Arquivo 30Disas – 05/2008
São Paulo, um judeu em Cristo
Entrevista com Romano Penna sobre a relevância de alguns temas do Apóstolo dos Gentios: justificação, conversão, missão.
Entrevista com Romano Penna por Lorenzo Cappelletti
Quase parece que se entende, pelo que dizes, que o mandato missionário não pode ser, por assim dizer, estendido de forma genérica, como uma "ordem de serviço", a toda a Igreja, mas que está quase ligado a uma vocação pessoal e ao aprofundamento de uma consciência pessoal...
Penna: Isso mesmo. Quem percebe o valor explosivo da Páscoa, mais o sente. Isso é. Paulo nada conta sobre o Jesus terreno, mas apenas sobre o crucifixo ressuscitado. A cristologia de Paulo está inteiramente centrada no acontecimento pascal, na dupla face do acontecimento pascal, a cruz e a ressurreição, onde ele percebeu esta coisa perturbadora, eu dizia, que ultrapassa as fronteiras de Israel.
Por outro lado, a consciência de que Jesus veio para abolir os sacrifícios também se tornou tradicional nos escritos judaico-cristãos não-paulinos. Se ele veio abolir os sacrifícios, significa que a sua identidade vai além das liturgias templárias, é algo que está fora da categoria do sagrado, está aberto ao profano - usemos esta categoria -; e o profano está em toda parte, profano é sobretudo o que está fora de Israel como povo santo (o que “os outros” não são). Mas é precisamente para esses “outros” que Paulo percebe o destino do evento pascal.
Concluindo, qual é a maior relevância da figura e da mensagem de Paulo que, na sua opinião, este Ano Paulino deve propor novamente?
Penna: Uma mensagem de essencialidade, a redução do cristianismo ao
essencial: a adesão pessoal a Jesus Cristo. Nada mais; e neste “outro” colocar
tudo e todos, desde os anjos até embaixo. O espaço entre o homem e Deus é
preenchido por Cristo e por mais ninguém. Porque estar em Cristo (afinal esta é
a linguagem paulina: «Estar em Cristo», ou « no Senhor»)
significa estar em Deus, portanto. O que envolve podar várias coisas, pelo
menos no sentido do juízo de valor a fazer. Dizer Paulo significa Jesus Cristo.
Mesmo a nível eclesial e institucional. É claro que no tempo de Paulo a Igreja
era muito ágil como instituição também porque não havia o fardo trazido pelos
séculos subsequentes. Mas a questão era muito leve, sobretudo porque a identidade
eclesial do cristianismo era entendida como sendo todos irmãos (termo que volta
112 vezes no Corpus Paulinum !), todos no mesmo nível. E
talvez aqueles dedicados ao serviço estejam abaixo. Na Primeira Carta aos
Coríntios Paulo diz: «O que é Apolo, o que é Paulo, o que é Cefas? Seus
ministros... Tudo é seu: Paulo, Cefas, o mundo, a vida. Mas vós pertenceis a
Cristo e Cristo pertence a Deus” (ver 1Cor. 3, 5ss). Não
existe uma linha que vai de cima para baixo, mas de baixo para cima. «Tudo é
seu»… Você está acima dos ministros, no sentido de que os ministros fazem parte
da comunidade. É claro que a comunidade cristã não é um molusco, é um
vertebrado, mas o que importa na Igreja não são os ministros, são os batizados;
e os ministros são importantes na medida em que também são batizados. Não quero
ser mal interpretado. Que a existência de ministros é muito importante, para
não dizer essencial, é um facto que Paulo conhece bem. Basta lembrar quando ele
fala da Igreja como um corpo estruturado (ver 1Cor 12, 12ss).
Fonte: https://www.30giorni.it/
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