A TEORIA DE GÊNERO
Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
A Declaração Dignitas Infinita,
publicada em 25 de março passado, tratou de temas complexos e muito atuais,
sempre em vista de assegurar que a dignidade humana seja preservada. Entre as
temáticas emerge a teoria de Gênero, que tem gerado reflexões e comportamentos
bastante polêmicos.
Em primeiro lugar, reafirma-se que cada
pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na
sua dignidade e acolhida com respeito, cuidando de evitar toda discriminação e
sobretudo as diversas formas de agressão e violência. A Igreja repudia o fato
de que, em alguns lugares, não poucas pessoas são encarceradas, torturadas e
até mesmo privadas da vida unicamente pela sua orientação sexual.
Essa postura de profundo respeito a cada
pessoa humana, contudo, implica em ensinar o que Jesus revelou como a Verdade
que Deus quer para todos os seus filhos e filhas. Por isso, a Igreja evidencia
os intensos pontos críticos da teoria de gênero, recordando o que afirmou o
Papa Francisco ao dizer que a teoria de gênero é perigosíssima, porque cancela
as diferenças na pretensão de tornar todos iguais. Causa grande dissenso entre
os cientistas e especialistas a tentativa de negar a maior das diferenças
possíveis entre os seres viventes: a diferença sexual.
A Igreja sustenta que o respeito ao próprio
corpo e àquele dos outros é essencial diante da proliferação dos pretensos
novos direitos, propostos pela teoria de gênero. Tal ideologia «propõe uma
sociedade sem diferenças de sexo e esvazia a base familiar>>.
É importante, nesse sentido, reler o que
escreveu o Papa Francisco na Amoris Laetitia sobre a ideologia
de gênero que “leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que
promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente
desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher. (…) Preocupa o
fato de algumas ideologias desse tipo, que pretendem dar resposta a certas
aspirações por vezes compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único
que determina até mesmo a educação das crianças. É preciso não esquecer que
sexo biológico e função sociocultural do sexo podem-se distinguir, mas não
separar. Por outro lado, a revolução biotecnológica no campo da procriação
humana introduziu a possibilidade de manipular o ato generativo, tornando-o
independente da relação sexual entre homem e mulher. Assim, a vida humana, bem
como a paternidade e a maternidade, tornaram-se realidades componíveis e
decomponíveis, sujeitas de modo prevalecente aos desejos dos indivíduos ou dos
casais” (AL 56). E o Papa alerta: “Uma coisa é compreender a fragilidade humana
ou a complexidade da vida, e outra é aceitar ideologias que pretendem dividir
em dois os aspectos inseparáveis da realidade. Não caiamos no pecado de
pretender substituirmos o Criador. Somos criaturas, não somos onipotentes. A
criação precede-nos e deve ser recebida como um dom. Ao mesmo tempo somos
chamados a guardar a nossa humanidade, e isso significa, antes de tudo,
aceitá-la e respeitá-la como ela foi criada”.
Num tempo tão complexo como o nosso, precisamos
respeitar as pessoas, mas continuar distinguindo os princípios das práticas e
necessidades. A moral e a ética não podem negociar princípios que pretensamente
sejam considerados culturais, pois há uma lei natural, que por mais rejeitada
que seja, existe e ainda determina a vida.
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