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sábado, 18 de maio de 2024

São Paulo, um judeu em Cristo (2)

O batismo de São Paulo | 30Giorni

Arquivo 30Disas – 05/2008

São Paulo, um judeu em Cristo

Entrevista com Romano Penna sobre a relevância de alguns temas do Apóstolo dos Gentios: justificação, conversão, missão.

Entrevista com Romano Penna por Lorenzo Cappelletti

Quanto à relação com os judaico-cristãos: São Paulo sofre oposição deles como nenhum outro; no entanto, é ele quem mais reivindica as suas origens judaicas e o seu amor apaixonado pela sua linhagem.

Penna: Se você olhar os textos, Paulo não conhece o adjetivo “cristão”, que, aliás, ainda não existia em sua época. Sabemos por Lucas que os discípulos eram chamados de cristãos em Antioquia; mas Atos 11, 26 é anacrônico, antecipa o assunto para os anos 30. Na realidade Paulo não conhece este adjetivo. Ele se considera um judeu, ele é um judeu em Cristo. É por isso que ele nunca usa o vocabulário da conversão. Paulo não é um convertido. O judeu não se converte. Há uma frase famosa do rabino de Roma Eugenio Zolli, batizado após a Segunda Guerra Mundial: “Não sou um convertido, sou um chegado”; porque o convertido é aquele que dá as costas ao passado, enquanto o judeu não dá as costas, apenas segue em frente. Claro, Paolo passou por uma transição. Ele mostra isso em Filipenses 3:7: “Qualquer ganho que tive, considerei perda por causa de Cristo”. Em que consistiria o lucro? Na adesão farisaica (no sentido não vulgar) à Lei, ou na adesão total e completa à Lei, a ponto de considerá-la como uma condição para se estar certo diante de Deus, Paulo superou isso. Mas Israel continua sempre a ser o ponto de referência. Bastaria voltar aos capítulos 9-11 da Carta aos Romanos: os gentios são enxertados em Israel; a planta é santa se a raiz for santa (ver Rm 11, 16ss). Vivemos por uma santidade derivada; não primário, mas secundário, e precisamente do ponto de vista histórico-salvífico. Digo sempre que o Cristianismo é simplesmente uma variante do Judaísmo, e tenho pena daqueles que discutem com Israel ou que, como lemos nas notícias, até cometem actos de vandalismo: não compreenderam nada do que significa ser cristão.

Sempre me impressionou a passagem da Carta aos Efésios 3, 6, na qual «o mistério revelado» parece consistir no facto de «os gentios serem chamados em Cristo Jesus a participar na mesma herança, a formar a mesma corpo e ser participantes da promessa por meio do evangelho do qual me tornei ministro”. Quase pareceria que todo o mistério cristão tem como conteúdo a participação dos gentios na mesma herança prometida aos judeus.

Penna: O senhor citou a Carta aos Efésios que segundo muitos, e também na minha opinião, não é do Paulo histórico. Mas este tema é, no entanto, típico e central nas chamadas Cartas autênticas de Paulo. Já encontramos em Gálatas2, onde é lembrado o chamado Concílio de Jerusalém. Aí ocorreu uma clara distinção: assim como Pedro, João e outros se dirigem aos circuncisos, eu – diz Paulo – e Barnabé nos dirigimos aos gentios. Paolo se caracteriza justamente por isso. Ele deu sua vida por isso. Ele teve mal-entendidos essencialmente por causa disso. Ele se opôs – nessa mesma Carta falamos de adversários – do lado judaico-cristão, não tanto dos judeus, por esta sua abertura. “Não somos filhos de escravos, mas de livres”, diz Paulo nesta mesma Carta (cf. 4, 31) referindo-se às duas mulheres de Abraão; e os cristãos a quem ele escreve, os gálatas, são pagãos, não judeus. A coisa que Paolo vai fazer. Paulo não prega em Israel. E em Atenas, por exemplo, onde prega Jesus Cristo? Na ágora, na praça e no Areópago, onde entra em contacto com a sociedade viva da época, fora dos ambientes abafados dos locais religiosos. Aqui, ele se interessa por aqueles que estão longe, longe de Israel, como lemos em Efésios 2, 13. O autor diz: “Vocês que estavam longe se tornaram próximos”. Os distantes, os outros, aqueles que para Israel são os outros, os diferentes, os não-povo, as gentes (em Israel era tradicional distinguir “o povo” dos “gentios”), Paulo dedica-se a eles: isto é sua grande operação. Poderíamos até dizer que, aos olhos de Paulo, Jesus Cristo não representa outra coisa senão a eliminação da distância entre os gentios e os judeus. São Paulo tem muito a dizer sobre todas as cercas que são erguidas.

É estranho, porém, que São Paulo não tenha preservado nenhuma palavra de Jesus relativa ao mandato missionário, embora existam múltiplos atestados deste tipo na tradição proto-cristã.

Penna: O início da consciência missionária da Igreja é um problema complexo, porque antes de tudo devemos nos perguntar se o Jesus histórico alguma vez enunciou um mandato missionário, enquanto o contrário é muito claro: «Não vá senão aos perdidos ovelhas da casa de Israel", diz Jesus (cf. Mt 10, 6 e 15, 24). E o próprio Jesus, na sua vida, sempre permaneceu dentro das fronteiras de Israel, nunca fez como Jonas, que foi para Nínive. Jesus não foi nem a Nínive, nem a Atenas, nem a Roma, nem a Alexandria, no Egito, que também ficava perto. Portanto, precisamos explicar por que a Igreja depois da Páscoa, porém, se sentiu investida do anúncio ao povo (não imediatamente, é preciso dizer, porque em Atos 10 Pedro se mete em apuros quando tem que ir batizar o centurião Cornélio: isto não pertencia à consciência apostólica primitiva, evidentemente). Não é à toa que as palavras que lemos no final do Evangelho de Mateus: “Ide por todo o mundo, batizai todas as nações” (ver Mt. 28, 19f), são de Jesus ressuscitado, não do Jesus terreno. Existe, portanto, a hipótese de que sejam palavras editoriais, do evangelista ou da sua Igreja, uma Igreja judaico-cristã que passou por dificuldades antes de chegar à abertura da Igreja de Antioquia, que de facto encontrou esta abertura. Paulo não poderia, portanto, citar palavras do Jesus terreno sobre a necessidade da missão. Porém, segundo o capítulo 9 dos Atos , primeiro relato do encontro no caminho de Damasco, Jesus lhe diz: «Você será minha testemunha diante dos reis, diante dos poderosos da terra...». A sua é uma vocação pessoal, partilhada por Barnabé e por uma série de colaboradores ao seu redor: Timóteo, Silas, Apolo, Tito e todos aqueles que ele menciona no capítulo 16 da Carta aos Romanos, "aqueles que trabalharam no Senhor", que eles dedicaram-se ao evangelho, ao trabalho missionário. Mas, em suma, o que significa espírito missionário? Significa ter levado a sério a fé no Ressuscitado, porque foi o Ressuscitado quem quebrou os bancos, foi a Páscoa que quebrou os bancos e fez uma... façanha , ele empurrou...

 Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF