A SOBERBA: O VÍCIO CAPITAL QUE DÁ ORIGEM AOS DEMAIS PECADOS
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
A soberba, classificada como o primeiro dos
vícios capitais pelo místico medieval Hugo de São Victor, está na origem dos
demais vícios ou pecados capitais. Eles são chamados de “capitais” porque
derivam do termo latino “caput”, que significa cabeça, líder ou chefe. Segundo
o Catecismo da Igreja Católica, eles são chamados de capitais porque geram
outros pecados e vícios através da repetição de atos pecaminosos, resultando em
inclinações perversas que obscurecem a consciência e corrompem a apreciação concreta
do bem e do mal (CIC 1866). São sete vícios que lideram outros pecados
subordinados: soberba, inveja, ira, preguiça (acídia), avareza, gula e luxúria.
Tomás de Aquino explica que os vícios capitais são pecados que comprometem
múltiplos aspectos da conduta humana e limitam a autêntica liberdade, levando a
ações moralmente desordenadas (De Malo).
O Papa Francisco considera a soberba como uma
forma de “esplendor excessivo”, de autoexaltação, de presunção e vaidade que se
manifesta no desejo excessivo de superioridade e reconhecimento. O soberbo se
considera muito mais do que é na realidade, julga-se superior aos demais e
despreza os outros (Papa Francisco. Audiência Geral, 06/03/2024). Hugo de São
Victor descreve a soberba como o amor da própria excelência sem Deus,
comparando-a ao riacho que se separa da fonte e ao raio que se afasta do sol,
tornando-se secos e tenebrosos (Hugo de São Victor. Os cinco setenários).
Segundo o Papa Francisco, a soberba está
ligada ao pecado original e foi o catalisador para a queda de Adão e Eva. A
serpente os convenceu de que poderiam ser como Deus, levando-os a desobedecer e
a comer do fruto proibido. Esse ato de soberba rompeu a harmonia inicial com
Deus e introduziu o mal no mundo (Papa Francisco, Audiência Geral, 27/12/2023).
A soberba é, portanto, uma pretensão absurda de divindade, que destrói as
relações humanas e envenena o sentimento de fraternidade (Papa Francisco,
Audiência Geral, 06/03/2023).
As causas da soberba incluem o desejo
desordenado de autoexaltação, a falta de reconhecimento dos próprios limites
humanos e a recusa de reconhecer a superioridade de Deus. Segundo Tomás de
Aquino, a soberba é um pecado “supra-capital”, pois permeia e amplifica outros
pecados, como a vanglória, e está na raiz de todos os pecados (De Malo).
Hugo de São Victor explica que a soberba despoja o homem de Deus, levando à
inveja e à ira, que por sua vez despojam o homem do próximo e de si mesmo (Os
Cinco Setenários).
As consequências da soberba são severas. Além
de afastar o homem de Deus e dos outros, ela conduz à solidão e à
autodestruição. O Papa Francisco adverte que a soberba pode ser devastadora,
levando à ruína pessoal e à quebra das relações interpessoais (Audiência Geral,
6 de março de 2024 e 27 de dezembro de 2023).
O Papa Francisco enfatiza que a humildade é
essencial para combater a soberba e reconquistar a graça de Deus. Ele cita o
exemplo de São Pedro, cuja presunção inicial foi curada pela humildade após a
negação de Cristo (Audiência Geral, 6 de março de 2024). Tomás de Aquino sugere
que a prática das virtudes opostas, como a humildade e a caridade, é
fundamental para superar a soberba (Tomás de Aquino, De Malo).
Tomás de Aquino descreve a soberba como um
desejo desordenado de excelência própria, que leva o indivíduo a recusar a
superioridade de Deus e a buscar reconhecimento injusto (De Malo). Para
Tomás, a soberba é a mãe de todos os vícios, pois todas as ações pecaminosas,
direta ou indiretamente, podem ser rastreadas até um desejo de autoexaltação (De
Malo).
Hugo de São Victor relaciona a soberba com os
outros setenários como a primeira petição do Pai Nosso (“Santificado seja o
vosso Nome”), o primeiro dom do Espírito Santo (Temor do Senhor), a primeira
virtude (Humildade) e a primeira bem-aventurança (O Reino dos Céus). Ele
explica que a soberba, ao despojar o homem de Deus, impede-o de alcançar a
verdadeira santidade e comunhão com Deus (Os Cinco Setenários).
A soberba é um vício destrutivo que afasta o homem
de Deus e dos outros, levando à autodestruição. Através dos ensinamentos do
Papa Francisco, Hugo de São Victor e Tomás de Aquino, compreendemos que a cura
para a soberba está na humildade e na prática das virtudes opostas. A luta
contra a soberba é uma batalha contínua, mas essencial para a saúde espiritual
e a harmonia com Deus e com o outro.
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