplo, quando diz aos Coríntios: «Portanto, transmiti-vos antes de tudo o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, segundo as Escrituras...” ( 1Cor 15, 3ss). A outra razão que entra em conta para explicar essa definição de Paulo é a própria originalidade, e digamos, a genialidade de Paulo em sua operação de hermenêutica do evangelho. 

Qual é a genialidade de Paulo se pudesse ser expressa em uma palavra? 

Pena: Paulo destaca-se dentro das origens cristãs essencialmente pela sua mensagem de justificação com base na fé. O homem torna-se justo diante de Deus, é considerado justo por Deus e até dizemos santo (lembremos que Paulo, quando fala dos fiéis, chama-os vinte e cinco vezes de santos nas suas cartas) não através de uma contribuição autónoma para a sua própria santidade, mas pelo acolhimento humilde e até alegre de uma intervenção ab extra , a intervenção de Deus em Jesus Cristo. Isto é o que torna um homem justo, isto é, a aceitação pela fé do que Deus fez por mim. Isto, ao nível das origens cristãs, não foi pacífico. A fé em Jesus Cristo como Messias e também como Filho de Deus foi pacífica. Mas sobretudo a chamada tendência judaico-cristã fez coexistir a fé em Jesus Cristo com uma contribuição pessoal. Na Carta de Tiago (Tiago é um expoente desta corrente) diz-se claramente que o homem não é justificado apenas pela fé. E o sacrifício de Isaque por Abraão é dado como exemplo, mas invertendo a ordem das páginas bíblicas. Em Gênesis encontramos o sacrifício de Isaque no capítulo 22, depois já no capítulo 16 se diz que Abraão acreditou, que foi justificado pela fé, algo que Paulo menciona no capítulo 4 da Carta aos Romanos. Esta justificação não está, portanto, condicionada pelo exercício activo daquela obediência que é narrada no capítulo 22 do Génesis. O ponto de vista judaico-cristão consiste basicamente nesta inversão.

 Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF